À véspera do recesso parlamentar, após mais de seis meses de uma gestão conservadora e de retrocessos, uma bomba caiu sobre a cabeça do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A denúncia do doleiro Alberto Yousseff de que Cunha recebeu propinas de cinco milhões de dólares na Lava-Jato, e a acusação de que ele fez ameaças contra as famílias do doleiro e do consultor Júlio Camargo, causaram desespero no presidente da Câmara, que reagiu bem ao seu estilo, com ameaças de vingança contra o governo federal e anuncio de rompimento e oposição à presidente Dilma. Imediatamente, mandou abrir nada menos que 11 pedidos de impeachment contra a presidente.
Ficam perguntas que não querem calar: a Câmara dos Deputados será a mesma após o recesso? O PMDB vai permitir que Cunha decida pela oposição e se vingue? Os deputados que até então apoiaram a pauta conservadora de Cunha vão permanecer defendendo quem é investigado na Lava-Jato? O Supremo Tribunal de Justiça não vai tomar nenhuma atitude diante da denúncia de que o deputado atrapalha as investigações?
O presidente da Câmara, ao longo dos últimos seis meses, acumula desafetos com a Polícia Federal, com a Procuradoria Geral da República e com os movimentos sociais e sindicais. O seu pronunciamento em cadeia nacional, na sexta-feira (17), gerou protestos por todo o país.
Um semestre de horrores
Nos primeiros seis meses da gestão autoritária de Cunha, o brasileiro viu uma série de propostas conservadoras serem desengavetadas. A pauta incluiu a aprovação do PL 4330/2004, que libera e amplia a terceirização nas empresa, e a proposta de uma contra reforma política que mantém privilégios para os políticos. Sem considerar a vontade do povo, Cunha conseguiu emplacar o financiamento privado das campanhas políticas, e, por tabela, incentivar ainda mais a corrupção, pois empresas que financiam candidatos cobram a fatura depois.
Vale lembrar que a campanha eleitoral de Eduardo Cunha foi a segunda mais cara entre todos os 513 deputados federais, conforme dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele arrecadou R$ 6,8 milhões de empresas privadas.
Manobras
Quando não conseguiu a aprovação de projetos de seu interesse, Cunha fez manobras antiéticas e de desrespeito ao Regimento Interno da Câmara, a exemplo da reforma política e a redução da maioridade penal. Na primeira votação os projetos foram derrotados, mas Cunha conseguiu uma segunda votação, de forma irregular, e passou a sua vontade.
As posturas de ditador de Eduardo Cunha:
- Propôs o pagamento do auxílio transporte para as esposas dos deputados. Só recuou após grande mobilização popular.
- Engavetou a CPI dos Planos de Saúde (Bradesco Saúde é um dos financiadores de sua campanha).
- Anistia de R$ 2 bilhões em multas às operadoras de planos de saúde.
- Criou Comissões para a revisão do Estatuto do Desarmamento e do chamado Estatuto da Família (propõe o termo: família é formada só por homem e mulher).
- Criação do Dia dos Heterossexuais.
- Orçamento impositivo, obrigando o governo a garantir recursos às emendas dos deputados.
- A ida de Cunha à CPI da Petrobras foi aplaudida e blindada por deputados aliados.
- Engavetou o pedido de sindicância na Corregedoria da Câmara contra ele próprio e outros deputados investigados na Lava-Jato.
- Aprovou a construção de um shopping na Câmera.
- Fechou o plenário da Casa às lideranças dos movimentos sindical e social. Usa a polícia legislativa para reprimir os protestos.
- O programa "Câmara itinerante" é autopromoção e garante viagens de deputados e servidores com despesas acima de R$ 400 mil.
- Contratou a consultoria (Kroll) a preços milionários, para investigar, em sigilo, as denúncias da Lava-Jato.
- Usou o espaço da Câmara para cultos religiosos.
- PEC da Bengala, que estende a idade de aposentadoria compulsória dos ministros do Supremo de 70 para 75 anos.