Confira abaixo o editorial do Jornal do Brasil, publicado no último dia 04. O JB, que recentemente voltou a circular como impresso, além de manter-se na internet, é um dos raros jornais brasileiros que mantém a dignidade de refletir com os leitores os impactos e os interesses que há por trás do projeto neoliberal do governo Temer de entregar as riquezas dos brasileiros à iniciativa privada, sobretudo às multinacionais, retirar direitos dos trabalhadores e impor muito sofrimento ao povo com o fim e/ou a redução e congelamento dos gastos públicos, entre outras mazelas.
Eletrobras: crime de lesa-pátria
O governo Temer, sob a falsa tese de que o Estado brasileiro não possui recursos para investir no sistema elétrico, quer privatizar o sistema Eletrobras, a fim de que capitais privados aloquem os recursos necessários e, assim, atendam à necessidade de aumento de geração de energia no país. Tese absolutamente falsa.
Em primeiro lugar, se o Estado brasileiro carece de recursos para investir em todos os setores essenciais, encontram-se facilmente os motivos na transferência de recursos públicos para a banca privada, representados por centenas de bilhões de reais nos últimos 20 anos, que poderiam ter sido investidos em nossa incipiente infraestrutura. Eis um dos principais motivos do subdesenvolvimento e baixo crescimento econômico no Brasil. Vale dizer, transferência de recursos públicos patrocinada pelos governos Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Nenhum dos três governos enfrentou o poder do oligopólio formado pelas três famílias que dominam o crédito no Brasil.
O que deseja o governo Temer, ao delegar ao ministro Moreira Franco as negociações para a privatização desse patrimônio público que representa o sistema Eletrobras? Simplesmente transferir, de forma vil, o monopólio de um setor estratégico em qualquer país que se diga independente. Não temos conhecimento de que em países europeus a geração de energia esteja nas mãos de empresas privadas. Ao contrário. Na Itália – e vamos parar apenas neste exemplo –, a Enel, que é estatal, neste momento disputa com outras empresas a compra da Eletropaulo. Em outras palavras, privatizar é tão bom, que uma estatal italiana disputa a aquisição de uma empresa brasileira...
A rigor, não somos contra a generalização da privatização. O que não podemos concordar é que um governo com forte rejeição da opinião pública, no caso de Temer, já em seus estertores, tenha a audácia de propor a venda do mais valorizado ativo do Estado brasileiro, sem consultar a sociedade e, mais grave, alienando, reiteramos, o controle da empresa por preço absolutamente vil, o que já configura a ilegalidade da operação. Recentemente, viu-se no mercado a venda de uma universidade privada pelo valor de cerca de R$ 5 bilhões, o mesmo preço sugerido pelo ministro Moreira Franco para a venda da Eletrobras. Será que a companhia vale o preço de uma escola privada?
A tese do governo Temer de que privatizar a Eletrobras é fundamental para a recuperação e capacidade de novos investimentos da empresa, não traduz a realidade, pois não faltam capitais no mundo para investir em geração de energia. Falta, no caso brasileiro, credibilidade a esse governo para buscar os investidores, que hoje, na verdade, querem distância de nosso país, em decorrência da corrupção e da falta de garantia jurídica. Repetimos: não faltam fontes de financiamento. Falta credibilidade.
O que está por trás da operação que sugere uma verdadeira doação do patrimônio público, ninguém sabe. Aliás: sabemos, sim. São os enormes interesses de poderosos grupos estrangeiros aliados a banqueiros brasileiros que desejam, tão somente, ocupar o monopólio de geração de energia no Brasil. Nada mais que isso. Privatizada, os novos donos nada farão, nada vão investir. Vão, simplesmente, energizar seus capitais ao impor tarifas exorbitantes ao consumidor. Temer e Moreira já não estarão no poder e ninguém mais se lembrará desse operação que estão engendrando contra os interesses, mais uma vez, do povo brasileiro. Saberão o Congresso e a Justiça impedir esse ato que se configura em crime de lesa-pátria? A conferir.