Entrevista com o novo coordenador geral do Sindieletro



Entrevista com o novo coordenador geral do Sindieletro

O novo coordenador Geral do Sindieletro fala sobre os desafios para a categoria e a certeza de que Outra Cemig é Possível

Jefferson Leandro Silva é geógrafo de formação, eletricista de extra alta tensão, por profissão e sindicalista por vocação. Admitido em 1993, Jefferson começou sua carreira na Cemig como mecânico deveículos e equipamentos, no Quarteirão 10. Com o sucateamento do setor, a falta de perspectivas de crescimento, a vontade de prosseguir nos estudos e ainda perseguido por sua militância, conseguiu ser transferido em 2004 para a gerência de manutenção de ativos da transmissão, hoje MT/CN.
Jefferson tem pela frente, juntamente com toda a direção do Sindicato, a missão de resgatar o prestígio da categoria, lutar por melhores condições de trabalho e serviços de qualidade. Confira abaixo entrevista com o coordenador geral do Sindieletro.

Chave Geral: Quando você entrou para a direção do Sindieletro?
Jefferson Leandro: Em 2009 fui convidado para participar da Chapa Energia na Luta. Em 2012 o Sindieletro me deu o desafio de coordenar a Regional Metalúrgica, e em 2015, o Conselho Deliberativo me elegeu coordenador geral do Sindicato.

CG: Você assumiu a coordenação do Sindieletro praticamente junto com a nova direção da Cemig. Quais são os desafios para os trabalhadores?
JL: Lembro-me que em 1994, o então coordenador, Lúcio Guterres em uma assembleia na portaria do Q10, falou sobre cogestão como alternativa para a pauta trabalhista. O desafio colocado naquela época, e até hoje, é a luta contra as políticas neoliberais e por um Estado democrático. Acredito que a vitória de Fernando Pimentel foi positiva para a Cemig, mas ainda temos muitos desafios pela frente, não adianta mudar o governo se não mudar a gestão da empresa.

CG: Que desafios são esses?
JL: Primeiramente, as indicações da Andrade Gutierrez na direção da empresa são um indicativo de que não é possível um modelo de cogestão. Então, nosso desafio é fazer com que pauta dos trabalhadores seja respeitada e assumida pela Cemig. Mas, como a conjuntura é dinâmica, percebemos que ainda existem resquícios das políticas privatistas e neoliberais na empresa.

CG: Como assim, políticas privatistas?
JL: Percebemos um crescimento de empresas privadas na geração, um setor estratégico para a Cemig, mas, do nosso ponto de vista, esta ocorrendo uma privatização pela margem. A opção escolhida pela Cemig é de ser minoritária nos investimentos. A reestruturação produtiva no setor elétrico aponta a Elektro de Campinas, como referência a ser seguida na distribuição. Referência essa caracterizada pela baixa remuneração e pesquisa de clima satisfatória.

CG: O governo e o presidente da Cemig assumiram o compromisso de primarizar as atividades fins, mas as negociações não estão avançando, por que isso está acontecendo?
JL: A nossa principal meta é acabar com as mortes na Cemig. Este ano já contabilizamos quatro acidentes fatais. Não há dúvidas de que para acabar com essa trágica realidade, só existe um caminho, a primarização. Mas, infelizmente, ainda existem gerentes e superintendentes na empresa alinhados às políticas neoliberais que estão boicotando as negociações.

CG: E como estão as negociações nas mesas temáticas?
JL: Estão acontecendo reuniões das mesas temáticas sobre saúde e segurança, PCR e participação nos lucros. Também temos as negociações da mesa permanente e as reivindicações específicas dos técnicos de projeto, da rede subterrânea, do coletivo de mulheres, do banco de oportunidades e da mobilidade. Percebemos um processo de enrolação e boicote às reivindicações, a fim de fazer com que os trabalhadores se coloquem contra a atual gestão da empresa. Alguns gerentes e superintendentes estão utilizando a pauta trabalhista para fazer disputa política na Cemig.

CG: E sobre o pagamento do retroativo dos 3%?

JL: Reconhecemos a postura do presidente da Cemig, que se comprometeu a não recorrer ao TST e incorporar os 3% aos salários dos trabalhadores. Em minha opinião isso é mais importante que o próprio retroativo, porque tem reflexo na Forluz, no Plano de Saúde, nas férias e na aposentadoria. Então, do ponto de vista financeiro, a incorporação dos 3% foi de extrema importância para a categoria. Já em relação ao pagamento do retroativo a Cemig vem alegando dificuldades financeiras e as negociações estão se arrastando desde março.

CG: Há um anseio na categoria por mudanças, mas a demora em resolver os problemas deixa uma sensação de continuidade?
JL: Exatamente! Entendemos que a atual gestão se comprometeu em fazer a negociação permanente, mas os gestores indicados para as mesas ainda estão presos ao modelo da gestão passada, o que tem inviabilizado o processo. Temos que discutir o ACT de 2014 e vários outros problemas. Paralelamente a isso, temos que discutir um modelo de Estado que garanta o crescimento da Cemig D e GT e acabar com as mortes na empresa. Possivelmente teremos que fazer muitas outras paralisações até conquistar a Cemig que tanto almejamos.

CG: Outro ponto que está deixando a categoria indignada são as designações anunciadas pela Cemig.
JL: O Sindieletro já havia manifestado junto à categoria, com o diretor de gestão empresarial e com o presidente da Cemig, de que não adianta mudar o governo se não mudar a gestão da empresa. A política desenvolvida na gestão passada foi de militarização. Acreditamos em outro modelo de gestão que propicie a melhoria das relações dentro da empresa. Percebemos que as últimas designações geraram grande insatisfação na categoria. Há trabalhadores afirmando, inclusive, que o perfil dos gestores piorou. O Sindieletro tem mais esse desafio, o de exigir que gerentes e superintendentes com perfil arbitrário e autoritário, que perseguem e assediam trabalhadores não ocupe os cargos de gestão.

CG: A luta do Sindieletro é pela primarização, mas enquanto isso não é realidade, o que está sendo feito para melhorar as condições de trabalho dos terceirizados?
JL:O Sindieletro, como Sindicato cidadão, apoia as greves dos trabalhadores terceirizados. Está muito claro para nós que a terceirização é a responsável pelas mortes e mutilações, mas infelizmente isso ainda não está claro para a Cemig. Reivindicamos a participação nas comissões de análise de acidentes, onde há uma tentativa clara de culpar os trabalhadores. A fiscalização dos contratos é imprescindível para garantir que não haja violações aos direitos humanos e trabalhistas.

CG: Quais são as ações da nova direção para os aposentados?
JL: Nossa perspectiva é que o sindicato consolide e intensifique suas políticas para os aposentados. Em 2013 fizemos uma grande mobilização para impedir a separação do Plano de Saúde entre ativos e aposentados. Sabíamos que o resultado disso seria uma evasão enorme de aposentados que não teriam condições financeiras de arcar com as mensalidades. No curso natural da vida são os aposentados que utilizam mais o Plano de Saúde, então, para manter o equilíbrio financeiro, é necessário que permaneça um plano unitário.
Vamos continuar vigilantes e na luta para impedir qualquer tentativa de retirada de direitos dos aposentados e propostas da empresa de reduzir custos pós-trabalho. Para isso, é essencial o envolvimento dos aposentados nas lutas.

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