Nem mesmo a chuva, que atingiu Belo Horizonte na tarde do sábado (20), impediu que entidades representativas e militantes das lutas por igualdade e contra o racismo fossem às ruas, com apoio da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG), sindicatos CUTistas, demais centrais e movimentos sociais, estudantis e populares e de lideranças políticas no Dia Nacional da Consciência Negra, data da morte de Zumbi do Palmares.
A data se transformou num símbolo da luta antirracista num país em que a gestão genocida da pandemia de Covid-19 tem como vítimas mais negras e negros. Por isso, no ato, que teve concentração na Praça da Liberdade e passeata até a Praça Sete, teve também como temas “Fora Bolsonaro” e “Vidas Negras Importam” e “Parem de nos matar”. Além disso, os manifestantes pediram justiça por Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro que foi brutalmente assassinada em 14 de março de 2018. Outras pautas foram as lutas contra o desemprego, a fome, a carestia e a defesa da democracia. A praça foi tomada por faixas com dizeres contra o presidente. Uma delas dizia “Mulheres negras vão derrubar Bolsonaro”.
Durante a concentração e o trajeto, lideranças se manifestaram lideranças que ajudaram a construir o movimento negro no país, em Minas Gerais e Belo Horizonte. O protesto também contou com a participação de artistas, DJs e rappers, que dialogaram com todas e todos e a população sobre as lutas por resistência numa sociedade que discrimina, oprime e mata negras e negros. No final do ato, já na Praça Sete, a deputada estadual Andréia de Jesus (Psol) falou para os manifestantes.
“Fora Bolsonaro, racista e genocida. Lembremos do poeta Oliveira Silveira que, em 1971, inspirou a criação do Grupo Palmares, quando foi editada a revista Tição, que falava sobre os principais quilombos do Brasil. A partir disso, o dia da morte de Zumbi se transformou na data simbólica da luta de negras e negros. Em 1979 foi criado o Movimento Unificado contra a Discriminação Racial, que, depois, consolidou o Dia Nacional da Consciência Negra. Hoje estamos todos juntos, com os movimentos sindical, sociais, estudantis e populares por Zumbi, Dandara pelo fim da estrutura da Casa Grande, que perpetua a política de morte. A elite não gosta de nós. Negros continuam sendo encarcerados e mortos. Querem nos matar de fome, escravizar, segregar e matar. Precisamos lutar sempre contra a esta estrutura de segregacionismo, povo negro, indígenas e classe trabalhadora. E tudo isso está no Palácio do Planalto, com Bolsonaro. Fora Bolsonaro, racista, fascista, LGBTfóbico. Vinte de novembro é um dia de muita luta, pela igualdade, contra o racismo, pela sociedade. Dia de Zumbi e Dandara”, disse Marcos Cardoso, do Coletivo de Entidades Negras (Conen).
“Todas as elites brancas têm nas mãos o nosso sangue. É nosso a herança de luta e igualdade de Zumbi. Que enfrentamos as políticas e a repressão racista em todos os tempos, principalmente na ditadura militar. Durante o governo Bolsonaro, nenhum quilombo foi regulamentado. Deram passos para trás. Mas atrás de nós tem gente. Nosso sangue não será derramado em vão. O racismo é a bandeira que a gente tem que enterrar. Quem não reage ao racismo é conivente com ele. Nada paga a humilhação que passamos. Os quilombos farão ecoar por todos os cantos. O tambor vai mostrar a toda a sociedade esta dívida histórica com a matriz de origem africana. Nós trouxemos a cura, a medicina. Quem é negro sabe a opressão de pertencer à classe trabalhadora. Zumbi vive, Dandara vive. Reaja contra o racismo. Fora governo Bolsonaro racista”, afirmou a ativista Ângela Gomes, do Movimento Negro Unificado (MNU).
“Hoje lembramos uma luta contra mais de 300 anos de escravidão que se incorporou a séculos de racismo, discriminação, desigualdade e genocídio. E num momento em que lutamos para que o Senado aprove o 20 de novembro como feriado nacional. O Movimento Negro Unificado em seus 43 anos de história se uniu aos movimentos sociais nesta luta. E estamos juntos contra as políticas discricionárias de Bolsonaro e contra o governo de Romeu Zema, que aplica a mesma política em Minas Gerais. Não tivemos um quilombola reconhecido com esta estratégia segregacionista. Fora, Bolsonaro racista. Fora Zema, racista”, protestou José Carlos de Souza, do MNU e assessor do mandato da deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT).
“Sou uma macumbeira assumidamente de esquerda, com muito orgulho. E sei que temos sempre que afirmar a nossa importância na construção deste país. E nós, macumbeiras, lutamos por um estado laico, que permita que todas e todos o direito fazer suas rezas. Não queremos o que vem acontecendo desde 2016, quando um golpe, patrocinado pela elite, fortaleceu os neopentecostalistas. E aconteceu o retorno do ódio, do racismo declarado. Eles gostam da feiura, nós, negras e negros, queremos a beleza, a alegria. Somos contra os homofóbicos, os machistas. Por isso temos que ressignificar a nossa importância. Nem todo branco é meu inimigo. Muitos entendem que seus privilégios custaram o sangue de nossos ancestrais, que construíram esta nação. Vamos lutar sempre, numa parceria de corpo e alma. Eu, macumbeira de esquerda, sei que ser feliz é poder falar de nossa religião. E, mais ainda, é fundamental construir um novo projeto de Brasil. Fora Bolsonaro. Viva o povo preto de luta”, disse Makota Celinha Gonçalves, coordenadora do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (Cenarab).
Fonte: CUT Minas