Dia Internacional da Mulher é dia de lutar



Dia Internacional da Mulher é dia de lutar

Centenas de dirigentes e militantes dos movimentos sociais e sindical participam, nesta terça-feira (8), do Encontro Estadual de Mulheres do Campo e da Cidade, iniciado ontem. O evento tem como principais temas os efeitos do crime ambiental de Mariana sobre as mulheres e as violações de direitos.

Elas estão acampadas em frente à Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais (ALMG), região Central de Belo Horizonte. Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG), Marcha Mundial de Mulheres (MMM), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar de Minas Gerais (Fetraf-MG/CUT), Levante Popular da Juventude, Feataemg, GT de Gênero da Articulação Mineira de Agroecologia (AMA), entre outras entidades, organizam e coordenam o Encontro.

Com um ato como tema “Mulheres contra a lama que violenta e mata: Somos todas atingidas” as atividades se iniciaram na manhã desta segunda-feira (7) com uma mesa de debate sobre a conjuntura nacional e se estende até a tarde desta terça-feira (8), Dia Internacional da Mulher, com uma manifestação nas ruas da cidade.

A concentração começará às 16 horas, na Praça da Liberdade, com marcha até a Praça da Estação, onde a mobilização se encerrará com um ato cultural. Além de servir para dialogar com a população os efeitos do crime ambiental de Maria sobre as mulheres, a luta contra violência, a violação de direitos, a discriminação e as desigualdades, a manifestação terá como temas a luta contra o golpe e a defesa da democracia.

A mobilização, que já é tradicional na semana do dia 8 de março, reúne mulheres de diversas regiões do estado e neste ano tem como objetivo denunciar todas as formas de violações historicamente cometidas contra as mulheres pelo sistema capitalista, imperialista e patriarcal.

“As fotos e as imagens que vimos não representam o sofrimento das mulheres com o crime ambiental da Samarco em Mariana e na Bacia do Rio Doce. Estivemos lá e sentimos como a tragédia afeta a vida das mulheres, que sofreram mais os efeitos. Vivemos uma conjuntura em que a água se tornou uma bem ainda mais precioso lá. E, por tudo isto, enfrentamos uma série de desafios. O que aconteceu em Mariana se encaixa em tudo que discutimos no momento. Mariana trouxe um grande alerta sobre a negligência com a segurança, com a vida e com o meio ambiente. A empresa, apesar da queda do preço do minério, lucrou R$ 2,8 bilhões e distribuiu R$ 2 bilhões aos acionistas. E o Estado recebe muito pouco. Foi uma tragédia anunciada. E, no inquérito feito pela Polícia Civil, a mineradora alega abalo sísmico. E não foram 19 vítimas, 17 mortos e dois desaparecidos. Uma mulher sofreu aborto, ao tentar salvar os filhos e escapar da lama. Esta morte é ignorada pela Samarco e pela imprensa”, disse Beatriz Cerqueira, presidenta da CUT/MG, ao fazer análise conjuntura.

“Esta conjuntura nos exige muita disposição de luta. Temos muitos desafios e um deles é a desconstrução do ódio à política, que faz com que os que atualmente cuidam da política possam tratar dos interesses privados. Este é o momento de discutir a política do Estado, do município, da sua área rural para, assim, definir a nossas vidas. Outro desafio é enfrentar a política de intolerância, construindo diálogos, e andemos com nossas bandeiras, nossas camisas”, acrescentou a presidenta da CUT/MG.

Para Beatriz Cerqueira, os desafios de lutar contra o retrocesso e em defesa das pautas positivas também precisam ser encarados. “A pauta do pré-sal, com o PLS 131, é um prejuízo para o nosso futuro. Ela atinge diretamente a classe trabalhadora. O direito da mulher fazer o que bem quiser do seu corpo é outra pauta que vai requerer muita disposição e união contra o conservadorismo. A retirada de direitos está representada pela reforma da previdência, cujos alvos são as mulheres, as educadoras e as trabalhadores rurais. E precisamos enfrentar também a terceirização. Na pauta positiva, temos que defender a nossa proposta de reforma política e uma reforma tributária, para que os trabalhadores deixem de ser penalizados com a carga de impostos, em detrimento de ricos, fortunas e bancos. Temos ainda a reforma urbana, a reforma agrária e a democratização dos meios de comunicação”, afirmou Beatriz Cerqueira.

“Muitas mulheres do campo estão aqui pela primeira. Vieram trazer suas experiências e se solidarizar com as companheiras de Mariana. Vamos mostrar como impedimos a mineração em Simonésia. Lá são as mulheres que protagonizam esta discussão. Nosso discurso é que não cabem no mesmo lugar a agricultura familiar, com pequenos agricultores, e a exploração do minério”, disse Lucimar de Lourdes “Hoje aqui a gente tem a presença de mulheres do campo, da cidade, de diversas Federações e Centrais, trabalhadoras de movimentos sociais diferentes. Esse 8 de março unificado não só revela a diversidade das mulheres em Minas, mas também é a expressão na nossa capacidade de auto-organização”, comemora Liliam Telles, representante da Marcha Mundial das Mulheres.

Sônia Mara Maranho, integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e uma das coordenadoras do ato, explica que o crime socioambiental ocorrido em Mariana, uma das pautas da luta, é símbolo das violências sofridas pelas mulheres. “Entendemos que a crise do sistema coloca em xeque a vida das mulheres de toda bacia do rio doce e nós mulheres de minas gerais e de todo Brasil temos a ver com isso, porque isso pode vir a acontecer em outros lugares e é um exemplo das violações que acontecem hoje na vida das mulheres.”, diz.

O enfrentamento do conservadorismo é também uma das bandeiras de luta das integrantes. “Queremos afirmar também que somos contra o golpe e em defesa da democracia. Mas ao mesmo tempo nós mulheres não queremos perder nenhum direito historicamente conquistado. Então vai esse recado para o Governo também”, ressalta Sônia Mara.

Mobilização nacional
No dia Internacional da Mulher, a CUT estará nas ruas em defesa da democracia, contra a reforma da previdência, a favor da legalização e descriminalização do aborto, pela ratificação das Convenções 189 e 156, pelo fim da violência contra mulher nos locais de trabalho, por uma educação igualitária e não discriminatória e pelo desenvolvimento sustentável que tenha como centro a vida humana.

“Nós mulheres não podemos achar que as conquistas são definitivas, temos que estar atentas e em permanente vigília para garantir a continuidade e lutar por avanços, principalmente neste momento tão delicado da democracia brasileira,” lembrou a vice-presidenta da CUT, Carmen Foro, se referindo aos ataques contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contra a presidenta Dilma e contra os direitos das trabalhadoras e trabalhadores conquistados neste país.

Segundo ela, se a ordem democrática for quebrada, como pretendem setores do judiciário e da mídia, as atuais conquistas estarão sob sério risco.

“A democracia está em jogo no país, querem tomar o poder de qualquer jeito e um golpe está em curso. Os movimentos sociais, sindicais e populares estarão juntos conosco na luta desta terça. É momento de unidade e de luta para enfrentarmos os que não se preocupam com o país e com a classe trabalhadora”, completou a vice-presidenta.
Para a secretária Nacional da Mulher Trabalhadora da CUT, Junéia Batista, as mulheres trabalhadoras precisarão estar nas ruas neste 8 de março. “O enfrentamento será nas ruas. Precisamos dialogar com toda população e mostrar o que está em risco neste momento político do país. As mulheres sempre são e serão as mais prejudicadas e elas precisam saber disso”, justificou a dirigente.

Uma das principais bandeiras das mulheres trabalhadoras neste ano é a possível reforma da previdência, anunciada pela mídia, em que um dos pontos é a equiparação da idade mínima de aposentadoria entre homens e mulheres.
“Nós não podemos deixar isso acontecer, nós até podemos viver mais como muitos dizem, mas nós temos duas, três e até quatro jornadas de trabalho. Nesta sociedade machista, racista e patriarcal são as mulheres, na maioria das vezes, que são responsáveis pelas famílias e pelos filhos,” destacou Juneia.

A mais recente pesquisa do IBGE comprova que a mulher, apesar de ser maioria na população e maioria no mundo do trabalho, continua ganhando menos e trabalhando mais. Segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) feita entre os anos de 2004 e 2014 com 150 mil famílias, a dupla jornada feminina aumentou uma hora. Agora elas trabalham cinco horas a mais do que eles.

A estatística também mostra que, enquanto a jornada de trabalho masculina fora de casa caiu de 44 horas para 41 horas e 36 minutos por semana, a carga horária dedicada ao trabalho doméstico se manteve estável. Ou seja, o tempo livre não foi revertido em maior dedicação ao lar. Nesse mesmo período de 10 anos, a mulher manteve uma média de jornada de trabalho fora de casa de 35 horas e meia, mas ainda continua ganhando 24% a menos que os homens – e acumulando tarefas domésticas.

“Os dados demonstram claramente que a desigualdade entre homens e mulheres ainda é gritante. É inadmissível igualar a idade mínima para a aposentadoria”, explicou a secretária Nacional da Mulher Trabalhadora.
“Precisamos estar nas ruas, nas praças com nossas camisetas e nossas bandeiras para defender a democracia do Brasil. Sem democracia as mulheres não terão seus direitos garantidos. E sem direitos para as mulheres não haverá democracia”, completou.

8 de março- Jornada Nacional de Luta
A Frente Brasil Popular (FBP), que reúne mais de 50 movimentos sociais, vai somar-se à luta das mulheres. O Dia Internacional da Mulher será um dos três dias de mobilização do movimento, 18 e 31 de março serão as outras datas, já confirmadas, da jornada nacional de mobilização.

Em São Paulo, neste 8 de março, todas as companheiras estão convocadas a se concentrarem a partir das 16 horas no MASP.

Sobre o 8 de março
A data de 8 de março está ligada diretamente à luta das mulheres por melhores condições de trabalho, por uma vida mais digna e uma sociedade mais justa e solidária.

Mesmo antes da revolução industrial, mulheres lutavam por melhores condições de trabalho, já que tinham jornadas extremantes puxadas e tinham salários muito inferiores aos dos homens.

A proposta de criar uma data internacional para celebrar as lutas e conquistas das mulheres foi apresentada em 1910, na 2ª Conferência Internacional das Mulheres Socialistas. A definição pelo 8 de março ocorreu em 1921, na Conferência Internacional de Mulheres Comunistas.

Em 1945, a Organização das Nações Unidas (ONU) assinou o primeiro acordo internacional que afirmava princípios de igualdade entre homens e mulheres. Nos anos 1960, o movimento feminista ganhou corpo, em 1975 comemorou-se oficialmente o Ano Internacional da Mulher e em 1977 o "8 de março" foi reconhecido oficialmente pelas Nações Unidas como “Dia Internacional das Mulheres”.

A CUT, desde sua fundação se preocupa com a organização das mulheres, neste ano fará 30 anos de política de gênero na maior central da América Latina, desde a criação da primeira Comissão Nacional da Mulher Trabalhadora. Apesar de algumas conquistas, ainda há muitos desafios. Os direitos das mulheres precisam ter avanços e serem consolidados.

Fonte: CUT

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