Deputados da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) estão se articulando para apresentar um requerimento pedindo que a Polícia Civil apure a suspeita levantada pelo deputado estadual Professor Cleiton (PSB) de que os parlamentares estão sendo investigados e que tiveram os telefones e celulares grampeados pela Kroll, uma empresa multinacional contratada pela Cemig.
O autor do requerimento é o deputado Roberto Andrade (Avante), um dos principais parlamentares da base do governador Romeu Zema no Legislativo. Ele foi membro titular da CPI dos Fura-Filas e agora também é titular da CPI da Cemig. O requerimento foi noticiado pelo jornalista Lucas Ragazzi da rádio 98 FM e confirmado por O TEMPO.
“Essa história precisa ser investigada. Não podemos ter a nossa vida, inclusive privada, exposta. Também temos que procurar a verdade no sentido de não acusar sem as devidas provas. Isso é muito grave, envolve pessoas e uma empresa dos mineiros, no caso a Cemig”, disse o deputado.
“Eu sempre defendi na CPI dos Fura-Filas: vamos apurar, mas com cuidado para não apontar culpados antes da devida apuração. São pessoas, famílias, profissionais e carreiras. Nesse caso do grampo espero que seja esclarecido e os responsáveis devidamente punidos”, concluiu Roberto Andrade.
Segundo o deputado, até agora 10 parlamentares assinaram o requerimento, mas ele espera receber o apoio de todos os 77 deputados, já que o tema envolve todos eles.
Além da apuração da Polícia Civil, o requerimento solicita que o Ministério Público acompanhe e supervisione as investigações e que a Polícia Legislativa realize uma perícia técnica nos telefones fixos da ALMG, celulares, na internet e a intranet (rede interna) para saber se os sistemas foram violados de alguma forma e se eles estão preparados para resistir à tentativas de invasões e de acessos não autorizados.
Na primeira reunião da CPI da Cemig após o recesso, na segunda-feira (2), o deputado Professor Cleiton levantou a suspeita de que a Kroll, contratada pela Cemig por inexigibilidade de licitação no dia 23 de abril por R$ 3,4 milhões, estaria investigando os deputados.
Nos bastidores, a avaliação é que mesmo que a empresa tenha sido contratada antes da criação da CPI da Cemig, esta seria uma tentativa de intimidar os deputados que serão os responsáveis por investigar possíveis irregularidades cometidas pela estatal mineira de energia desde o início de 2019.
“Queremos saber o que essa empresa faz na Cemig. Ficamos sabendo que os deputados do bloco independente e os de oposição estão sendo investigados por essa empresa, bastante conhecida por grampear telefones. Assessores de gabinete também estão recebendo telefonemas anônimos, mas isso não vai nos intimidar. Podem investigar minha vida pois não tenho nada a esconder”, disse Cleiton na reunião. O deputado, autor do requerimento para a criação da CPI da Cemig, disse ter tido o celular grampeado durante o recesso.
A CPI já pediu à Cemig informações sobre o objeto do contrato com a Kroll. Também existe a possibilidade de que representantes da multinacional sejam chamados para prestar esclarecimentos sobre quais serviços estão realizando para a Cemig.
Outro lado
A Cemig disse que mantém o posicionamento do início da semana, quando disse que contratou a empresa de investigação forense Kroll, os escritórios Sampaio Ferraz e Terra Tavares Ferrari Elias Rosa, no Brasil, e Paul Hastings, em Nova Iorque, para fazer uma investigação independente de denúncias recebidas do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).
“A Cemig tem ações listadas nas bolsas de valores de São Paulo (B3), Nova Iorque (New York Stock Exchange - NYSE) e Madri (Latibex) e está sujeita às normas anticorrupção dos Estados Unidos da América (Foreign Corruption Practices Act), razão pela qual denúncias como as recebidas do MPMG, por sua amplitude e possíveis desdobramentos, devem atender também aos padrões de investigação exigidos pelas autoridades norte-americanas”, disse a empresa.
Confira o posicionamento da Kroll na íntegra:
"A Kroll atua com investigação forense há quase 50 anos e tem reconhecimento internacional em serviços de governança e risco em mais de 30 países. A empresa atua estritamente dentro da lei e não tolera qualquer tipo de atividade ilícita.
A Kroll informa que confia no processo político e na legitimidade da CPI, da mesma forma em que acredita que a imunidade parlamentar não deve ser usada para ofender a reputação de empresas idôneas. As acusações são inverídicas e não procedem."
Fonte: O Tempo, por Pedro Augusto Figueiredo, foto de Henrique Chendes/Assembleia Legislativa de Minas Gerais