A partir do início de novembro começaram a surgir denúncias localizadas, por meio dos sindicatos regionais, de um aumento acelerado de contaminações por covid-19 em unidades da Petrobras, principalmente em plataformas de exploração e produção de petróleo. Nelas, tem vigorado durante a pandemia uma jornada de sete dias de isolamento, 21 dias de embarcação em alto mar e 14 dias de descanso.
Um levantamento exclusivo, realizado pela reportagem do Sindipetro-SP a partir dos boletins de monitoramento da covid-19 disponibilizados semanalmente pelo Ministério de Minas e Energia, mostra que a percepção dos sindicatos da categoria fazia sentido. Atualmente, a maior estatal do país vive um surto de covid-19. Apenas entre os dias 3 de novembro de 2020 e 4 de janeiro de 2021, foram registrados 1605 novos casos de infecção.
O número é maior do que a soma dos quatro primeiros meses da pandemia no Brasil. Entre 26 de fevereiro – data da confirmação do primeiro caso da doença no país – e 29 de junho, foram confirmados 1547 trabalhadores da estatal contaminados.
No total, do início da pandemia até o dia 4 de janeiro deste ano, já foram infectadas 4.030 pessoas, o que representa 8,7% do quadro de 46.416 empregados próprios da companhia. Atualmente, a porcentagem no país é de 3,7% de contaminados em relação ao número total de habitantes, que é estimado em 212 milhões.
Essa alta concentração de casos já havia sido apontada em parecer científico elaborado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em outubro. O documento apontou na ocasião que o “diagnóstico da covid-19 em petroleiros é presumidamente relacionado ao trabalho”, e que casos de coronavírus na estatal equivalia a 4.448 por cada 100 mil pessoas, incidência maior que o dobro da verificada na população brasileira, que era de cerca de 2 mil casos por cada 100 mil habitantes.
Omissão
Uma das principais cobranças da Federação Única dos Petroleiros (FUP), que reúne 13 sindicatos da categoria, é a divulgação do número total de contaminados, incluindo terceirizados. A Petrobras, entretanto, apenas disponibilizou essas informações no 3º Boletim de Monitoramento, datado de 4 de maio, quando 1037 petroleiros já tinham sido contaminados e outros 1642 estavam sob suspeita, de um total de 151.539 empregados, entre próprios e terceirizados.
Além disso, alguns boletins apresentam erros. Entre o 11º (29 de junho) e 12º (6 de julho), por exemplo, houve uma diminuição de 21 contaminados. O mesmo ocorreu entre o 17º (10 de agosto) e o 18º (17 de agosto) com uma queda de 66 casos. Situação semelhante também foi apontada entre o 29º (3 de novembro) e 30º (9 denovembro) com diminuição de 140 pessoas contaminadas. Ainda: O 28º boletim apresenta um erro de digitação, o que impede a verificação da evolução do número de casos de coronavírus entre 19 e 26 de outubro.
Fonte: CUT