Nascido no Paraná, em 1946, considerado um dos mais importantes artistas gráficos do Brasil, como muitos brasileiros, Elifas conviveu com o analfabetismo, foi operário e militante político perseguido pela ditadura.
Iniciou sua carreira aos 14 anos e, sem instrução formal mas com muito talento e ousadia, tornou-se referência no meio intelectual e artístico do país por falar e retratar a realidade brasileira. E, sem nunca ter passado por um banco de escola, Elifas Andreato chegou a ser professor de Artes na Universidade de São Paulo (USP).
Contribuiu não só para a cultura nacional, mas também para o entendimento e fortalecimento de nossa identidade brasileira, e encantou com seus desenhos muitas gerações. Imprimindo uma personalidade única a cada trabalho apresentado. É possível dizer-se que não há brasileiro que, da década de 1970 para cá, nunca tenha tido contato com uma obra de arte sua: uma capa de disco (ele foi um inovador neste item), uma capa de livro, um cartaz de teatro, o cenário de uma peça ou de um show….
“A arte se liga à história da vida, da minha vida, das vidas assemelhadas à minha, e serve para contar o que entendemos que seja o mundo, a justiça, a liberdade”, resume o artista
Elifaz Andreato, que ajudou a construir a festa dos 90 anos do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e, na conversa com o Vermelho, expressou sua felicidade em contribuir na construção de um país diferente e avançado. Segundo ele, sua história de luta se mistura à da militância. “Uma vida profissional dedicada ao combate”.
Leia a entrevista:
Nesse momento de festa, no qual o PCdoB completa 90 anos, como você vê sua contribuição nessa história. Que papel você tomou para compor esta peça?
Elifas Andreato: Toda a minha vida profissional foi dedicada ao combate, então a minha arte me aproxima muito do Partido. E quando isso começou? Começou lá no combate ao Regime Militar. E depois essa parceria se afinou em outras frentes, especialmente nas causas defendidas pelo Partido. Então, bandeiras como a luta pela redemocratização do país, do aperfeiçoamento desse espaço, tão importante para nós foi algo que tentei retratar na minha militância e em minha arte. Sempre atendi o que a história me convidou a fazer, sempre estive ao lado das causas que representaram a sociedade.
De onde vem sua inspiração? Como consegue colocar política em seus traços?
O Ferreira Gullar tem uma frase inspirando que pode responder a sua pergunta. “A arte só existe porque a vida não basta”. Penso que vou por aí. Todos nós de certa forma fazemos arte, ou mesmo trabalhamos com comunicação, estamos sempre enfrentando desafios. E cada novo trabalho é um desafio.
Sabendo que você atua em diferentes trabalhos, como o Elifas artista traduz suas ideias?
Bom! O Elifas artista é o cara que aprendeu a encontrar a tradução certa em uma única imagem para um conteúdo que é sempre mais importante que o meu trabalho. Eu fiz da minha arte uma devoção. E sempre que fiz arte, sempre fiz pensando, humildemente, na minha contribuição, na tradução dos acontecimentos. E sempre levando em conta que a obra maior não era minha, mas sempre dos outros. E nunca me imaginei fazendo outra coisa que não fosse o que faço.
E quando as pessoas dizem que meus desenhos possuem componentes fortes, que elas se emocionam, é porque, como um brasileiro típico, vivo nossa realidade e tento colocá-la em traços, de forma a expressar através da arte o que acontece de forma concreta.
Você falou da realidade concreta. É daí que parte sua inspiração?
Penso que a inspiração é um aprendizado, com o passar do tempo a gente descobre a maneira de fazer, os caminhos para atingir nosso objetivo. Penso que me coloco muito nas coisas que me disponho a fazer, todos os lances que compõem a minha experiência acabam compondo de certa maneira minha arte. Penso que para realizar qualquer coisa a gente tem que se entregar, tem que ter doação. Pra mim, tudo na vida depende de paixão de acreditar no que se está fazendo. E tudo que eu fiz até hoje, fiz por convicção.
Fonte: Portal Vermelho, por Joanne Mota