Por: José Ricardo Sasseron*
Soa estranho que dirigente de um dos maiores fundos de pensão brasileiros venha comemorar publicamente o fato de estar investindo em ativos no exterior mais de 6% das reservas dos participantes vinculados à entidade que administra. Ainda mais quando se divulga que os investimentos diretos estrangeiros no Brasil caíram nada menos que 62,1% em 2020, segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), órgão da ONU que deveria promover a integração dos países em desenvolvimento na economia mundial.
É no mínimo questionável que fundos de pensão canalizem parte da poupança do trabalhador brasileiro para investimentos no exterior, quando assistimos à desindustrialização cada vez mais acentuada no Brasil, quando estamos à beira de um apagão por falta de investimentos em geração de energia, quando temos grande déficit de investimentos em infraestrutura, quando nos faltam empreendimentos de alta tecnologia enquanto o mundo desenvolvido investe na indústria 4.0.
Estes e outros segmentos da economia comportam investimentos de longa maturação, que podem casar muito bem com os passivos previdenciários de longo prazo dos fundos de pensão, desde que ofereçam remuneração adequada e os riscos sejam controlados e mitigados. A poupança acumulada pelo trabalhador poderia ser investida aqui mesmo, para dinamizar a economia, gerar emprego e renda e assim conseguir retornos adequados, em vez de submeter estas reservas ao risco cambial, direcionando recursos para países que já tem poupança suficiente. O crescimento da economia brasileira pode, ao final, melhorar o retorno dos ativos e os ganhos dos fundos de pensão e assim multiplicar a poupança do trabalhador.
*José Ricardo Sasseron foi presidente da Associação Nacional de Participantes de Fundos de Pensão e de Beneficiários de Saúde Suplementar de Autogestão (Anapar), diretor de Seguridade da Previ e diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região