A produção industrial brasileira caiu pela quarta vez consecutiva e isso tem tudo a ver com a piora de vida da classe trabalhadora do país. As quedas indicam que a economia vai de mal a pior, e os reflexos podem ser sentidos tanto na alta taxa de desemprego, como também na redução da produção das indústrias, que sofrem com a falta de insumos, com a insegurança com os rumos da política do país que interferem na cotação do dólar e nas oscilações da Bolsa de Valores e, consequentemente, no bolso do trabalhador que não ganha em dólar, nem tem ações, mas é vítima da especulação financeira.
A economia não anda sozinha, como acredita o governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL), que se limita a defender a diminuição do tamanho do Estado e não faz nenhum investimento para o desenvolvimento do país.
E os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) provam que o governo está errado e que quem vai pagar a conta, mais uma vez, é a população brasileira.
De acordo com dados do IBGE, divulgados na semana passada, em setembro a produção industrial brasileira caiu 0,4%, na comparação com o mês anterior. Com o desempenho, a produção da indústria ficou 3,2% abaixo do patamar de fevereiro de 2020, no cenário pré-pandemia. Também está em nível 19,4% inferior ao recorde, registrado em maio de 2011.
Embora a pandemia tenha contribuído para este recuo com a falta de componentes e insumos, a economia mundial já deu sinais de retomada, mas o Brasil continua em marcha ré. E o maior gargalo é a falta de políticas públicas de incentivo ao setor, que o país tinha desde 1930, mas que Michel Temer (MDB-SP) desmontou e Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, continuam desmontando.
“As paradas técnicas por atrasos de insumos, como acontece com as montadoras no país por falta de chip, por exemplo, impactam nas encomendas de determinadas cadeias”, explica o economista da Unicamp, Marcio Pochmann.
“Embora a indústria automobilística não empregue tanto trabalhador como antes, por causa da robotização, ela alimenta as empresas que produzem vidros, borrachas, o comércio nas revendedoras e outros negócios, assim a retomada do emprego e renda fica mais difícil”, pontua o economista.
Com o fim dos incentivos de produção por parte do Estado, o Brasil passou a importar mais determinados produtos por não compensar produzir aqui, mas, com a desvalorização do real, as empresas, diminuíram ou suspenderam suas compras, por não ter confiança de que o dólar vai baixar, diz Pochmann.
De acordo com o economista, o resultado é a queda da produção industrial porque, por um lado, não se tem incentivos para produzir no país; e de outro, a alta da moeda norte-americana desestimula a importação de insumos para produção.
“A pandemia já devia ter ensinado os nossos governantes. Exemplos aqui e no mundo não faltam. Os Estados Unidos tiveram que importar máscaras contra a Covid por que sua única empresa, a 3M, produzia na China”, conta.
Para Pochmann, o Brasil precisa voltar a estimular a sua produção interna, mas estamos assistindo o inverso, não há demanda do consumo, os custos decorrentes da desvalorização do real estão altos e a inflação segue subindo.
“A desvalorização da moeda só é positiva quando força o aumento da produção interna, mas a trajetória da desmontagem de incentivos à atividade industrial, desde o governo Temer, fez 30 grandes empresas deixarem o Brasil”, diz o economista.
A esperança do Brasil são as próximas eleições para tentarmos salvar o que restou- Marcio Pochmann
“Estamos cada vez mais dependendo do exterior porque o atual governo não tem visão de futuro, e isso desorienta a decisão de se investir no país a médio e a longo prazo”, complementa.
“Acabaram com a política industrial setorial, por entenderem que o problema do Brasil é o Estado e, que somente o setor privado poderia gerar a expansão econômica necessária, mas eles não conseguiram provar”, conclui Marcio Pochmann.
Fonte: CUT Brasil