A segunda maior empresa do país não é propriedade de um empresário, mas sim do Estado e da população brasileira. Com uma renda anual de aproximadamente R$ 50 bilhões, a Petrobras sempre foi cobiçada por proprietários nacionais e internacionais. Mas sua popularidade entre os brasileiros assegurou que ela continuasse brasileira.
Uma pesquisa da Revista Fórum, de julho de 2020, mostrou por exemplo que 57% dos cidadãos brasileiros não querem a sua privatização. Porém, uma estratégia de “vender pelas beiradas”, como afirma o petroleiro Felipe Pinheiro, começou a ganhar corpo há pelo menos seis anos.
Fatiamento
Para entender o fatiamento, é preciso saber como funciona a cadeia de extração do petróleo e a produção dos seus derivados.
Tudo começa na extração, que é feita em geral em plataformas de petróleo no mar, segundo informações da Petrobrás.
Depois de extraído, o petróleo é enviado para as refinarias, onde será destilado, convertido e tratado. São as refinarias que transformam o petróleo bruto em diesel, gasolina, querosene de aviação, gás, lubrificantes e outros produtos.
No caso dos combustíveis, eles são agora entregues às distribuidoras, que vão entregá-los aos postos de gasolina. A última fase é a venda ao consumidor final.
Até pouco tempo, a Petrobras possuía toda a cadeia, da extração à venda. Porém, essa grande empresa foi sendo fatiada em: plataformas, refinarias, distribuidora e postos de gasolina, dentre outros ativos como a PBio (produtora de biocombustíveis, que corre risco de ser vendida, inclusive a usina de Montes Claros) e as transportadoras de gás.
Assim, a privatização está acontecendo aos poucos, para não criar um grande problema com a opinião da população brasileira.
Vendas em números
Estima-se que, apenas durante a pandemia, o governo colocou à venda a totalidade ou parte das ações de 53 campos, 39 plataformas, 13 mil quilômetros de gasodutos, 124 postos de gasolina, 12 unidades de geração de eletricidade e oito unidades de processamento de gás natural.
O levantamento foi feito pelo Sindicato dos Petroleiros Unificado de SP, reportagem de Guilherme Weimann, com base em teasers divulgados pela empresa no período.
A página Observatório Social da Petrobras, que analisa e divulga as movimentações de venda na empresa, indica que as principais privatizações de 2021 foram a venda de 34% que a Petrobrás ainda detinha da BR Distribuidora, por R$ 11,36 bilhões; a Refinaria Landulpho Alves RLAM, na Bahia, por R$ 9,33 bilhões; a Gaspetro, por R$ 2 bilhões; e a venda do Polo Alagoas por R$ 1,5 bilhão.
Postos BR na mão de estrangeiros
A venda da BR Distribuidora significou a venda da cadeia de distribuição de combustíveis e de todos os postos de gasolina BR. A Petrobrás detinha 37% das ações, que foram todas vendidas, finalizando sua participação na empesa. Após essa venda, 43% dos donos da BR são de estrangeiros.
Segundo o Observatório Social da Petrobrás, em seis anos, de 2015 a julho de 2021, a venda de ativos da Petrobras resultou em R$ 231,5 bilhões. As maiores compradoras dos ativos foram empresas do Canadá, França, Brasil e Noruega. Estados Unidos, Japão e Emirados Árabes também têm tido participação relevante na privatização.
Refinarias podem ter monopólio sobre gasolina
O petroleiro Felipe Pinheiro, trabalhador há 13 anos da Petrobras e atualmente diretor do Sindicato dos Petroleiros de Minas Gerais (Sindipetro-MG), analisa que, para Minas Gerais, preocupa a venda da Refinaria Gabriel Passos, a Regap, sediada em Betim (MG).
As refinarias tratam o petróleo e produzem os combustíveis, tendo a função de distribuir o produto em sua região.
“A venda das refinarias vai trazer prejuízos principalmente em relação ao preço dos combustíveis. Cada refinaria está sendo vendida para uma empresa, que vai ter o monopólio regional, vai ser a única a produzir combustível na região, e vai poder colocar o preço que quiser”, avalia o petroleiro.
A Regap está entre as oito refinarias que o governo quer vender até 31 de dezembro de 2021, junto com seus 500 quilômetros de tubulação que transportam petróleo do mar a Betim.
Fonte: Brasil de Fato, por Rafaella Dotta