Os escândalos da compra superfaturada da vacina indiana Covaxin e as denúncias de cobrança de propina para compra do imunizante da AstraZenica e a morte em decorrência da Covid-19 de mais de 514 mil pessoas no Brasil, muitas das quais poderiam estar vivas se o país tivesse começado a vacinar mais cedo, são mais do que suficientes para o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) dar andamento ao superpedido de impechment contra o presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL).
A afirmação é do vice-presidente da CUT, Vagner Freitas, que foi a Brasília para acompanhar o protocolo do superpedido de impeachment, na quarta-feira (30), às 15h, e participou de coletiva de imprensa e do ato público em frente ao Congresso Nacional, às 17h.
O superpedido é um ultimato ao presidente da Câmara para que dê andamento no processo de afastamento de Bolsonaro, diz Vagner. Somente da CUT, este é o terceiro ou quarto dos mais de 120 pedidos pedido de impeachment que já foram entregues, complementa.
“Estamos unidos com movimentos sociais, os movimentos ligados ao centro da política – partidos de centro, de esquerda, centrais sindicais e frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo para pressionar Arthur Lira, que tem a obrigação e desengavetar as solicitações de impeachment porque o Brasil merece uma resposta”, afirma Vagner Freitas.
A CUT, centrais sindicais, partidos de diferentes linhas políticas e ideológicas, além de várias entidades dos movimentos sociais e da entidade civil, ao todo mais de 700 entidades e pessoas físicas, assinam o superpedido de impeachment de Bolsonaro.
Para Vagner, só o fato de Bolsonaro ter negligenciado medidas de enfretamento à pandemia do novo coronavírus, compra de vacinas, isolamento social já seriam motivos para destitui-lo. Agora, diz, ainda tem indicações de práticas de corrupção na compra de vacinas.
Além de reunir todos os mais de 120 pedidos já protocolados da Câmara dos Deputados até o momento, o superpedido inclui como razão urgente para o impeachment os mais recentes acontecimentos investigados pela CPI da Covid no Senado, relacionados a supostos atos de corrupção nas negociações das vacinas Covaxin e AstraZenica.
O ato
De acordo com Vagner Freitas, o ato político que simboliza a entrega do documento ao Congresso tem o objetivo de chamar a atenção da opinião pública para a urgência de afastar Bolsonaro do poder. “Para que o Brasil e o mundo saibam que para o país voltar a crescer, para gerar emprego, para que possamos sobreviver, e não sermos mais assassinados por esse governo, só com ‘fora, Bolsonaro’”, diz o dirigente.
Vagner reforça ainda que o ato também significou uma preparação para o 3 de julho (#3J), próximo sábado, dia em que mais uma vez, CUT e movimentos populares vão às ruas para exigir o impeachment com bandeiras de luta urgentes, como auxílio emergencial de R$ 600, vacina para todos e todas, contra privatizações, contra reforma Administrativa e por mais empregos.
“É essencial para que haja o Fora Bolsonaro. Com o Congresso conservador que temos, a pressão do movimento é realmente essencial”, diz Vagner sobre a manifestação do próximo sábado.
Por isso, ele complementa, “CUT convoca seus militantes, sindicatos, trabalhadores e trabalhadoras - convoca o Brasil inteiro para ir às ruas, seguindo protocolos de segurança para gritar ‘fora, Bolsonaro’, o mais letal vírus que temos que extirpar do Brasil”.
Crimes relacionados no superpedido
Além de 21 crimes de responsabilidade já listados anteriormente, conforme disse o vice-presidente da CUT, serão incluídas as recentes denúncias de prevaricação na compra superfaturada da vacina Covaxin que vieram a público na última sexta-feira (26), após depoimento dos irmãos Miranda à CPI da Covid no Senado.
Acusações de apologia à tortura, participação em atos antidemocráticos, incitação de motim entre classes armadas e crimes contra a saúde pública são alguns deles.
Veja a lista de crimes que constam no superpedido:
Crime contra a existência política da União
Ato: fomento ao conflito com outras nações
Crime contra o livre exercício dos Poderes
Ato: ameaças ao Congresso, STF e interferência na PF
Tentar dissolver ou impedir o funcionamento do Congresso
Ato: declarações do presidente e participação em manifestações antidemocráticas
Ameaça contra algum representante da nação para coagi-lo
Ato: disse que teria que “sair na porrada” com senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), membro da CPI da Covid
Opor-se ao livre exercício do Poder Judiciário
Ato: interferência na PF
Ameaça para constranger juiz
Ato: ataques ao Supremo
Crime contra o livre exercício dos direitos políticos, individuais e sociais
Ato: omissões e erros no combate à pandemia
Usar autoridades sob sua subordinação imediata para praticar abuso do poder
Ato: trocas nas Forças Armadas e interferência na PF
Subverter ou tentar subverter a ordem política e social
Ato: ameaça a instituições
Incitar militares a desobedecer a lei ou infração à disciplina
Ato: ir a manifestação a favor da intervenção militar
Violar direitos sociais assegurados na Constituição
Ato: omissões e erros no combate à pandemia
Crime contra a segurança interna do país
Ato: omissões e erros no combate à pandemia
Permitir a infração de lei federal de ordem pública
Ato: promover revolta contra o isolamento social na pandemia
Crime contra a probidade na administração
Ato: gestão da pandemia e ataques ao processo eleitoral
Expedir ordens de forma contrária à Constituição
Ato: trocas nas Forças Armadas
Proceder de modo incompatível com o decoro do cargo
Ato: mentiras para obter vantagem política
Negligenciar a conservação do patrimônio nacional
Ato: gestão financeira na pandemia e atrasos no atendimento das demandas dos estados e municípios na crise de saúde
Crime contra o cumprimento das decisões judiciárias
Ato: não criar um plano de proteção a indígenas na pandemia
Blindar subordinados em caso de delitos
Ato: não pediu investigação de suposta irregularidade na Covaxin
Reportagem da Folha de São Paulo lista ainda outros crimes praticados pelo presidente:
Provocar aglomerações e não respeitar protocolos de segurança ao cumprimentar pessoas;
Incentivar o não uso da máscara e retirar a máscara de outras pessoas;
Acusações sobre fraude eleitoral, sem apresentar provas (pro exemplo, ao afirmar que a urna eletrônica não é segura e dizer que se Lula for eleito, será fraude);
Ameaças veladas sobre 2022 (mais uma vez ao citar Lula, se for eleito no ano que vem);
Desinformação sobre a vacina e máscara;
Defesa do tratamento precoce da Covid-19 com medicamentos ineficazes;
Falas incompatíveis com o cargo;
Ataques contra a imprensa;
Todas as ações estão previstas como crimes, de acordo com o Código Penal e com a Lei 1019/1950.
Fonte: CUT, por Andre Accarini