As mulheres de Minas Gerais pretendem ocupar as ruas no dia 8 de março, data que marca o Dia Internacional de Luta das Mulheres. Tendo realizado ações simbólicas nos últimos anos, devido à pandemia de covid-19, neste ano, a Frente Brasil Popular Minas Gerais convoca um protesto de rua na capital mineira, na Praça da Liberdade, às 16:30.
“Neste ano, nosso ato vai ser nas ruas, com muitas mulheres. Nos últimos meses, já vivenciamos atos de rua, não só em Belo Horizonte, mas no Brasil todo”, explica Bruna Camilo, uma das organizadoras da manifestação.
O motivo para organizar um ato de rua é também, segundo Bruna, a piora da conjuntura geral pela qual o país passa. “As mulheres estão morrendo pela violência de gênero, por conta da fome, do racismo, da LGBTfobia”, lamenta.
As organizadoras da manifestação avaliam que essa piora está ligada ao governo federal, de Jair Bolsonaro (sem partido), e ao governo mineiro, administrado por Romeu Zema (Novo). Assim, as principais bandeiras são a denúncia de ambos os governantes, sob o lema “Bolsonaro Nunca Mais”.
Atos também acontecem em cidades do interior de Minas. A divulgação está disponível no Instagram @frentebrasilpopularmg.
Cultura presente
O 8 de março deste ano, em Belo Horizonte, terá a participação de grupos culturais da cidade, que já vinham integrando manifestações feministas de forma bem forte desde 2018. Em 2019, por exemplo, mais de 30 blocos de carnaval construíram e compareceram ao 8 de março.
Para o ato deste ano, já estão confirmadas a dupla Dois Lados, o grupo de samba Batuque Beauvoir, a carnavalesca Carol Nogueira (bloco Abalô-caxi) e as cantoras Amorina, Izza Gabi Salomão (bloco Pisa na Fulô) e Amanda Coimbra (bloco Lavô tá Novo).
“O ato será um cortejo de alegria e luta, com muita música, batucada, anunciando que seguimos vivas e firmes”, antecipa Lara Sousa, integrante do grupo de ciclistas Terça das Manas, do bloco Truck do Desejo e aliada da Caminhada das Lésbicas e Bissexuais de BH.
“O 8 de março mobiliza mulheres de variadas categorias sociais, culturais e econômicas, porque entendemos que nossos direitos e conquistas sempre são constantemente ameaçados”, completa Lara.
Como a política influencia o dia a dia das mulheres?
De cada 100 mulheres negras no Brasil, pelo menos 20 estão à procura de um emprego. Entre as mulheres não negras, o patamar é de 13 brasileiras desempregadas para cada 100. Essas informações são do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) sobre o ano de 2021.
Além do triste índice, são as mulheres as mais impactadas com o aumento do preço dos alimentos, do aluguel, do gás, da gasolina e de contas domésticas, como a energia elétrica. Isso porque são elas as que ficam com a maior responsabilidade pela sobrevivência dos filhos e da casa.
A maioria dos motivos que levaram a essa realidade foram decisões políticas, avalia Sônia Maranho, integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Por exemplo, o preço da energia – que tende a subir ainda mais – está ligado à privatização do sistema Eletrobrás, o preço do gás e da gasolina tem relação com a venda de partes da Petrobrás.
Além disso, o governo vem tomando decisões para enfraquecer a educação pública e a saúde pública (Sistema Único de Saúde). O que, mais uma vez, deve cair nos ombros delas.
“O governo Bolsonaro foi o pior para as mulheres desta geração”, diz Sônia. “Piorou a vida das mulheres para fazer comida, aumentou os acidentes domésticos, porque não tem gás para usar nos fogões, e aumentou a fome”.
“Em defesa das nossas vidas”
A Articulação Nacional de Mulheres Bolsonaro Nunca Mais lançou um manifesto no início de fevereiro concordando com a avaliação de Sônia. Diante do atual cenário, a carta conclama que não só mulheres, mas todos que se preocupam com a situação do país atuem para denunciar o governo federal e a figura de Jair Bolsonaro.
“Somos milhões e de todos os cantos deste país! Nós nunca saímos das ruas contra Bolsonaro e nelas continuaremos em defesa das nossas vidas”, anuncia. A carta é assinada por mais de 40 movimentos e associações.
Fonte: Brasil de Fato (BH), por Rafaella Dotta