É muito provável que você esteja sendo diariamente bombardeado com informações falsas sobre os resultados do seu fundo de pensão.
Pergunta-se: o envolvimento com Fundos de Investimentos em Participações levou as entidades a déficits, principalmente por conta de casos de corrupção?
Por qual razão alguns fundos de pensão têm cobrado contribuições complementares para equacionamento dos déficits, enquanto outros não?
As duas perguntas se combinam de forma concreta na cabeça de muitos participantes, em especial no caso envolvendo a Previ, a Petros, a Funcef e outros (entre eles grandes bancos), no investimento na empresa Sete Brasil.
Primeiramente temos que saber o tamanho do déficit de cada entidade e qual é o real impactos dos alegados “rombos” no resultado geral. No caso da Funcef, o resultado negativo gira hoje em torno de R$ 20 bilhões e se fosse considerado como perda todo o recurso investido em FIP este valor não chegaria a R$ 5 bilhões. Então alguém precisa explicar sobre a diferença dos mais de R$ 15 bilhões do déficit apurado.
Cláudia Ricaldoni, diretora da Regional MG da Anapar e diretora eleita de Relacionamento com Participantes da Forluz, fundo de pensão dos empregados da Cemig, se debruçou sobre esses resultados e chegou a algumas conclusões:
Carro-chefe
Ricaldoni defende que todos processos de desenvolvimento econômico contam com ao menos um "carro-chefe", ou seja, "um ponto para alavancar [a economia] como um todo". E, nesse sentido, as EFPC, que administram poupança de longo prazo sempre foram importantes nos investimentos em infraestrutura.
Traz como exemplo a questão da Sete Brasil, que se insere justamente neste "ponto" do último ciclo virtuoso de crescimento econômico brasileiro.
"O carro-chefe do momento era a indústria de petróleo e gás e suas ramificações. Naquele momento, o desenvolvimento estava baseado nisso: no passaporte para o futuro. Em uma decisão estratégica, a Petrobras, que contratava sondas fora do Brasil por valores estratosféricos, resolveu criar a Sete Brasil para construir sondas", privilegiando a política de conteúdo nacional, sustenta.
A estatal do petróleo chegou a fechar um contrato de locação de sete sondas de extração - que dariam origem ao nome da nova empresa.
"A ideia era: você [Sete Brasil] vai construir sondas, nós [bancos e fundos] vamos investir; o BNDES vai emprestar a maior parte e a Petrobras já assinou o contrato de aluguel das sete sondas. Costumava-se dizer que esse investimento era quase uma renda fixa, com um contrato seguro da maior empresa do Brasil. Todo mundo queria entrar na Sete Brasil", relembra Ricaldoni.
Corrupção?
"Existiu corrupção? Provavelmente sim. E era necessário combater, como sempre defendemos. Mas este não foi o principal motivo da inviabilidade do investimento. O fato é que o BNDES, que era um dos principais financiadores do negócio, foi impedido de fazer os aportes contratados, como parte da manobra para depor a presidenta Dilma Rousseff, por meio da operação chamada “lava-jato”, defende Ricaldoni, que pondera, entretanto, que investigações e ações acabaram punindo empresas e não pessoas criminosas.
Com a confusão causada no âmbito judicial e político, a Petrobras rescindiu o contrato com a Sete Brasil, que entrou em crise por falta dos aportes do BNDES.
"Todo mundo perdeu o dinheiro que foi investido. Os bancos, tais como o BTG Pactual, que era o maior investidor, o Santander, o Bradesco e os fundos de pensão. O participante da Funcef tem que entender isso", resume ela.
Diferenças
Diante do naufrágio da iniciativa, os fundos de pensão tiveram táticas judiciais distintas. A Funcef preferiu apostar no argumento da corrupção dos dirigentes da Entidade. A Previ e Petros foram por outro caminho. Entraram com ações de cobrança do cumprimento do contrato por parte da Petrobras.
"Como a Petrobras tinha assinado o contrato e depois pulou fora, a Previ e a Petros foram buscar o compromisso [com a petrolífera]", diz Cláudia. Através de uma arbitragem, parte dos investimentos perdidos foi recuperado pelos dois fundos.
O fato de bancos privados terem participado do FIP da Sete Brasil e terem recebido tratamento diferenciado após o desenrolar do caso, é para Ricaldoni um indício de uma ofensiva política contra os fundos de pensão.
"Nada é coincidência, não é à toa que o atual governo quer criar mecanismos para permitir a portabilidade [para o mercado privado]. O que vai acontecer é que vai consolidar a perda. Em vez de melhorar o benefício do setor privado, piora absurdamente os benefícios do setor público", afirma. "A ideia é extinguir nosso sistema, que não tem fim lucrativos e passar nossa reserva para os bancos".
Fonte: Reconta Aí/Anapar