O leilão das redes 5G no Brasil começou na quinta-feira (4) e empresas de telefonia já arremataram parte dos lotes ofertados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Apesar do avanço tecnológico, o Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação - alerta que a disponibilidade do serviço para o consumidor não será tão rápida.
Na avaliação da advogada especializada em telecomunicações e integrante do Intervozes, Flávia Lefèvre, apesar do leilão do 5G colocar uma previsão de cobertura nas capitais para julho de 2022, o acesso à rede será restrito a pouquíssimos consumidores comuns, com foco nas empresas.
“Nós não vamos ter o 5G amanhã. Há o prazo de julho de 2022 para ter a cobertura nas capitais, mas estará disponível para pouquíssimos consumidores, focando onde há renda”, explicou ela, que acrescenta que há falta de estrutura para atender a população. “Em 1998, quando houve a privatização da telecomunicação, o Estado fez opção de não poder definir metas. A Anatel colocou contrapartidas de infraestrutura pouco adequadas e não temos imposições que cobrem os problemas do país”, afirmou, em entrevista ao jornalista Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual.
A tecnologia 5G garante velocidade na transferência de dados pelo menos 20 vezes maior que a atual (4G). Além disso, também tem tempo reduzido de resposta, o que permitirá conectar uma gama de aparelhos, desde eletrodomésticos a painéis solares, passando por carros elétricos – a chamada “internet das coisas”. No campo, por exemplo, também promete otimizar o funcionamento de máquinas e equipamentos, proporcionando maior eficiência na produção agrícola.
Vencedores do leilão do 5G
As três maiores operadoras de telefonia celular do país – Vivo, Claro e Tim – arremataram três lotes da faixa de 3,5 GHz no leilão da tecnologia móvel 5G. Elas serão detentoras do direito de exploração dessa faixa considerada “pura”, de cobertura nacional, por 20 anos.
Para Flávia, a vitória dessas empresas não é diferente da expectativa do Intervozes. “Elas já dominam o mercado de telefonia móvel, inclusive estão comprando a operação da Oi, e compraram a frequência mais usada no 5G. Temos um mercado muito concentrado, o que prejudica o consumidor”, lamentou.
Um dos pontos que chamaram a atenção da especialista foi a Winity II Telecom Ltda, empresa que apresentou lance R$ 1,427 bilhão pelo lote 1, na faixa de 700 MHz, e poderá operar em todo o território nacional. “O objetivo dela não é atender o consumidor, é atender no atacado, contratando prestadoras de serviço. Nesse aspecto, se ela operar em condições razoáveis, vai poder disponibilizar sua rede aos operadores que querem levar o serviço para locais onde as grandes operadoras não têm interesse”, explicou ela.
5G não reduz desigualdade
Apesar das compras e a possibilidade de uma nova conexão, Flávia Lefèvre afirma que o 5G vai atender, primeiro, a telemedicina, empresas e o agronegócio. Para chegar com qualidade pela via móvel, é preciso que se amplie as condições da oferta de serviço, pois 90% dos usuários da classe D e E acessam a internet apenas por celular.
Alguns lotes não receberam propostas, como parte da oferta de 4G no Nordeste. Esse problema, segundo ela, passa pela principal crítica sobre o edital, que ofertou lotes com contrapartidas voltadas às regiões com baixo interesse comercial. “Estamos perdendo a oportunidade, nesse leilão, de enfrentar esse fosso digital enorme”, criticou.
Enquanto parte da imprensa fez uma cobertura festiva da venda do novo serviço, falando sobre velocidade de download mais rápida, o Intervozes alerta que a realidade do país é outra. Em São Paulo, citado como exemplo por ela, onde há uma oferta de infraestrutura muito superior ao resto do país, a desigualdade de conexão ainda é muito forte.
“A Rede Nossa São Paulo fez uma pesquisa sobre a desigualdade e mostra que, no Itaim Bibi, há 48,3 antenas por quilômetro quadrado. Enquanto, o bairro periférico Marsilac tem 0,02 antena por quilômetro quadrado. É uma deficiência imensa. Não é possível entregar democraticamente o 5G na capital, em menos de um ano. A frequência da quinta geração, quanto mais potente é, menor também será o alcance, ou seja, é preciso de muita antena”, lamentou.
Fonte: Rede Brasil Atual