Não é segredo para ninguém que, em 2018, o governador Romeu Zema foi eleito declarando voto, já em primeiro turno, no ainda candidato Bolsonaro. Aproveitando a onda bolsonarista, a campanha de Zema adotou o bordão Bolsozema. De lá para cá, a sua gestão mostrou estar alinhada realmente à gestão federal.
Zema mantém a mesma política de ataque à saúde, à educação e às empresas públicas aplicada pelo governo Bolsonaro. Por que então, carne e unha, alma gêmeas, demoram tanto para reafirmar esse novo apoio nas eleições de 2022?
Durante a crise da covid-19, o governador de Minas Gerais, para além de um excesso de omissão, seguia evitando críticas e confrontos com a política genocida aplicada pelo presidente. Não foi apenas uma política de “boa vizinhança”, a gestão meritocrática do Partido Novo não só procrastinou na luta contra a pandemia, como também criticou quem aplicava política para salvar vidas. Em 2020, Zema declarou, em uma videoconferência com a XP, que é necessário que o coronavírus "viaje um pouco” e criticou prefeitos que impuseram restrições.
No desprezo às pautas ambientais, chegou a colocar uma prima de chefe de mineradora em órgão que delibera sobre a mineração na Serra do Curral. Não é atoa que o ex-ministro de meio ambiente, Ricardo Salles, que queria passar a boiada, era também do Partido Novo.
Seguindo a lógica bolsonarista contrária à ciência e à educação, o governo de Romeu Zema investiu R$ 1,6 bilhão a menos na saúde e R$ 2,7 bilhões a menos na educação, em 2019, em relação ao que é exigido pela Constituição. Esses dados foram apresentados pelo relatório do Ministério Público de Contas do Estado de Minas Gerais (MPC-MG).
O governo estadual também se nega a pagar o piso salarial aos trabalhadores da educação e tenta insistentemente privatizar a CEMIG e a COPASA.
Com tanto alinhamento ideológico e econômico, por que o bordão Bolsozema não voltou a aparecer ainda?
A aliança entre Zema e Bolsonaro, mesmo que pareça natural, enfrenta um dilema na eleição deste ano. O partido do governador Romeu Zema (NOVO) tem um pré-candidato próprio no pleito nacional, Felipe D’Avila. Fato semelhante não impediu, em 2018, que Zema abandonasse a candidatura de Amoedo e declarasse voto em Bolsonaro em primeiro turno.
Desta vez, no entanto, Bolsonaro tem a maior rejeição nas pesquisas e o pré-candidato a presidência Lula é líder intenções de voto e apoia o pré candidato ao Governo de Minas Gerais, Alexandre Kalil (PSD). Assim, a dobradinha Bolsozema pode não ser a melhor estratégia para reeleger o Governador de Minas Gerais.
As semelhanças entre Zema e Bolsonaro são inúmeras e a alcunha de “Bolsonaro de sapatênis'' é justa. A decisão entre optar por renovar os votos da aliança Bolsozema ou ter uma pseudo neutralidade se resume apenas em estratégia eleitoral. Estruturalmente, a real aliança entre o governador de Minas Gerais e o governo Bolsonaro é econômica e ideológica.
Fonte: Brasil de Fato (MG), Editorial