CUT e CSP-Conlutas, duas das maiores centrais sindicais do País, apostam no embate ideológico para reconquistar base
Vigente há pouco mais de um ano, a reforma trabalhista não trouxe os resultados positivos em termos de geração ou formalização de empregos, mas provoca efeitos perversos na vida do trabalhador, em especial no que diz respeito aos seus direitos e garantias.
A representação feita pelos sindicatos, espaços orgânicos de ação coletiva, está em xeque. Antes das mudanças, os trabalhadores colaboravam anualmente com um dia de salário para as estruturas sindicais de sua respectiva categoria. Atualmente, o pagamento é optativo.
Segundo dados do Ministério do Trabalho, os valores pagos por meio de imposto sindical caíram cerca de 85% (no acumulado de janeiro a setembro, foram arrecadados 1,9 bilhão de reais, em 2017, e 276 milhões de reais, em 2018). Apesar da queda brusca na receita, o número de sindicatos teve leve alta, de 16.517 no último ano para 16.663 na parcial mais recente.
O presidente estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em São Paulo, Douglas Izzo, confirma a queda na arrecadação dos sindicatos e centrais, mas afirma que a centralidade do arrocho está nas altas taxas desemprego e na qualidade do trabalho disponível.
“O trabalhador está voltando para o mercado sem vínculos, em uma espécie de institucionalização do bico. Outro fator que deve ser levado em conta é terceirização para todos os tipos de atividades dentro de uma empresa. O fim do imposto sindical, compulsório, também pesa nessa conta. Todos esses aspectos juntos levam a queda de arrecadação”, afirma.
No último ano, a CUT nacional teve queda de arrecadação de cerca de 80%, o que culminou em um plano de demissão voluntária, com a saída de aproximadamente 45% dos funcionários em âmbito nacional.
Como medida para levantar recursos, a entidade tenta a venda da sua sede no Brás, centro de São Paulo. No início do ano, houve negociação do terreno com a Igreja Mundial do Poder de Deus, em negociação por 40 milhões de reais.
“Nossa estratégia é fazer o debate ideológico, aumentar a filiação e dialogar com os trabalhadores nas assembleias para que eles decidam por financiar. A CUT sempre atuou na lógica de que os trabalhadores sejam associados.”
O secretário-geral da Central Sindical e Popular Conlutas (CSP-Conlutas), Luiz Carlos Prates, também confirma que a central teve de demitir funcionários e está com atrasos na folha de pagamento.
"Sabemos que não podemos contar com o imposto, o trabalhador deve se sentir realmente parte da estrutura sindical, mas o fato é que a reforma trabalhista trouxe uma nova realidade para nós do dia para a noite, sem apresentar alternativas intermediárias", afirma Prates.
Neste mês, a Conlutas organizou um seminário para debater o assunto. No encontro, apontaram como eixos centrais para aumentar a base de associados a melhora da atuação dos sindicatos nos problemas cotidianos dos trabalhadores, além de mais investimento em comunicação.
Revista Carta Capital