POR NINJA, Isabel Côrtes
Há 120 anos, no dia 31 de outubro de 1902, nascia em Itabira, cidade no interior de Minas Gerais, o nono filho de uma das famílias mais tradicionais da região: Carlos Drummond de Andrade. Seu interesse pelas palavras e pela literatura começaram desde cedo e naquele tempo, mal sabiam que ele se tornaria um dos maiores escritores brasileiros. No dia 31 de outubro, na segunda edição do Festival Literário Internacional de Itabira e aniversário de Drummond, a memória e vida do poeta foram celebradas, com a exposição de suas obras e diversas homenagens.
Até o dia 6 de novembro o “Flitabira”, como o festival é chamado, pode ser acompanhado pelas redes sociais ou presencialmente em eventos e exposições espalhados pela cidade. O Festival conta com a curadoria de Afonso Borges e com a participação dos escritores Tom Farias e Antônio Carlos Secchin e do artista visual Pedro Drummond, neto do homenageado. Com público presente de 10 mil pessoas e 558 impressões nas redes em sua primeira edição, a expectativa para o segundo festival é ainda maior.
Cidade da Poesia
“Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira” .
Confidência do Itabirano, Carlos Drummond de Andrade
Cidade natal de Drummond, Itabira ficou conhecida como “Cidade da Poesia”. Além do Festival, também é onde estão a Casa de Drummond e seu Memorial. As atrações e homenagens tem como objetivo manter a lembrança do escritor viva.
Nesta edição do “Flitabira”, três exposições na cidade se destacaram. “Vasto Mundo” conta com textos de Drummond selecionados pelo seu neto, junto a fotografias de Adriano Fagundes, tiradas em vários países do mundo. “Muros Invisíveis” traz retratos de 42 moradores da cidade, capturadas pelo fotógrafo Yury Oliveira, expostas em painéis de três metros de altura na Praça Dr. Acrísio Alvarenga. Por último, “A Máquina do Poeta” contará com ilustrações de Nelson Cruz, com enredo escrito a partir de cartas trocadas entre o escritor Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade.
Além disso, a “cidade da poesia” também achou outra forma de homenagear o escritor e espalhar seus versos. Pelas padarias de Itabira, poemas de Drummond estampam os sacos de pão, trazendo três de suas obras: “Poesia”, “Toada do amor” e “Quero me casar”.
Versos Eternizados
“As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda” .
Os Ombros Suportam o Mundo, Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade foi um escritor e poeta modernista, capaz de transmitir mensagens através da poesia, desde sentimentos e sensações, a opiniões e críticas políticas. Em várias de suas obras, Drummond comenta sobre a sensação de estranheza diante do mundo e como se sentia diferente. Ainda quando mais novo, após discutir com um professor de português, foi expulso do Colégio Jesuíta, acusado por “insubordinação mental”. Em vida, provou o poder das palavras de gerar mudanças.
“cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte” .
Congresso Internacional do Medo, Carlos Drummond de Andrade
Escreveu sobre o medo que enxergava no mundo pós Segunda Guerra Mundial, sobre o sentido da vida e da morte, sobre amores e os sofrimentos que eles trazem. Drummond escreveu principalmente sobre o presente e a importância de vivê-lo:
“Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro” .
Mãos Dadas, Carlos Drummond de Andrade
Ao contrário da afirmação em seus versos, Drummond parecia enxergar a frente de seu próprio tempo. De alguma forma, mesmo depois de anos, suas palavras ainda permanecem atuais. Hoje, após sua morte, fica como inspiração e exemplo, não apenas em Itabira, como em todo o país.
“Mas as coisas findas muito mais que lindas, essas ficarão”. Como afirmado nos versos de “Memória”, de fato, elas ficaram. Estão eternizadas nos poemas, na história e no gigantesco legado que deixou. Suas palavras venceram o tempo e atravessaram gerações. Carlos Drummond de Andrade é sinônimo de cultura. O poeta do interior, com toda sua “insubordinação mental”, se tornou o maior poeta nacional do século XX e provou que ser diferente e fazer diferente deveria ser motivo de orgulho. Na memória de seus admiradores e na história, ele vive, com todas as suas “particularidades”. Ontem, hoje e, com sorte, por muitas gerações, o país o agradece e celebra enquanto grita, em suas próprias palavras: “Vai, Carlos! ser gauche na vida”.