Os aumentos nos preços dos alimentos, bebidas e produtos de higiene e limpeza estão, desde o ano passado, esvaziando os carrinhos de supermercados dos trabalhadores e trabalhadoras, cujos salários estão tendo reajustes menores do que a inflação. Menos compras ainda estão fazendo os aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que não têm mais aumento real do benefício desde que Jair Bolsonaro (PL) assumiu a Presidência da República, em 2019.
A combinação de preços altos versus salários arrochados levou as famílias brasileiras a reduzirem em 5,6% o número de produtos de uma cesta de compras com 120 categorias, em 2021. E ainda assim aumentaram os gastos em 8,6%, em relação a 2020, segundo pesquisa da consultoria global Kantar.
A diminuição na lista de produtos comprados é uma regra que já vem sendo cumprida pela manicure Luciene Pinho e pelas aposentadas Maria Francisco e Marisa de Souza.
Casada com um filho adolescente, Luciene, que mora em Guarulhos e trabalha na capital, conta que sempre optou pelas marcas mais baratas para economizar e fazer o dinheiro render. Desde o ano passado, no entanto, começou a cortar o básico e essencial para a conta fechar, mas diz que mesmo assim está difícil. “Comecei cortando a carne, depois reduzi a quantidade de café, os produtos que mais subiram nos últimos meses. Depois fui reduzindo e até frango passei a comprar menos ou trocar por ovos”, diz.
“Também deixo de comprar legumes, como cenoura e tomate, quando sobem demais”, acrescenta a manicure que lamenta porque tem problemas de saúde e precisa de uma dieta rica em legumes e verduras, “algumas impossíveis de comprar por enquanto”, afirma.
Segundo ela, nem trabalhando mais horas e juntando o seu ganho com o do marido, que é pintor de carros, está dando para manter o padrão de vida de antes. “A gente nunca foi de sair para comer fora, até mesmo porque não tinha condições, mas uma pizza uma vez por mês, dava, agora nem isso”, diz Luciene.
As aposentadas Maria Francisco, de São Paulo, e Marisa de Souza, de Botucatu, que tinham um padrão de vida que permitia idas a restaurantes e a compra de supérfluos como geleia e salmão fizeram uma mudança mais profunda ainda na hora das compras, além de trocar marcas de produtos tradicionais pelas mais baratas.
“Na geladeira de casa já não tem mais iogurte, pudins, sucos de caixa, geleias e salmão. A despensa não tem mais nada ‘supérfluo’ como amendoins, nozes, bolachas e frutas secas como damasco. Também diminuímos o consumo de carne e a pizza, que antes era semanal, passou a ser mensal, e economizo diminuindo o uso de óleo, deixando a fritura de lado, e colocando menos alho e cebola na hora de cozinhar”, conta Maria.
Já Marisa diz que a churrasqueira em sua casa está lá praticamente de enfeite. “No lugar da carne, como frango quando quero algo grelhado. O tradicional vinho com queijos, nos finais de semana com amigos, foi deixado de lado. E as marcas de produtos comprados como sabão em pó e detergentes, por exemplo, dependem de ofertas.
“Está tudo muito caro e para o dinheiro da aposentadoria dar até o final do mês, troquei quase todas as marcas e não compro mais nada que considero supérfluo”, diz Marisa.
O perrengue por que passam a manicura e as aposentadas, assim como milhares de famílias brasileiras devem piorar ainda mais. As previsões para 2022 não são nada animadoras por causa dos reajustes nos preços dos combustíveis, praticados pela Petrobras, que impactam nas gôndolas dos supermercados.
“O combustível aumentou muito e é um insumo fundamental para a produção, escoamento e comercialização, e tem pesado demais sobre os preços dos alimentos”, diz Alexandre Ferraz, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que atua na subseção da Contag.
A coordenadora da pesquisa de preços da cesta básica do Dieese, Patrícia Costa, prevê uma piora nesse quadro econômico com a guerra entre Rússia e Ucrânia, impactando ainda mais nos preços dos alimentos, embora o consumidor brasileiro já sentisse o peso, por causa dos custos da energia, dos combustíveis e das tarifas das empresas.
“O cenário é preocupante. A gente tem de lidar com o tal ‘mercado futuro’ que ao sentir que os preços do commodities como o trigo, por exemplo, vão aumentar por algum fator, já reajusta sem antes mesmo de pagar mais caro pelo produto”, explica Patrícia.
Os reajustes nesses produtos já foram sentidos nos 12 primeiros dias de março, superando o mês de fevereiro inteiro. A farinha de trigo ficou, em média, 4,46% mais cara, o preço do macarrão com ovos subiu 4,24%, o de biscoitos, 2,62% e o do óleo de soja, 5,79%, de acordo com o levantamento feito, a pedido do jornal O Estadão, pela startup Varejo 360.
Embora a pesquisa mensal do Dieese do valor da cesta básica para o mês de março, nas capitais país ainda não tenha sido fechada (será divulgada em 6 de abril), Patrícia Costa, acredita que o impacto será sentido na coleta de preços.
“Por um lado, o Brasil depende em boa parte do trigo importado da Rússia. Já a Ucrânia é uma grande produtora de óleo de girassol. Havendo diminuição do produto à venda, o consumidor deve recorrer ao óleo de soja, que consequentemente poderá aumentar ainda mais”, conclui a supervisora da área de preços do Dieese.
Lula acusa golpe de 2016 pela carestia
Para o ex-presidente Lula toda a destruição econômica e consequentemente o aumento da inflação e dos preços dos alimentos no país são uma das consequências do golpe de 2016 contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), legitimamente reeleita pelo povo brasileiro.
"Inventaram uma tal ponte para o futuro, mas a ponte era só o buraco. Não tinha ponte", disse ele se referindo a proposta do ilegítimo Michel Temer e seu MDB. "Seis anos depois do golpe, como está o preço do arroz, do feijão, da carne, da gasolina, dos pedágios, do óleo diesel?", questionou.
Fonte: CUT Brasil, por Rosely Rocha e Marize Muniz