Trabalhadores e consumidores estão preocupados com o resultado do leilão: o povo pagará a conta da privatização mais uma vez?
Os R$ 12,1 bilhões que o governo federal vai colocar no caixa com o leilão das quatro usinas da Cemig repercutiram no mercado financeiro, mas essa não é, nem de longe, a maior preocupação dos mineiros.
De um lado, os consumidores estão mais interessados em saber o que vai acontecer com a conta de luz. Do outro, os funcionários temem demissões.
Os vencedores do leilão assinarão os contratos no dia 10 de novembro. O pagamento da bonificação da outorga está previsto para 30 de novembro, mas o repasse para as tarifas não será imediato. O consultor da Enecel Raimundo Batista explica que o aumento virá só a partir de 2019 e será pouco significativo porque será diluído para todo o mercado nacional.
“Em 2017 e no ano que vem, 100% da energia dessas usinas privatizadas continuarão atendendo às cotas que vão para as distribuidoras. Portanto, o consumidor do mercado cativo não será em nada afetado. A partir de 2019, 30% dessa energia será direcionada para o mercado livre e, então, as distribuidoras terão que compensar com novas compras, o que vai afetar todos os consumidores do Brasil, não só os de Minas Gerais”, explica Batista.
Desemprego
O coordenador geral do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais (Sindieletro-MG), Jefferson Teixeira da Silva, afirma que, além do aumento na conta de luz, a perda das usinas vai refletir na qualidade dos serviços. “A Cemig vai perder capacidade de investimento, pois a receita com a geração será reduzida”, observa.
O Sindicato ainda não sabe o que vai acontecer com os funcionários diretos, que hoje são entre 70 e 80 em Jaguara, São Simão, Miranda e Volta Grande. “Por enquanto, só podemos afirmar que a situação trouxe incertezas. Mas, independentemente de quem seja o dono, o Sindicato vai negociar e lutar pelos direitos dos trabalhadores”, ressalta.
Valor de mercado cairá 30%
O consultor da Enecel Raimundo Batista estima que a Cemig deve perder um terço de seu valor de mercado. “Hoje, a geração é responsável por cerca de 70% da receita. Se essas quatro usinas geram 40% da energia, significa que o valor da empresa cairá cerca de 30%”, calcula.
Ele explica que, embora as usinas tenham sido arrematadas por R$ 12,13 bilhões, a perda da Cemig é maior. “Isso é o que valem os 30% que, a partir de 2019, serão vendidos no mercado livre. Se pensarmos em 100% da energia, a perda seria três vezes maior, ou seja, R$ 36 bilhões”.
Fonte: Jornal O Tempo