A Fundação Clóvis Salgado, por meio Escola de Teatro do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart), apresenta a peça teatral Woyzeck 3G, uma releitura da peça Woyzeck, escrita pelo dramaturgo alemão Georg Buchner no século XIX. A apresentação, que marca a formatura dos alunos do Curso Técnico em Arte Dramática (turno da noite), será apresentada ao vivo com a introdução de alguns trechos registrados em vídeo. Ela poderá ser vista do dia 15 ao dia 19 de dezembro, às 20h, pelo Canal da FCS no Youtube. A direção é de Thálita Motta e a classificação indicativa é de 16 anos. Este evento possui correalização da APPA- Arte e Cultura.
Diferentemente da inacabada peça teatral Woyzeck, na qual a narrativa gira em torno de Woyzeck, um alemão miserável e desafortunado que sofre com as consequências de escolhas infelizes, Woyzeck 3G traça um paralelo com o momento contemporâneo.
Paralelos
Um ano marcado por uma pandemia global, instaurada por um vírus de fácil contágio, que acentuou ainda mais o cansaço derivado do emprego e escancarou a precarização das condições de trabalho. A realidade brasileira em meio à crise de 2020 foi o despertar para a criação de Thálita Motta, diretora da peça Woyzeck 3G e professora de Artes do Centro de Formação Artística e Tecnológica – Cefart.
A montagem foi concebida em parceria com os alunos do 3º ano do Curso Técnico de Teatro, que utilizaram da arte para relatar e refletir acerca do presente. “Inicialmente, a ideia era falar sobre o cansaço na atualidade pela perspectiva do trabalho, sobretudo ao que estamos chamando de indústria da exaustão. Essa indústria é baseada em aplicativos que tendem a facilitar serviços, condicionando o trabalhador à vínculos precários junto às grandes corporações”, conta a diretora da peça.
Após a escolha da temática, Motta e o grupo de alunos, durante processos de pesquisas para a criação, se depararam com a peça Woyzeck. Segundo a diretora, mesmo que a obra tenha sido escrita por um europeu em 1836, contém aspectos semelhantes com o atual momento brasileiro. Os alunos passaram a explorar tais similaridades, reescrevendo a peça, adaptando-a para os moldes contemporâneos.
Processo de criação e adaptação
Para a adaptação da peça, os artistas optaram pela realização de um processo imersivo pessoal. Eles escreveram três cartas: uma para o próprio passado de 10 anos, uma para o próprio futuro de 10 anos e uma para o recente passado do momento pré-pandemia. Por meio de repetidas sessões de leituras das cartas, foi possível escrever a peça mesclando características da estória original com as questões dos artistas, incluindo os alunos em formação, e em como a vida de cada um foi afetada pelos desafios atuais.
“Entendemos que todos os envolvidos no processo também eram “Woyzecks”, cada um com suas especificidades. Mapeamos nossa exaustão e nossos fracassos, mergulhando em um universo particular entre equipe, atrizes e atores”, revela Motta, ao lembrar que o olhar para o personagem foi um olhar para dentro deles mesmos.
O nome da peça foi adaptado, e Woyzeck passou a ser seguido de um 3G, sigla que se refere ao aprimoramento das tecnologias de telefonia móvel. Inicialmente, segundo Motta, não havia a intenção de atrelar ao nome da peça algo que remetesse ao ambiente remoto. A relação surgiu de forma inesperada, a partir das dificuldades de acesso aos equipamentos digitais e à internet enfrentadas pela equipe. “Resolvemos então brincar com isso, com a precariedade até mesmo da internet e do acesso aos dispositivos dessa modalidade”, explica a diretora.
O enredo também é marcado por algumas diferenças: na peça de 1836, a personagem Marie, meretriz esposa de Woyzeck, é subalternizada diante da figura do marido. Já na adaptação, nas palavras da diretora, a personagem ganhou mais autonomia e visibilidade.
Outra mudança é a introdução de uma personagem denominada O Arauto, mulher que trabalha fazendo bicos para sobreviver. Ela dá início à narrativa com um pressentimento de que uma mudança está por vir: o fim do mundo. Arauto assume a função de mensageira, criando o elo entre os outros personagens da peça. De acordo com Motta, a personagem faz uma alusão ao “sentimento de luto causado pelo momento pandêmico”, e foi construída a partir de uma mistura de três referências: o texto bíblico cristão Livro do Apocalipse, o filme O Sétimo Selo (1939), de Ingmar Bergman, e a obra audiovisual O Teatro e a Peste, de Antonin Artaud.
O formato da peça também possui características singulares. Adaptando a peça para o ambiente virtual, ela será apresentada em uma live pelo Canal da FCS no Youtube mesclando o ao vivo às gravações, por meio de uma edição que acontecerá simultaneamente à apresentação.
Ficha Técnica
Direção: Thálita Motta
Dramaturgia: Marcos Coletta
Atuação/Texto:
Joyce Athiê
Rafa Coutinho
Rodrigo Sander
Marina Merêncio
Ana Clara Martins
Bernardo Rocha
Nádia Fonseca
Ane Grube
Douglas Rosalino
Johanna Klosowski
Direção Coreográfica: Thales Brener Ventura
Assistência Direção Coreográfica: Douglas Rosalino E Bernardo Rocha
Preparação Corporal: Luciana Brandão
Direção De Texto: Ana Haddad
Direção De Atuação: Raquel Castro
Áudio: Pâmella Rosa
Produção: Ana Gabi E Paula Libéria
Direção De Arte: Thálita Motta, Janaina Rolla, Jéssica Luiza Cardoso, Maria Mariano E Bernardo Rocha
Mapa De Luz, Operação E Light Designer: Régelles Queiroz – Gato De Luz Iluminação
Montagem, Direção De Fotografia, Câmera: Kleber Bassa
Câmera E Assistência De Direção De Fotografia: Flor Barbosa
Transmissão: @acasadobassa
Preparação Vocal: Júlia Camargos
Curso Técnico em Arte Dramática do Cefart
Voltado para a formação do ator, criado formalmente em 1986, o Curso Técnico em Arte Dramática é reconhecido pela Secretaria de Estado de Educação. Oferece aos alunos atividades extracurriculares de treinamento e pesquisa em técnicas específicas – alguns também abertos a coletivos e ex-alunos ligados ao Cefart, nas áreas de Trilha Sonora, Projetos Culturais, Teatro Físico e Performance, Máscaras, Técnica Vocal e Leitura Dramática, ministrados por seu corpo docente. O curso tem reconhecimento nacional, comprovado pela crescente participação dos alunos do Cefart em festivais nacionais de teatro, nas programações de TV, no cinema (curtas e longas-metragens), na formação de novos grupos e no fortalecimento de outras carreiras tais como direção, cenografia, dramaturgia, iluminação, figurinos e adereços.