Andrea Cristina da Silva começou a trabalhar muito cedo. Aos 12 anos, era doméstica em casas de família, sem carteira assinada até os 14. Mais tarde, querendo melhorar de vida e oferecer melhores oportunidades aos filhos, Andrea resolveu se separar e voltar a estudar.
“O casamento me atrapalhava a seguir meus objetivos de carreira. Parei de estudar aos 16 anos, quando engravidei. Faltava completar o 3º ano do colegial. Voltei a estudar em 2004”, lembra. O esforço para a conquista do diploma e de uma carreira estruturada foi enorme.
“Saía às 5 horas para pegar o ônibus. Trabalhava de dia e estudava à noite. Muitas vezes passei a noite estudando. Em 2005 concluí, mas faltava dinheiro para o curso técnico. Então, fui morar minha mãe, e com o dinheiro do aluguel da minha casa, paguei o curso”, explica. Em 2008, Andrea se formou técnica em Segurança do Trabalho (TST). Desde então, segue carreira no setor elétrico.
Antes da RIP, ela trabalhou como técnica em higiene bucal na prefeitura de Delta, cidade vizinha à Usina de Igarapava. Durante
as aulas, apareceu a oportunidade na hidrelétrica: “Em 2009, o meu professor, vendo o meu esforço, conseguiu um trabalho
para mim em Igarapava. Era um contrato de 45 dias, mas abri mão do meu trabalho na prefeitura, onde era concursada, para agarrar a oportunidade”, relembra.
No cargo de técnica de segurança no trabalho, após 30 dias foi efetivada. Hoje, aos 44 anos, trabalha na RIP Serviços Industriais, cujos trabalhadores e trabalhadoras o Sindieletro representa. E lá se vão 11 anos no setor elétrico. “Trabalho muito e amo o que eu faço”, destaca.
Sexismo num ambiente com predominância masculina
No entanto, a entrada na empresa não foi apenas flores: o machismo permeou seu início. “Os homens ficavam de cara feia, me destratavam. Falavam coisas como: ‘Lá vem a dama de ferro’, ‘Chegou agora e já está querendo sentar na janela?’, ’Lugar de mulher é em casa’. Mas com o tempo, mostrei que vim para ficar. Se eles não gostassem, não poderiam fazer nada. Mostrei que
era amiga, não inimiga deles”, explica. A trabalhadora conta que usava do didatismo para lidar com as situações, já que sempre
foi sindicalista “de carteirinha”.
Trabalhadoras na área de energia
Segundo a Agência Internacional de Energia Renovável (Irena), as mulheres ocupam 22% dos postos de trabalho na área da energia, no mundo. Ainda é um número minoritário, mas a tendência é de crescimento da participação feminina, em consonância à capacitação profissional cada vez maior das trabalhadoras.
Andrea tem família grande: três filhos e sete netos. A nova geração está chegando, mas a expectativa para oportunidades, em vista do governo atual, não é tão boa: “Hoje vejo que a mulher ocupa muito espaço na sociedade, mas ainda está a léguas de assumir cargos considerados masculinos. E o governo também não ajuda. Jamais compactuei com o que é praticado. Acredito
que pagamos por um desgoverno”, analisa.
Apesar do momento difícil, a história de Andrea mostra que há luz no fim do túnel para mulheres ocuparem seu espaço. Resta que o meio também se adapte para a chegada de mais trabalhadoras.
Por Maria Beatriz, jornalista