300 LGBT+ sofreram morte violenta no Brasil em 2021, 8% a mais do que no ano anterior: 276 homicídios (92%) e 24 suicídios (8%). O Brasil continua sendo o país do mundo onde mais LGBT são assassinados: uma morte a cada 29 horas.
Esses dados se baseiam em notícias publicadas nos meios de comunicação, sendo coletados e analisados pelo Grupo Gay da Bahia, que há 40 anos divulga essas tristes estatísticas, cobrando do governo políticas públicas que erradiquem essa mortandade que vai muito além desses números, pois representam apenas a ponta de um iceberg de ódio e sangue.
Panorama Nacional
O Nordeste foi a região onde mais LGBT tiveram morte violenta, 35% dos casos, seguida do Sudeste (33%). É a primeira vez que o Sudeste concentra tantos óbitos: mais do que a soma total das demais regiões, Sul, Norte e Centro-Oeste. Não há regularidade sociológica que explique essa e muitas das ocorrências, como também, por exemplo, a redução das mortes nos meses de primavera.
São Paulo é o estado onde ocorreu o maior número de mortes, 42 (14%), seguido da Bahia com 32, Minas Gerais com 27 e Rio de Janeiro, 26. Acre e Tocantins notificaram apenas um assassinato e Roraima foi o único estado sem registro. A capital mais perigosa para o segmento LGBTI+ em 2021 foi Salvador (12 mortes), seguido de São Paulo, com 10 ocorrências. Salvador, com aproximadamente 3 milhões de habitantes, registrou duas mortes a mais que São Paulo, 12 milhões, risco portanto de um LGBT baiano ser vítima de morte violenta é 3\4 superior ao de um paulistano.
Segundo o professor Luiz Mott, fundador do GGB: “Nós sempre dizemos que Bahia deve rimar com alegria e não com homofobia! Um povo tão alegre, hospitaleiro, que aplaudiu quando Daniela Mercury e Mãe Stela de Oxossi se assumiram lésbicas, mas que ao mesmo tempo é capaz de tanta violência contra os LGBT. Triste Bahia!”
Perfil das vítimas
Com exceção de 2020, quando pela primeira e única vez a morte violenta de transgêneros ultrapassou a dos gays, também em 2021, como nas últimas quatro décadas, os gays são em termos absolutos, o grupo mais atingido pela violência letal. Em 2021, os homossexuais masculinos voltaram novamente a ocupar o primeiro lugar no ranking de mortes de LGBTI+: 153 gays (51%), seguidos das travestis e transexuais com 110 casos (36,67%), lésbicas com 12 casos (4%), bissexuais e homens trans 4 casos (1,33%), uma ocorrência de pessoa não binária e um heterossexual, este último confundido com um gay.
Quanto à cor das vítimas de mortes violenta, 28% eram brancas, 25% pardas, 16% pretas e apenas uma indígena. No tocante à idade, a vítima mais jovem foi uma travesti de 13 anos e o mais velho, um gay de 76 anos. 47% dos LGBT estavam na flor da idade, entre 20-39 anos.
Segundo o Prof. Domingos Oliveira, responsável pela coleta e sistematização desses dados, “o descaso da polícia e desleixo dos jornalistas em registrar com precisão as informações básicas indispensáveis para identificação dos LGBT assassinados, é um aspecto da homotransfobia cultural que macula nossa sociedade, além de dificultar uma análise mais profunda e completa dessas mortes violentas.”
Ao todo foram citadas 44 profissões\ocupações, incluindo praticamente todos os setores econômicos, demonstrando a presença de indivíduos LGBT em todas as classes sociais e níveis de renda, de profissionais liberais a recicladores, predominando travestis profissionais do sexo e gays professores, estudantes e cabeleireiros.
No que se refere à causa mortis, foram documentados 276 homicídios (92%) e 24 suicídios (8%). Registramos 34 gays (11%) que sofreram latrocínio, infração penal mais grave que os homicídios, já que nesses casos, os assassinos mataram para roubar os pertencentes da vítima.
Quanto ao local dos assassinatos, 36% ocorreram na residência do LGBT, 32% em logradouros públicos, mas também em estabelecimentos comerciais, locais ermos, na orla marítima e matagais. Via de regra gay e lésbica são mortos dentro de casa enquanto travestis e transexuais na rua.
Nestas sangrentas e covardes execuções, 28% foram perpetradas com armas brancas (faca, facão, tesoura, enxada – chegando até a 95 facadas!), em seguida, 24% com armas de fogo, 21% de espancamento e estrangulamento, incluindo asfixia, tortura, atropelamento doloso.
Para o ativista Toni Reis, da Aliança Nacional LGBTI+, parceiro do GGB nessa pesquisa, “os requintes de crueldade como muitos dessas execuções foram cometidas, demonstra o ódio extremo dos criminosos, que não contentes em matar, desfiguram a vítima lavando no sangue derramado sua homofobia assassina.”
Na conclusão, o Grupo Gay da Bahia indica cinco propostas a curto prazo para erradicação das mortes violentas de LGBT no Brasil, destacando a urgência de educação sexual e de gênero em todos níveis escolares, aplicação exemplar dos dispositivos legais de criminalização do racismo homotransfóbico, políticas públicas que garantam a cidadania plena desse segmento e apelo para que as vítimas de tais violências reajam e denunciem sempre todo tipo de discriminação.
O prof. Marcelo Cerqueira, Presidente do GGB enfatiza: “é vital que todos os LGBT sigam atentamente as dicas sugeridas no texto em anexo, “Gay vivo não dorme com o inimigo”, sugestões práticas, um verdadeiro manual de sobrevivência para não ser a próxima vítima.”
Fonte: Portal Vermelho, por Cezar Xavier