Controle rígido de horários, impedimento de ir ao banheiro, metas inalcançáveis e alto índice de adoecimento fazem parte da vida do profissional de telemarketing, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A empresa de teleatendimento Contax e seus clientes Bradesco, Itaú, Citibank, Santander, Vivo, Oi e Net foram alvo de uma ação fiscalizadora em sete Estados, durante um ano e meio, que resultou em 900 autos de infração e multas que, somadas, chegam a R$ 300 milhões. As razões foram a terceirização ilícita e o descumprimento da legislação que regula a atividade.
A ação também identificou um passivo trabalhista de R$ 1,2 bilhão, que seria devido aos funcionários se eles tivessem sido contratados como bancários ou funcionários de teles. Esses valores, entretanto, não estão impedindo que a legislação continue sendo desrespeitada. “As empresas pagam as multas, mas não mudam a forma de gestão”, afirma a auditora fiscal Odete Cristina Pereira Reis, da comissão criada para fiscalizar a empresa nacionalmente.
Para o diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações de Minas Gerais (Sinttel-MG), André Venturini, “o que vai fazer essas empresas mudarem é mexer no bolso delas. Estamos ajuizando ações coletivas, mas temos que aumentar o valor das multas”, avalia Venturini.
O juiz do trabalho e coordenador do Programa de Apoio às Relações de Trabalho e à Administração da Justiça (Prunart/UFMG), Antônio Gomes de Vasconcelos, porém, acredita que as partes devem buscar soluções negociadas. “Individualizar o problema e levar à Justiça apenas não vai resolvê-lo. Os sindicatos devem buscar espaços de diálogo que envolvam, inclusive, o empresariado. Todos devem colocar seus pontos para achar soluções consensuais”, diz Vasconcelos.
A Justiça do Trabalho, porém, foi a solução para Maria Sônia Reis, 37, que trabalhou por três anos e meio na Contax e venceu uma ação trabalhista em 2014. “Entre as dificuldades que enfrentei, a maior foi o monitoramento de qualidade, em que a forma do atendimento era avaliada. Se a ligação caía ou o sistema estava fora do ar, quem perdia ponto era eu. A empresa dizia que esses pontos iam sendo somados e eles poderiam demitir por justa causa”, afirma. “Eles pediam que os atendimentos fossem realizados em um tempo determinado, mesmo que os problemas fossem diferentes. Era impossível”, conclui.
Irregularidades
Problemas identificados pelo Ministério do Trabalho e Emprego:
- Metas inatingíveis- Parâmetros pouco claros para recebimento da remuneração (comissão)
- Nível de cobrança alto e constante
- Supervisão exagerada
- Cobrança de metas altas de produtividade
- Ameaça implícita ou explícita visando adesão do trabalhador aos objetivos organizacionais
- Estímulo abusivo à competição
- Controle das idas ao banheiro
- Proibição de saídas do posto de trabalho
- Exigência do cumprimento estrito do script
- Aplicação de penalidades por motivos banais
- Perda de premiações por falta justificada
- Índices de adoecimento altos, sendo os transtornos mentais e osteomusculares as principais causas