Dia da Independência mostrou dois Brasis: um para todos e um de poucos



Dia da Independência mostrou dois Brasis: um para todos e um de poucos

As imagens dos grandes e isolados atos em verde e amarelo em Brasília e em São Paulo e dos mais de 200 protestos de cores distintas espalhados pelo Brasil deram o tom deste 7 de Setembro, Dia da Independência. E desenham um país dividido. De um lado, os cerca de 30% de brasileiros que, segundo as pesquisas, ainda apoiam o governo de Jair Bolsonaro, diante da maioria que, não necessariamente de esquerda, gostaria de ver seu fim. Essa minoria barulhenta, de forma incompreensível, se manifesta a favor de um presidente que negou a ciência, atrapalhou como pôde o acesso às vacinas contra a covid-19, zombou das mortes diante da “gripezinha”. E permanecem ao lado de um mandatário que entregou o país à própria sorte e assiste, sem mover uma palha, o desemprego crescer, a fome aumentar, a inflação subir, o país arder sem água e galopar rumo a um apagão elétrico.

Segundo a Polícia Militar do Distrito Federal, 105 mil pessoas se espalharam pelo seco gramado da Esplanada dos Ministérios em Brasília. As ameaças de invasão ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Congresso Nacional, proferidas ao som das buzinas de enormes caminhões e motorhomes na noite do dia 6, não se concretizaram. Sob um sol escaldante, a maioria – composta de homens brancos e mais velhos que jovens – poderia ter deixado para ouvir no “cercadinho” o repetitivo discurso do presidente da República contra as instituições que deveria respeitar.

Santo nome em vão

Bolsonaro falou momentos depois de utilizar helicópteros comprados e mantidos com recursos públicos para sobrevoar o ato. Talvez o tamanho da manifestação – maior do que deveria, mas muito menor do que esperava quem apostava no golpe – tenha desanimado os ímpetos do ex-capitão. “A partir de hoje uma nova história começa a ser escrita no Brasil. Peço a Deus, mais que sabedoria, força e coragem para bem decidir”, disse.

O nome santo foi usado novamente em vão em São Paulo, para onde Bolsonaro se dirigiu igualmente bancado pelo suado dinheiro do povo brasileiro. “Nesse momento, eu quero mais uma vez agradecer a todos vocês. Agradecer a Deus, pela minha vida e pela missão. E dizer àqueles que querem me tornar inelegível em Brasília que só Deus me tira de lá.”


Segundo a PM paulista, 115 mil pessoas vestiram verde amarelo para ouvir seu presidente. O tom foi igualmente antidemocrático, mas um pouco mais cauteloso que o usado em Brasília. Como se no rápido voo entre as duas capitais, o atual presidente da República tivesse sido alertado para os perigos que rondam quem realmente atenta contra as leis brasileiras.

Crimes de Bolsonaro

Bolsonaro coleciona cerca de 130 pedidos de impeachment que repousam em eterna “análise” na mesa diretora da Câmara dos Deputados desde os tempos de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e agora sob Arthur Lira (DEM-AL). São muitos os  crimes de responsabilidade diuturnamente cometidos na presidência da República pelo ex-capitão.

Segundo esclareceu o jurista e governador do Maranhão, Flavio Dino, em suas redes sociais, na Lei 1.079/50, Artigo 6º, figura como crime de responsabilidade “usar de violência ou ameaça, para constranger juiz, ou jurado, a proferir ou deixar de proferir despacho, sentença ou voto, ou a fazer ou deixar de fazer ato do seu ofício”. Já no artigo 359 L, do Código Penal, “tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais”, pode resultar em pena de reclusão, de quatro a oito anos, além da pena correspondente à violência.

Fora Bolsonaro tomou Anhangabaú

Por outro lado, o Vale do Anhangabaú, em São Paulo, encerrou as manifestações do Grito dos Excluídos e pelo Fora Bolsonaro no Brasil. E reuniu as forças progressistas empenhadas em acabar com os riscos representados pela manutenção de Jair Bolsonaro na Presidência da República.

Participaram o ex-prefeito da capital paulista e ex-ministro da Educação, Fernando Haddad; a liderança do MTST e do Psol, Guilherme Boulos; a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann (PR); a presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Bruna Belaz. Lideranças sindicais e de movimentos sociais também se manifestaram.

“A democracia não caiu do céu, ela veio da luta da classe trabalhadora”, alertou o presidente da CUT, Sérgio Nobre. “Esse ato, ao contrário do na Avenida Paulista é um ato de solidariedade”, comparou, lembrando as quase 600 mil mortes pela covid-19 no Brasil. Nobre criticou ainda as privatizações, a retirada de direitos, os ataques ao serviço público convocando apoio popular para a mobilização, no dia 14, em defesa do funcionalismo e contra a PEC 32. “É um dia de toda classe trabalhadora brasileira.”

Povo nas ruas

Gleisi afirmou que os discursos de Bolsonaro neste 7 de Setembro escancararam o medo que ele tem da Justiça. “Ele terá de explicar de onde veio o dinheiro para bancar seus atos de intimidação”, disse, parabenizando a participação dos brasileiros no Grito do Excluídos em todo o Brasil. Em muitos das centenas de atos houve distribuição de alimentos aos mais carentes. “Nossa causa é a pauta do povo”, afirmou.

Fernando Haddad acusou Bolsonaro de “defender a filharada” e afirmou que o dia de o presidente responder na Justiça está chegando. O ex-prefeito ressaltou as diferenças entre as duas manifestações que ocorriam na cidade. No Anhangabaú estavam os defensores da democracia. Na Paulista, os que defendiam a ditadura e o fascismo. “Depois de três anos de destruição de empregos, da vida e da esperança, o que essas pessoas estão fazendo na Paulista? Por que não estão aqui com a gente?”, questionou.

Boulos reforçou a importância deste 7 de Setembro que mostrou que a esquerda não vai “deixar a rua para eles”, os bolsonaristas. “Nós não temos medo de ameaças golpistas. O medo está do lado de lá. O medo é do Carluxo (o vereador Carlos Bolsonaro), que deve ser preso logo mais.”

Fonte: Rede Brasil de Fato

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