Aécio Neves, ex-presidente nacional do PSDB e senador por Minas Gerais, afastado por corrupção, foi gravado pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batista, dono da JBS. A propina entregue a Frederico Pacheco de Medeiros, primo de Aécio, foi revelada na mesma delação do empresário que apresentou graves denúncias e provas de que Michel Temer pedia propina para pagar pelo silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, preso por corrupção e condenado a 15 anos de prisão.
Além das imagens e áudios apresentados pelo empresário, a Polícia Federal filmou o primo de Aécio, Frederico Pacheco, pegando R$ 1,5 milhões em dinheiro com representante da JBS. O valor representa três quartos dos R$ 2 milhões que Aécio pediu sem saber que era gravado.
Pacheco foi preso no último dia 18 em sua casa, no condomínio de luxo Morro do Chapéu, em Nova Lima. Mas, muito antes de virar notícia nacional pela participação no esquema criminoso, Fred era conhecido dos eletricitários por sua passagem conturbada pela Cemig.
Em janeiro de 2003, Fred foi nomeado secretário adjunto do governo de Aécio Neves e permaneceu no cargo até 2006, quando saiu para atuar como tesoureiro na campanha para a reeleição do primo. Com a vitória do Aécio, reassumiu o cargo de secretário adjunto e transitou por alguns cargos dentro do governo.
Em 2011, quando Antônio Anastasia (PSDB) assumiu o governo com o apoio de Aécio Neves, Fred foi nomeado diretor de Gestão Empresarial da Cemig. Em 2014, Fred trabalhou como administrador financeiro da campanha de Aécio Neves à Presidência da República e só deixou a Cemig em 2015.
Na época, o Sindieletro denunciou que o então governador empregava nada menos que nove parentes na administração estadual.
O conceituado site Rede Brasil Atual denunciou que essa contratação de parentes por Aécio Neves poderia ser mais do que nepotismo e viabilizava um esquema sombrio.
Segundo o site, a Campanha do tucano para a presidência da República em 2018 teve tesoureiro 'de fachada' que era ex-ministro tucano José Gregori e um de verdade, agindo secretamente, que era Frederico Pacheco. O nome de Gregori sequer apareça na prestação oficial de contas apresentada pelo PSDB ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Ao mesmo tempo, Pacheco ocupava uma estratégica diretoria de uma estatal mineira, a Cemig, cargo que o levava a lidar com fornecedores da empresa e, portanto, potenciais doadores de campanha.
Sob o comando de Aécio, Anastasia e de Pacheco, a Cemig fez negócios ruins para a estatal e os mineiros. O Sindieletro denunciou várias vezes que as trocas societárias entre a Cemig e a empreiteira Andrade Gutierrez geraram prejuízos para a estatal.
Reforçando as suspeitas do Sindieletro, o site Viomundo publicou, na semana passada, que Frederico foi o articulador da venda de 1/3 das ações da estatal Cemig à empreiteira Andrade Gutierrez que foi um negócio da China para a empreiteira.
Para viabilizar o negócio, a Cemig comprou, em 2009, a participação da Andrade Gutierrez na Light do Rio de Janeiro por R$ 785 milhões, pagos à vista.
A Andrade Gutierrez, por sua vez, deu R$ 500 milhões de entrada na compra de 33% das ações ordinárias da estatal mineira, ficando o restante do valor da compra, no total de R$ 1,6 bilhão, para pagamento em 10 anos com a emissão de debêntures a serem adquiridos pelo BNDES, a juros e taxas facilitadas. De 2010 a 2013, a empreiteira recebeu mais de R$ 1,7 bilhão em dividendos da Cemig.
O poder da empreiteira na estatal não se restringe à troca acionária. Pelo acordo de acionistas da Cemig, a Andrade Gutierrez garantiu o controle da Diretoria de Desenvolvimento de Negócios e Controle Empresarial das Controladas e Coligadas e conduzia os investimentos da Cemig nas construções que ela, Andrade, era capacitada para fazer.
Sob influência da empreiteira, a estatal entrou em negócios desastrosos, que livraram a Andrade Gutierrez de prejuízos como a compra de 83% do capital social e 49% das ações da SAAG Investimentos, investimentos que eram do Grupo Andrade Gutierrez. A operação também desperta suspeitas para as investigações da Lava-Jato.
Pelas gravações divulgadas pela Operação Patmos, Frederico Pacheco de Medeiros, cogita fazer delação premiada revelando as confusões que o ex-governador o metia com freqüência. A gestão desastrosa da Cemig deve fazer parte dos fatos que Fred pode ajudar a elucidar.
Leia trecho da conversa entre o dono da Friboi e Aécio Neves apresentada em delação na Operação Patmos:
— Se for você a pegar em mãos, vou eu mesmo entregar. Mas, se você mandar alguém de sua confiança, mando alguém da minha confiança — propôs Joesley.
— Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação. Vai ser o Fred com um cara seu. Vamos combinar o Fred com um cara seu porque ele sai de lá e vai no cara. E você vai me dar uma ajuda do caralho — respondeu Aécio.
"Fred" enriqueceu no governo Aécio, diz O Globo
Frederico Pacheco é primo distante de Aécio Neves, mas sempre gozou da confiança do tucano.
Preso pela Polícia Federal depois de ser flagrado carregando malas de dinheiro com propina da JBS, Fred, como é conhecido, enriqueceu e prosperou durante o período em que o primo esteve no governo do Estado.
As informações são de reportagem de Tiago Herdy em O Globo.
"A eleição do tucano ao governo de Minas, em 2003, elevou-o ao cargo de secretário-adjunto de Estado, sob tutela de Danilo de Castro, o principal operador político dos anos Aécio. Esteve no cargo até 2006, quando assumiu o posto de secretário-geral do governador (2007-2010). Sua função era cuidar da agenda do tucano.
Em 2011, quando Antônio Anastasia (PSDB) assumiu o governo com o apoio de Aécio Neves, Fred foi nomeado diretor de Gestão Empresarial da Cemig. Em 2014, ele trabalhou como administrador financeiro da campanha de Aécio Neves à Presidência da República e só deixou a Cemig em 2015.
Dados oficiais apontam que seu salário no governo variou entre R$ 7,5 mil e R$ 10 mil. Mas ele, segundo O GLOBO apurou, enriqueceu plantando eucalipto no norte de Minas e sendo beneficiário de um programa do próprio governo, na mesma época em que era secretário de Aécio.
Pacheco recebeu de graça mudas, insumos e assistência técnica para plantar eucalipto em sua fazenda por meio de uma ONG credenciada no Estado para realizar projetos de reposição florestal, financiados por isenção fiscal da indústria madeireira.
Em seu primeiro ano no cargo, ele investiu R$ 33 mil na compra de um terço de fazenda da Agropecuária Rancho do Campo, localizada em Minas Novas, na região do Vale do Jequitinhonha. Dez anos depois, ele vendeu por R$ 2,4 milhões sua participação a um grupo de investidores."
Fonte: Brasil 247