Maior companhia cervejeira da América Latina, a Ambev resolveu demonstrar preocupação com a emergência socioambiental na Amazônia, resultante da devastação sem precedentes. Uma cerveja da Colorado, a ‘Amazônica’, tem seu preço determinado conforme variação do Índice de Reajuste de Preços da Amazônia (IRPA). O indicador varia de acordo com a evolução da taxa de desmatamento semanal na Amazônia, calculada pelo Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mantido no portal Terrabrasilis.
O índice é calculado pela variação da taxa média de desmatamento nas últimas quatro semanas, comparada com a média das taxas de desmatamento nas mesmas quatro semanas nos dois anos anteriores. Por exemplo: a média de desmatamento da segunda semana de setembro de 2020 é comparada com a média de desmatamento da segunda semana de setembro de 2018 e 2019.
A porcentagem de aumento ou redução do desmatamento corresponderá ao ajuste a ser aplicado no preço da Colorado Amazônica. O aumento máximo do preço será de 100%. A cada semana o índice será calculado e indicará o reajuste a mais ou a menos que será aplicado ao produto. O índice será calculado semanalmente e publicado sempre às quintas-feiras.
Coração da Amazônia
Conforme a Ambev, todo o dinheiro arrecadado com a venda da Amazônica é destinado à Rede de Cantinas da Terra do Meio, articulação que agrega um conjunto de 14 associações de comunidades ribeirinhas e indígenas na região do Xingu, no entorno do município de Altamira (PA). A Terra do Meio é um corredor de 8 milhões de hectares de áreas protegidas no coração da Amazônia, entre terras indígenas e unidades de conservação. De acordo com o Instituto Socioambiental, na década de 1990, a região foi tomada pela grilagem e exploração ilegal de madeira. Ataques estes que foram retomados mesmo após a decretação da maioria das Unidades de Conservação da região.
O porém é que, pelo que tudo indica, a desconhecida Colorado Amazônica, vendida somente pela internet, pouco ajudará essas populações. Com o estímulo oficial à devastação e o aumento do desmatamento, a cerveja ficará muito cara e deverá vender pouco.
Mas se usasse o Índice de Reajuste de Preços da Amazônia para regular o preço das suas mais de 200 grandes marcas de cerveja em todo o mundo, sendo mais comuns no Brasil a Antarctica, Brahma, Budweiser, Corona, Original, Serramalte, Skol e Stella Artrois, entre outras, que respondem por 68% do mercado, e dos refrigerantes Pepsi, Sukita, Gatorade, guaraná e soda limonada Antarctica e H2OH!, toda a região e as populações tradicionais seriam beneficiadas.
Verniz e marketing
No entanto, a preocupação ambiental não passaria mesmo de marketing. Em 2019 a Ambev comemorou a redução de 50% na quantidade de água usada na produção de suas cervejas na última década. Dados referentes a 2018 indicam o uso de 2,86 litros para a fabricação de apenas um litro de cerveja. É de se supor que antes eram necessários quase 6 litros de água para obter a mesma medida da bebida.
E a logística reversa introduzida pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei Federal n° 12.305/2010), regulamentada pelo decreto nº 9.177/2017, só mais recentemente começou a sair do papel na Companhia. Estão sendo conduzidas ações para eliminação e substituição de plástico desnecessário, utilização de embalagens retornáveis ou conteúdo 100% reciclado na composição de novas embalagens, além de investimento em inovação e tecnologias para reciclagem e novos materiais. Atualmente, 18% de todo o líquido produzido pela Ambev é envasado em embalagens plásticas.
Associada à Inbev, líder no mercado mundial, a Ambev é controlada por Jorge Paulo Lemann. Segundo homem mais rico do Brasil; Lemann também controla a 3G Capital, dona do Burger King e da gigante da indústria de alimentos Kraft Foods, entre outras.
Fonte: Rede Brasil Atual