Em Valparaiso, terceira cidade mais populosa do Chile e sede do Congresso Nacional, aposentados deram seus relatos de como é viver sob o modelo de Previdência desejado, para o Brasil, por Jair Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes
Implementado em 1981, pela ditadura de Augusto Pinochet, o sistema chileno é considerado por especialistas um tremendo fracasso: apesar da promessa de que, capitalizando a poupança, as Administradoras de Fundos de Pensão (AFP) pagariam aos cidadãos cerca de 70% do valor de seus últimos salários, a taxa de retorno é de 33% para homens e 25% para mulheres. Em termos de valores, a coisa fica ainda pior: 80% dos aposentados recebem menos que um salário mínimo no Chile, que é considerado o suficiente para sobreviver, enquanto 44% recebem valores abaixo da linha da pobreza.
É o caso de Pascual Sanchez Espinosa, 72, que trabalhou a vida toda como pedreiro. “As AFP são como piranhas”, dispara. “São como vampiros, que te chupam e chupam”. O sistema imposto por Pinochet tornou-se obrigatório desde o primeiro dia de sua imposição, mas como Pascual começou a contribuir antes, ele recebe a sua pensão através do sistema antigo de Seguridade Social. “Vivo com 150 mil pesos ao mês”, conta – o salário mínimo, atualmente, é de 300 mil pesos. “Se eu recebesse pelo modelo das AFP, o valor seria de 80 mil pesos”, o que daria, segundo ele, “para tomar chá”.
Victoria del Carmen Sanchez, 67, é outro caso que reflete a realidade de oito em dez idosos do país. A aposentadoria dela, somada a do marido, garante apenas o pagamento do aluguel. Por isso, eles têm de seguir trabalhando. “Temos uma filha que estuda arquitetura, então, trabalhamos por ela”, explica. Victoria e Joel são ambulantes, vendendo artigos de brechó em uma praça de Valparaiso. “Estamos aqui das seis da manhã até às sete da noite, de segunda a sábado”.
Fotógrafo profissional durante toda a sua vida, Fernando Rios Palma, 69, foi sucinto quando questionado o que opina sobre a possibilidade de o Brasil adotar o modelo chileno: “Péssimo”. Fernando, que vive com cerca de 200 mil pesos por mês, valor que ele diz ser suficiente para assegurar a cesta básica, também não perdoa os “algozes” do aposentado chileno. “O que as AFP fazem é um roubo. Estão roubando as pessoas, é pura sacanagem das pessoas que manejam este sistema”.
Por Felipe Bianchi (Barão de Itararé) e Leonardo Severo (Hora do Povo)
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