A Secretaria de Saúde do Trabalhador e Trabalhadora do Sindieletro tem participado das ações da Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (CISTT municipal). No último dia 18, o Sindicato apresentou o painel “Terceirização e seus impactos: Cemig”, em reunião pública da CISTT, realizada na Secretaria de Saúde de Belo Horizonte.
Os relatos sobre as mortes de eletricitários a serviço da Cemig e sobre a vida dos trabalhadores sobreviventes e mutilados chocaram a platéia que desconhecia a gravidade do problema de saúde e segurança na Cemig.
“Pela primeira vez em um debate sobre a segurança e saúde de trabalhadores não vamos bater palmas para os expositores. A situação aqui colocada sobre os acidentes exige o silêncio e, mais que isso, exige denúncias permanentes”, afirmou a coordenadora da CISTT, Ângela Eulália.
Após a apresentação dos impactos da terceirização para os trabalhadores, a sociedade e a saúde pública foram cobradas respostas da sociedade. Um participante destacou que a busca apenas pelo lucro a todo custo tornou-se um “moedor de vidas de trabalhadores”.
A reunião terminou com a aprovação de propostas como a realização de um estudo epidemiológico da situação da terceirização na Cemig, com dados sobre os acidentes com trabalhadores mutilados. Também foi recomendada a promoção de um seminário, coordenado pela CISTT estadual, sobre a terceirização e seus impactos para a saúde pública, apresentando o péssimo exemplo da Cemig, juntamente com enúncias e cobranças de ações do Ministério Público do Trabalho (MPT) e Polícia Federal.
Os participantes também decidiram que a realidade da terceirização e dos acidentes com eletricitários passará a ser pauta permanente da CISTT. Esse grupo, que reúne profissionais de saúde e lideranças de entidades que atuam na área, é ligado aos Conselhos Nacional, Estadual e Municipal de Saúde e tem como objetivo articular programas de saúde do trabalhador, com foco em políticas do SUS.
Terceirização até na Linha Viva
Durante a reunião, a assessora de Saúde do Trabalhador do Sindieletro, Julie Amaral e os assessoria José Carlos de Souza, informaram que, desde 1995, a terceirização avança na Cemig e já atinge a Linha Viva. Esse processo só não se consolidou porque, dias após tomar a decisão de mandar empreiteiras atuarem em rede energizada, houve um acidente gravíssimo com trabalhador de empreiteira.
O coordenador geral do Sindieletro, Jefferson Silva, destacou que, nos anos 90 as equipes de Linha Viva tinham de quatro a oito eletricistas. Hoje, a empresa tenta emplacar o projeto de equipes de dois trabalhadores na LV, um no chão com a supervisão e, também no apoio ao companheiro que fica no poste, passando para ele ferramentas e orientações. Com a mudança, ambos ficam sobrecarregados e com a atenção comprometida, aumentando o risco de mais acidentes na rede.
Dados
O Sindieletro mostrou dados que comprovam as denúncias o aumento da terceirização. Em 2012, 60% do quadro de trabalhadores da Cemig era de terceirizados. Agora, com desligamentos em massa, a estimativa é que a empresa atue com um quadro de pessoal em que 79% da mão de obra é terceirizada.
O resultado dessa política de RH é acidentes graves e fatais com terceirizados. De 1999 até 2017, foram registrados na Cemig 129 acidentes fatais. Desse total, 101 ocorreram com trabalhadores terceirizados, confirmando dados da Fundação Coge que mostram que o trabalhador contratado indiretamente para atuar no setor elétrico (líder de acidentes) é a principal vítima de acidentes.
Durante o debate, o Sindieletro expôs a situação de trabalhadores terceirizados acidentados que lutam por dignidade e pela adaptação à nova realidade imposta pelas limitações físicas. Esse drama é agravado pela indiferença da Cemig e pela omissão da Justiça e “acaba se tornando uma questão de saúde pública”, concluiu Julie Amaral.