A 11ª edição do Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte (FIQ BH) começou na quarta (3) e vai até o dia 7 de agosto, no Minascentro. O festival busca promover, valorizar e fazer crescer a cena dos quadrinhos na cidade, com programação gratuita. Nesta edição, o FIQ BH possui como temática “Quadrinhos e o mundo do trabalho”.
O evento, classificado como o maior festival latino-americano dedicado ao gênero, reúne diversos artistas locais, nacionais e internacionais. Durante cinco dias, a programação do FIQ BH inclui atividades diversas, como exposições, feira, exibição de filmes, oficinas e debates. Na edição deste ano, 189 mesas irão compor a feira de quadrinhos, com aproximadamente 300 artistas.
“O FIQ é um dos espaços essenciais para artistas independentes que produzem quadrinhos e artes gráficas, que, dentro da programação, fazem parte de uma estrutura chamada Artists' Valley, que proporciona uma troca mais direta com o público”, comenta o ilustrador e quadrinista, LaCruz. No Brasil, o Artists' Valley é conhecido também como Beco dos Artistas, ou seja, uma área onde os artistas podem vender seus trabalhos e desenhar esboços por encomenda.
“Quadrinhos e o mundo do trabalho”
A produção de histórias em quadrinhos engloba processos de pesquisa de tema, entrevistas, execução de projeto, divulgação e financiamento. Esses assuntos serão debatidos entre os participantes do FIQ BH, que também falarão sobre a profissionalização de artistas e o contexto socioeconômico do país.
Segundo LaCruz, o assunto é uma questão sensível. Sobretudo, pela não regulamentação da profissão e da cadeia de produção de arte.
“A não regulamentação da profissão, o aumento do preço do papel e de outros materiais, como tintas que têm seus aditivos derivados do petróleo, dificultam muito a produção, deixando um cenário no qual o artista precisa se manter em outro trabalho, muitas vezes em uma área distinta”, comenta.
Line Lemos, artista e quadrinista, concorda com LaCruz. Segundo ela, tais fatores empurram artistas para o mercado informal, sem direitos trabalhistas e com acúmulo de tarefas. “São muitas pessoas no mercado informal, mas existe público e demanda. Existe circulação comercial e de ideias, mas, como trabalhadores, a situação é muito precária”, aponta. “Estamos num contexto de uberização generalizada. É a mesma coisa no contexto dos quadrinhos. A maioria faz várias funções, sem direitos. Isso é uma realidade ampliada dos trabalhadores”, completa.
Além disso, Line cita a importância de debater essas questões. Ela sugere, por exemplo, que editais de incentivo à cultura são uma das saídas possíveis para melhorar a condição de vida dos artistas.
Algumas participações
LaCruz
O artista mineiro apresenta no FIQ BH “Quadrinhos viáveis” (Venas Abiertas, 2020), uma coletânea de tiras, “Legacy”, contemplado pela lei Aldir Blanc, e “Colapso – Quarentena Gráfica” (Peba Publicações, 2022), uma coletânea de quadrinhos de distintas regiões do Brasil.
Além disso, também apresenta seu projeto mais recente "Comigo-Ninguém-Pode", que traz como temática o afeto negro. O artista busca publicar esse projeto por meio de financiamento coletivo.
Line Lemos
Line apresenta um trabalho chamado “Fessora!”, em que narra sua experiência como professora na rede pública de Minas Gerais. “Falo sobre as condições de trabalho e afetos. Às vezes, os desafios são até parecidos”, diz.
Também apresenta o projeto “Fogo fato”, uma ficção científica sobre exclusão social e romance LGBTI+, e o projeto “Artistas brasileiras”, que conta com tiras sobre 30 mulheres da história da arte no Brasil.
Nilson Azevedo
No FIQ BH, o artista lança livro comemorativo dos 50 anos das tirinhas “A Caravela”, em que conta, de forma bem-humorada e irônica, as mazelas de uma tripulação que sai de Portugal em busca do novo mundo.
A produção foi uma das tirinhas de maior sucesso de Nilson Azevedo, sua primeira publicação foi em 1975. O livro de agora traz outras narrativas e reflexões, como desigualdades sociais, religião, liberdade e sexualidade. Conheça @nilsonazevedo_cartunista
Fabiano Azevedo, Erick Azevedo e Piero Bagnariol
“Santelmo Enfeitiçado” é um álbum em quadrinhos de criação coletiva de Fabiano Azevedo (roteiro), Erick Azevedo (lápis) e Piero Bagnariol (arte-final). O livro retrata aspectos históricos e culturais que contribuíram para a formação de Minas Gerais e de Belo Horizonte.
Os quadrinhos apresentam as transformações do estado e da capital na virada do século 19 para o século 20, e possui um velho feiticeiro, Santelmo, como protagonista. A trama tem como temas principais a chegada da terceira idade e consequências morais e sociais atreladas a essa etapa da vida. Além disso, também narra a transformação do mundo em um ambiente moderno, com a consolidação da industrialização e do capitalismo, pondo fim a um mundo amplo e “mais mágico”.
Fonte: Brasil de Fato MG