O eletricitário Denilson Castro, de 50 anos, tem uma longa história na Cemig. Desde a década de 90, atuando na cidade de Patos de Minas, é um dos trabalhadores que constroem o legado da estatal. No entanto, uma doença incurável entrou em seu caminho: a miocardiopatia dilatada. Por complicações da doença, como falta de ar, arritmias e iminência de morte súbita, Denilson foi aposentado por invalidez em 1999.
“Eu possuía diversas limitações antes do transplante. Não podia comer muito sal e o consumo de água era limitada a apenas 1 litro, por exemplo. E atividade física, nenhuma”, explica. 14 anos depois, em dezembro de 2013, fez o transplante cardíaco. Depois disso, “apesar do uso dos imunossupressores, levo uma vida praticamente normal.”
Mais cinco anos se passaram e, em 2018, Denilson passou pela perícia no INSS e foi desaposentado. Mas a gestão da Cemig, em maio de 2019, o demitiu. “Entrei com ações contra a Cemig e o INSS. Em primeira instância, em outubro, fui aposentado novamente. Em janeiro de 2021, fui desaposentado definitivamente. Então, começou a ação contra a Cemig, que alegou dificuldade financeira para minha demissão.”
Denilson acredita que foi tratado com leviandade pela gestão da empresa, que não levou em conta seu tempo de serviço e condição médica, tampouco sua idade. “O sentimento é de representar apenas um número. Sentir que o prêmio da minha árdua luta vivendo com o sentimento de morte iminente foi a minha demissão. A empresa não se preocupou sobre como um desempregado com quase 50 anos iria voltar ao mercado de trabalho. Transplantados desaposentados enfrentam grandes problemas nesse sentido. A alegação da Cemig foi leviana, pois alegar dificuldade financeira como justificativa para minha demissão é descabido”, conta.
Em outubro de 2021, a juíza, em primeira instância, acatou a alegação da Cemig. Em janeiro de 2022, Denilson ganhou em segunda instância. Ele foi reintegrado no dia 15 de março e voltou a trabalhar no dia 11 de abril. A Cemig recorreu da decisão e perdeu. Agora, seu plano é seguir trabalhando com o mesmo comprometimento de sempre. “Fui muito bem recebido pela equipe de Patos de Minas, onde estou lotado. Voltei de coração aberto para aprender novos processos que me forem passados. Nunca farei nada menos do que me dedicar para que meu trabalho seja sempre primoroso”.
Luta contra doença incurável e bandeira da doação de órgãos
“Aos 25 anos fui diagnosticado com miocardiopatia dilatada, uma doença que enfraquece o músculo cardíaco e impede que ele realize suas funções. Eu trabalhava na Transmissão e fui transferido de Patos de Minas, pois não haviam mais vagas no escritório. Fiquei em Uberaba até 1999, quando aposentei.
Na época, meu coração ainda tinha a fração de ejeção (medida da força do bombeamento do coração) em 47. O normal era acima de 58, mas ainda era muito bom. Com o passar do tempo, disseram que eu não podia fazer atividade física. Meu coração foi enfraquecendo cada vez mais. Em 2010 eu piorei muito. Queriam me colocar na fila de transplante em São Paulo, mas voltei para Minas Gerais e me consultei em Belo Horizonte. A médica quis melhorar minha medicação antes de me colocar na fila de transplante, e eu fiquei três anos bem.
Já em 2013, meu coração tinha apenas 15% de força. Eu pesava 51kg, porque o fígado não conseguia funcionar corretamente. O médico de Patos me disse que não havia mais solução para o meu problema naquela cidade. Fui transferido para Belo Horizonte de avião, porque ir de ambulância era perigoso para mim. Chegando lá, fiz os exames e entrei na fila do transplante.
No dia 30 de dezembro, me avisaram que a doadora apareceu. Naquele momento, minha pressão era 8 por 5 e meu coração tinha força de 15%. Dois dias depois, acordei com a pressão em 12 por 8 e mais de 60% de força no coração. Apesar dos imunossupressores, tenho uma vida comum. Ando de bicicleta e realizo minhas atividades. Hoje, trabalho também em função disso: faço parte do Instituto Sou Doador, que conta a história de transplantados e pessoas na fila no Brasil todo, para conscientizar sobre a importância da doação de órgãos”.
Confira o site do projeto: https://www.soudoador.org/