Convidado pelo Sindieletro a mostrar sua arte para a categoria eletricitária, Maurício de Santana chegou na entidade na hora marcada, impecável, ótima prosa e trazendo uma sacola ecológica. Lá dentro: livros com partes de sua obra, um CD com um hino a Minas Gerais e alguns pequenos versos que têm feito sucesso em saraus de poesia da capital.
Aos 75 anos, o eletricitário era vigilante e trabalhou por 23 anos na Cemig. Ele conta que esse período poderia ter sido prolongado, mas, depois da terceirização as coisas mudaram. “Fui transferido para o almoxarifado do Quarteirão 14 e poderia ter sido promovido à fiscal de turma, mas a terceirização tem essa característica: É um fator externo que prejudica a carreira de quem tem projeto dentro da empresa”, observa.
Maurício lembra que escreve desde os 19 anos sobre vários temas, em versos livres ou em rima, que encantam pela simplicidade, lirismo e humor. Muito fluente na língua Portuguesa, Maurício tira poesia de fatos aparentemente comuns, como a amizade, a injustiça social, e sobre as contradições atuais.
Poesia
Seus poemas foram publicados pela primeira vez, em 1983, na Coletânea de Poemas da Gremig (Paradoxos e Homo Sapiens). Dez anos depois, Maurício voltou a publicar no livro Projeto e Prata da Casa, também da Gremig.
Aposentado desde 1997, o eletricitário dedicou o tempo aos cuidados com a família de 17 irmãos e aos versos que ele lê com expressividade e beleza.
Em 2012, seu poema “A primavera” integrou a Antologia de Ouro do Museu Nacional de Poesia. Em 2014, seis poemas de Maurício foram selecionados para a “Coletânea de Emoções”, publicação da Associação dos Eletricitários Aposentados (AEA).
Na mesma época, enfrentou e venceu uma doença. Desde então, Maurício está poeticamente mais ativo do que nunca. Lê “de tudo e retém o que é bom”, escreve sobre quase tudo e defende a inserção dos poetas na vida das comunidades. Nessa busca por oferecer banquetes de poesia para todas as idades, classes sociais e intelectuais, é presença atuante no Projeto “Poesia no Barbante”, no Centro Cultural do bairro Padre Eustáquio.
Uma vez por mês o eletricitário se reúne com poetas da capital e prepara a edição do primeiro livro exclusivamente com seus poemas. “O contato com mais pessoas traz novas ideias e também novas habilidades que ajudam a poesia, ”acredita.
Além do sonho de popularizar a poesia, Maurício alimenta outra esperança: fazer com que nosso Estado tenha finalmente um hino. “O simbolismo de Minas tem a bandeira, e brasão, mas falta-lhe uma peça: o hino de coração”, poetiza.
Ele destaca que há algumas décadas usa-se os versos da canção “Oh, Minas Gerais!” - adaptação do estribilho de uma canção italiana bastante popular, mas sem apelo cívico- em eventos oficiais. Essa “lacuna” fez com que, em 1995, Maurício e o músico e ex-eletricitário Ismael Sanches criassem e gravassem um hino para o
Estado.
Como bom embaixador da causa, Maurício já recebeu apoio e simpatia de escritores, deputados e radialistas para esse debate. Apesar de grande valor artístico, a proposta depende, agora, de apoio político.
Ao final da leitura dos versos e da conversa mansa e lírica com Maurício, fica o desejo suave e bom que o nosso poeta, como a “primavera volte sempre”!
O futuro é grisalho
Governos e empresários vão proteger o conhecimento intelectual e social dessa geração?
Em 2030 haverá mais pessoas acima dos 60 que crianças com menos de dez anos. Esse registro é da jornalista Mariza Tavares do site G1.
Ela destaca o IAGG 2017 (Congresso Mundial de Geriatria e Gerontologia), que acontece em julho em São Francisco, Califórnia, com o tema “Envelhecimento global e saúde: construindo pontes entre ciência, política e prática”.
O objetivo do congresso é mostrar a urgência da união de todos os setores da sociedade para fazer frente ao “tsunami prateado” que vem por aí.
São esperados cerca de seis mil participantes, de mais de 70 países, todos com a mesma preocupação: como garantir que o bônus da longevidade se traduza em qualidade de vida para a população?
A matéria cita a presença da geriatra e epidemiologista Linda Fried, reitora da Mailman School, faculdade de saúde pública da Universidade de Columbia, que fará a palestra da cerimônia de abertura, dando algumas pistas: “Em eventos recentes, ela tem dito que está na hora de o mundo aproveitar os dividendos demográficos do envelhecimento e se valer da experiência dos seus cidadãos. Temos que utilizar melhor esse capital intelectual e social. Não podemos desperdiçar esse conhecimento, que deveria ser protegido por uma instituição global. A população mais velha quer fazer a diferença e pode ajudar a ensinar os mais jovens. Esses, por sua vez, precisarão de apoio para entender as transformações que a longevidade trás, como a importância do aprendizado contínuo e da manutenção da saúde ao longo do curso de vida”.
O envelhecimento da população trás uma preocupação imediata: no Brasil o governo e muitos empresários estão enxergando trabalhadores e aposentados apenas como custo. A Cemig, com as demissões perversas de quem completou 55 anos de idade e incentivo ao desligamento, é exemplo desta visão mercantilista.