No dia 4 de maio completaram-se 100 dias do crime da Vale em Brumadinho. Até o momento se confirmaram 235 mortes e 35 pessoas desaparecidas, mas diversas entidades denunciam que os óbitos podem superar os 300, debaixo da lama seca. O rompimento da barragem do córrego do Feijão contaminou o rio Paraopeba, tirando o sustendo de centenas de famílias. Mais de 200 trabalhadores da Vale, do quadro próprio e terceirizados, morreram no maior acidente de trabalho do Brasil. Milhares ficaram desabrigados. Os sobreviventes desse crime continuam em hotéis e sem indenização.
O que pouca gente sabe, contudo, é que desde 2001 Minas vem registrando rompimento de barragens, mas não houve repercussão e denúncias amplamente divulgadas. A exceção ficou por conta das barragens de Fundão, da Samarco, em 2015, e de Brumadinho, em 25 de janeiro deste ano. Boa parte da população também não sabe do risco de mais barragens se romperem.
O Projeto Manuelzão revela que a barragem da mineradora Rio Verde, em Macacos, distrito de Nova Lima, rompeu em junho de 2001. Em março de 2007 a população de Miraí, na Zona da Mata, foi vítima de rompimento da barragem da mineradora Rio Pomba Cataguases, que espalhou uma lama extremamente tóxica, formada por um tipo de minério mais químico. Outra barragem, a do Herculano, em Itabirito, rompeu em 2014.
Detalhes dos crimes
Segundo o Manuelzão, em Macacos a mineradora Rio Verde foi responsável por espalhar mais de 600 mil metros cúbicos de rejeitos de minério, causando a morte de cinco trabalhadores da empresa e o “desaparecimento” de 43 hectares de mata Atlântica soterrados pela lama.
Em Miraí, a barragem São Francisco cedeu durante fortes chuvas, às 3 horas da madrugada, e inundou parte da cidade com dois milhões de metros cúbicos de rejeitos. Casas foram destruídas, junto a grande parte da fauna do rio Fubá. Cerca de 4 mil pessoas ficaram desabrigadas e, felizmente, não houve morte de pessoas. No rompimento da barragem de Herculano, morreram três trabalhadores da empresa.
Da barragem de Fundão, da Samarco, foram derramados 39 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério e 19 pessoas morreram. Milhares ficaram desabrigadas e o Rio Doce praticamente “morreu”. O povoado de Bento Rodrigues desapareceu. Foram soterradas 120 nascentes e mangue, 1.469 hectares de floresta também desapareceram e 11 toneladas de peixes ficaram a boiar em cima das águas lamacentas do rio Doce.
Os riscos continuam e são diários
Segundo a Fundação Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais (Feam), Minas tem 688 barragens cadastradas. Dessas, 677 têm estabilidade assegurada, outras quatro têm laudo sem conclusão sobre a segurança e sete têm estabilidade não garantida.
Porém, o engenheiro especialista em Minas, Paulo Almeida, alerta que o risco é constante e justifica: “Pode-se mudar a legislação, ter uma maior fiscalização, as barragens construídas com os métodos antigos podem ser auditadas, receberem obras de manutenção e todo tipo de cuidado que não vai adiantar. Elas são instáveis, qualquer evento pode desestabilizar o que, até ontem, era estável”.
Para ele, a solução é deixar o velho método de construção de barragens (arriscado e perigoso), fechar e secar as represas que já estão construídas com o método antigo e não licenciá-las nunca mais.