Na quinta-feira, 23, o economista Márcio Pochmann esteve na Escola Sindical 7 de Outubro, para debater as privatizações, suas consequências para a população e trabalhadores. Ele abordou sobre a atual política do governo federal para vender as estatais brasileiras. O Sindieletro, presente, participou do debate e trouxe a realidade de Minas, onde o governador Romeu Zema segue a mesma cartilha de privatizações no país. A discussão levantou várias críticas contra as privatizações.
Depois, Pochmann compôs a mesa de debates da audiência pública da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa de Minas. Aguarde, o Sindieletro vai publicar a cobertura do debate de Pochmann na Escola Sindical.
Abaixo, confira a matéra do portal da ALMG sobre a participação do economista.
Reforma previdenciária proposta piora situação trabalhista
Sem a geração de empregos formais de boa qualidade, a Previdência Social no País não terá sustentabilidade, alertou na quinta-feira (23/5/19) o economista Márcio Pochmann, para quem o Brasil está assistindo a uma destruição do sistema previdenciário e das relações de trabalho nunca antes vista na história.
Presidente da Fundação Perseu Abramo, Márcio participou de audiência pública da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), solicitada pela deputada Beatriz Cerqueira (PT) para discutir políticas estratégicas na geração de empregos para a sustentabilidade da Previdência Social,
Segundo destacou o economista, em 2016, ainda no governo de Michel Temer, teve início um processo de desmonte da previdência e das relações de trabalho que assumiu agora dimensões mais drásticas. Citando dados do IBGE, Márcio frisou que um a cada três brasileiros está procurando emprego, e isso numa economia que encolheu 5% em relação a 2014.
Falta de políticas públicas que promovam crescimento econômico aumenta o desemprego
Ainda conforme o IBGE, o número de desempregados no País é de 13 milhões, chegando a quase 28 milhões se forem computados ainda aqueles que têm horas subutilizadas, que desistiram de procurar emprego ou que executam tarefas familiares que dificultam a busca por uma vaga.
“Ao contrário do que diz o governo, a reforma da previdência como está pretendida vai piorar esse quadro”, prevê o economista, ao destacar que o governo quer deslocar o atual regime previdenciário, hoje financiado pelo trabalhador, pelo empresário e pelo governo através dos impostos, para o regime de capitalização, em que cada trabalhador passará a financiar sua aposentadoria.
“Numa situação de desemprego, a aposentadoria passar a depender só do trabalhador torna o horizonte pior do que o que já temos hoje”, advertiu o pesquisador, alertando, ainda, para mudanças trazidas pela recente reforma trabalhista.
A tendência, expôs ele, é que haja uma destruição das relações de trabalho no mundo corporativo, tornando-as relações de comércio entre as partes, e do próprio direito do trabalho. O sistema passará a ser cada vez mais contratualista, com destaque para o trabalho autônomo e a terceirização.
“Com isso empregos que eram de boa qualidade passam a ser piores, e com remuneração inferior, o que não gera contribuição para a previdência”, ressalta o economista.
Poupança não devolvida
O presidente da Fundação Perseu Abramo ainda questionou a justificativa oficial para a reforma da previdência, de que ela é deficitária, ao fazer uma retrospectiva de como funcionou o sistema no País ao longo da história.
Citou, por exemplo, que em 1966 foi criado o então INPS, modelo que vigorou até a Constituição de 1988. Na época, com uma população jovem se mudando da área rural para a urbana, o modelo se mostrou superavitário, expôs Márcio.
“Mas para onde foi esse dinheiro do trabalhador que foi poupado? Para o desenvolvimento nacional, financiando obras como a Transamazônica, pontes e usinas. E essa poupança nunca foi devolvida aos trabalhadores”, criticou.
Com a Constituição de 1988, passou-se a adotar o modelo vigente até hoje, em que foi agregada ao sistema de aposentadoria e pensão também a seguridade social. Instituiu-se um financiamento mais amplo, com a criação de novas taxas e tributos para dar sustentação à seguridade, tais como aquelas oriundas da Loteria Esportiva, do comércio exterior e do faturamento de empresas.
“Mas os governos desde então tratam o sistema como um caixa único”, critica o economista, para quem falar em deficit da previdência social se torna “estranho” nesse contexto.
Deputadas e pesquisadores defendem reação
“Estamos diante de um governo que não conversa sobre a geração de emprego e sobre políticas públicas, que parte da falsa permissão de que a reforma da previdência vai resolver tudo”, afirmou a deputada Beatriz Cerqueira para defender a necessidade de a sociedade discutir estratégias para o enfrentamento do desemprego e do desmonte da previdência.
“O momento pede uma reação das pessoas para além do Estado, para buscar alternativas”, acrescentou a deputada Andréia de Jesus (Psol), para quem é necessário sobretudo rebater as justificativas de que há deficit da previdência.
Apesar das críticas à reforma previdenciária encaminhada pelo governo federal ao Congresso Nacional, economistas e sindicalistas também alertaram que não basta à população dizer que é contra a ideia, sendo preciso contribuir com propostas.
“Isso é o mais difícil, pois somos mais reativos do que propositivos, o que é um problema. É preciso humildade para ver que falta reação diante da mais grave crise do capitalismo brasileiro”, pontuou o presidente da Fundação Perseu Abramo, sugerindo que sindicatos, movimentos e grupos sociais atuem politicamente nesse sentido, de forma mais estratégica.
O professor de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Juarez Rocha Guimarães, fez alertas no mesmo sentido. “Sem uma coalização democrática popular unificada e organizada que apresente alternativas estaremos condenados ao fatalismo desse processo destrutivo que está em curso no País”, prevê ele.
Educação
Já a presidente da Central Única dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e do Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais, Valéria Morato, acrescentou que sem investir mais em educação o País não atrairá empresas e nem terá empregos de qualidade.
“O governo não tem projeto de desenvolvimento. Sem emprego e sem salários não haverá previdência”, disse ela, destacando que no próximo dia 30 haverá um movimento pela educação e contra o contingenciamento de recursos anunciado pelo Ministério da Educação, com concentração às 17 horas, na Praça Afonso Arinos, no Centro de Belo Horizonte.