Eletricitários entrarão em greve contra demissões e desmonte da Eletrobras



Eletricitários entrarão em greve contra demissões e desmonte da Eletrobras

O Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE) formalizou na quinta-feira (27) à direção da Eletrobras que a categoria entrará em greve por 72 horas, a partir da zero hora do dia 9 de Agosto.

As entidades sindicais anunciaram que cumprirão com o previsto na legislação vigente no que concerne o direito de greve, mantendo os serviços essenciais à população.

“Estamos à disposição da Empresa para negociar o atendimento aos serviços considerados essenciais. Informamos que, posteriormente, encaminharemos as escalas do turno ininterrupto de revezamento para o período da referida greve”, dizem em documento.

Os trabalhadores e trabalhadoras da empresa, que foi privatizada no ano passado pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), elencam uma série de motivos que os levaram à paralisação. São eles:

O descumprimento de cláusulas do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) 2022.2024, assinado com a Eletrobras e homologado no Tribunal Superior do Trabalho (TST);

O descumprimento de cláusulas anunciadas pela Eletrobras através de Comunicação oficial e apresentação aos trabalhadores, pelo iminente descumprimento de outras cláusulas do ACT;

Devido ao Assédio Moral Coletivo instaurado na Empresa, que coagiu os trabalhadores a aderirem ao Plano de Demissão Voluntária (PDV).

“Chamamos a atenção ainda que, a continuidade dos desligamentos dos trabalhadores através do PDV 2022 e do PDV 2023, colocam em risco de colapso o sistema elétrico brasileiro, bem como a segurança dos trabalhadores do quadro próprio que permanecerem na empresa, dos terceirizados e da população em geral”, diz outro trecho do documento entregue.

Esta não é a primeira vez que os eletricitários denunciam a perseguição aos trabalhadores e o desmonte que a atual direção, que visa apenas o lucro, está fazendo na empresa, o que, segundo eles, pode provocar imensos prejuízos aos consumidores de energia elétrica do país.

Segundo eles, as demissões em massa promovidos por meio de Pedido de Demissão Voluntária (PDV), que pelo Acordo Coletivo de Trabalho deveria ocorrer até o próximo ano, estão sendo antecipadas e não dão oportunidade para que os mais experientes possam passar o conhecimento a uma nova geração de trabalhadores. Com isso, o risco de acidentes em linhas de transmissão e de alta voltagem, e de corte de fornecimento de energia, são imensos.

Outra denúncia da categoria é a perseguição política que está sendo feita dentro da Eletrobras aos dirigentes sindicais que mesmo tendo estabilidade no emprego para poder exercer a defesa dos direitos dos trabalhadores, estão sendo ameaçados de demissão.

Ameaças de demissão por justa causa

O caso mais recente foi do engenheiro elétrico Ikaro Chaves, diretor da Associação dos Engenheiros e Técnicos do Sistema Eletrobras (Aesel), e que tem estabilidade até abril do ano que vem, por outro mandato sindical que já se expirou. No entanto, o engenheiro recebeu um aviso de demissão por justa causa, no dia 14 deste mês, em que a direção da Eletrobras o acusou de quebra do código de conduta por sua opinião nas entrevistas que concedeu e nos artigos que escreveu contra a privatização e em defesa da reestatização da companhia.

Após pressão dos sindicalistas e apoios de políticos de partidos de esquerda como a presidenta do PT Gleisi Hoffmann, a Eletrobras desistiu da ação pela demissão por justa causa. Porém, sentindo-se pressionado e antevendo que seria demitido após este período de estabilidade, Ikaro Chaves entrou no PDV.

“Foi uma vitória parcial porque eu e mais de 1500 trabalhadores fomos coagidos a aceitar o PDV para não sairmos de mãos abanando depois de tantos anos de empresa. Por outro lado, o apoio e a mobilização serviram para manter as prerrogativas dos demais dirigentes sindicais que atuam na Eletrobras

O PDV prevê a demissão de 20% do quadro de funcionários, cerca de 2.500, os aposentados e os chamados “aposentáveis” , num primeiro momento. Esses já foram demitidos. Um novo PDV, com demissão de mais 20% do quadro funcional, pelo acordo coletivo, deveria ser posto em prática até 2024, mas a Eletrobras vem antecipando as demissões, o que gera, segundo os eletricitários, uma preocupação com o atendimento à população.

"Esta segunda leva de 1.577 demitidos vai deixar a empresa até o dia 31 de agosto e mais uma vez são trabalhadores experientes que saem sem sequer ter a oportunidade de passarem seus conhecimentos aos mais novos, numa área sensível como a energética”, lamenta Ikaro Chaves.

Por Rosely Rocha, da CUT Brasil

 

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