O Sindieletro lançou, no último dia 02, o documentário Dublê de Eletricista, na Assembleia Legislativa de Minas, durante audiência da Comissão de Direitos Humanos. O documentário aborda a terceirização no setor elétrico brasileiro sob o ponto de vista dos trabalhadores. Eles mostram suas condições de trabalho e de saúde e segurança e é uma produção conjunta do Sindieletro com outras instituições, como o Ministério Público do Trabalho, a Universidade de São Paulo, UFRJ e Universidade Estadual Paulista, entre outras.
O jornalista do Sindieletro, Benedito Maia, e o economista do Dieese, Carlos Machado foram responsáveis pela direção e produção do filme,
O deputado Rogério Correia (PT) foi o autor do requerimento que garantiu o lançamento do filme na Assembleia, com a aprovação do presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Cristiano Tadeu da Silveira (PT). Rogério Correia anunciou o encaminhamento de cópias do documentário para o governador de Minas, Fernando Pimentel, o presidente da Cemig, Mauro Borges, as Presidências da Câmara, do Senado e da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), e da diretoria geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
O deputado também aprovou requerimento solicitando à Presidência da Casa a exibição do documentário durante plenária da Assembleia.
Estiveram presentes na audiência os eletricitários mutilados em acidentes a serviço da Cemig, Lucio Nery de Souza (um dos protagonistas do documentário), Nilton Alves Maia e Milton Ribeiro Marcelino. Os nomes dos trabalhadores mortos este ano a serviço da Cemig e os mutilados foram pronunciados por Rogério Correia, para que ninguém os esqueça. Morreram este ano a serviço da Cemig, Cláudio Gomes da Silva, Leean Leenyker Silva Ferreira, Pedro Murilo Santos Batista e Antonio de Souza Barbosa, e sofreram mutilação, Raimundo Custódio e Adilson Marques de Brito.
Voz aos trabalhadores
Dublê de Eletricista dá voz aos trabalhadores e ao movimento sindical por meio de entrevistas com os eletricistas da Cemig, Marco Aurélio Cristo e Douglas da Silva, o dirigente do Sindieletro, José Henrique de Freitas Vilela, e o eletricitário vítima de um acidente que lhe deixou mutilado, Lucio Nery de Souza. Todos protagonizam uma só abordagem: suas experiências e lutas contra a terceirização.
Benedito Maia destacou que o documentário pode ser uma referência para o governador Fernando Pimentel finalmente assinar o acordo de primarização. “Há anos o Sindieletro denuncia, inclusive nesta Casa, os acidentes gravíssimos de eletricitários a serviço da Cemig, mas nada ainda foi feito. Chegou a hora da solução definitiva”, afirmou.
O também diretor do documentário, Carlos Machado, afirmou que o documentário é um ato político e os entrevistados são os verdadeiros protagonistas, a equipe de produção apenas criou as condições para os personagens exporem suas experiências. “Dublê de Eletricista é um processo criativo coletivo e seus personagens são mais importantes que toda a equipe, elas tiveram voz para mostrar a sua verdade”, ressaltou.
O diretor do Sindieletro, José Henrique Vilela, lembrou que ele tem 27 anos de Cemig e se sente muito entristecido em ver que a produção de energia hoje é feita a custa de gente que paga pela vida, de gente que é obrigada deixar suas casas para a produção de energia. “Esse documentário é uma possibilidade da sociedade discutir essa situação e fazer intervenção para por fim à terceirização”. Segundo José Henrique, é papel do Sindieletro sempre denunciar e debater os dramas dos trabalhadores para criar as condições de reflexão, mas são os cidadãos os verdadeiros agentes da mudança, por meio da pressão e mobilização.
Direito à vida é direito humano
O técnico de segurança e membro do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador, Alessandro José Nunes da Silva, disse que, lançar o filme em uma audiência da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas foi uma decisão acertada. “Estamos falando de vida, não do valor econômico, a vida é um direito básico de todos nós, a vida é um direito humano”, justificou.
Integrante do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), Sônia Mara salientou que, “ver essa realidade de acidentes com eletricitários nos dá mais responsabilidade para construirmos estratégias conjuntas com o movimento sindical em defesa dos trabalhadores e do povo oprimido”.
A presidente da CUT Minas, Beatriz Cerqueira, lembrou do PL 4330, aprovado pela Câmara dos Deputados e que libera geral a terceirização. “Nossa luta contra o PL foi dura, sofremos comportamento desrespeitoso daqueles que defendem a terceirização. Acho que esse documentário deve chegar a todos aqueles que nos agrediram, quem sabe, eles comecem a entender a nossa luta e se sensibilizem com a realidade de mortes e mutilações de eletricitários”.