A presidenta da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG) e deputada estadual eleita, Beatriz Cerqueira, defendeu a abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, na região Metropolitana de Belo Horizonte (MG). A primeira reunião pública para apurar responsabilidades por mais esta tragédia anunciada será nesta terça-feira, 29, às 17h, na Assembleia Legislativa.
“Vamos construir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar, apurar e fiscalizar a atuação das mineradoras em nosso estado. Ela é constituída a requerimento assinado por 26 deputados e deputadas estaduais. É o que precisamos”, defendeu a dirigente.
Beatriz visitou as áreas atingidas pela tragédia ambiental neste sábado (26) e, via rede social, falou sobre sua indignação com mais um crime cometido por mineradoras. “Foi uma sofrida retrospectiva do outro crime cometido por mineradoras, em Mariana”.
Em nota publicada no Facebook, a presidenta da CUT/MG afirma que depois do rompimento de barragens em Mariana, em 2015, a Central e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) continuaram denunciando o atual modelo de mineração, com empresas privatizadas e multinacionais que visam o lucro a qualquer custo, mas não foram sequer ouvidos.
“Após o período do impacto inicial em Mariana, continuamos denunciando, questionando, cobrando a punição dos responsáveis fomos chamados de radicais, isolados, ninguém nos ouvia! Éramos acusados de não deixar a Samarco voltar a funcionar e responsabilizados por "gerar desempregos", denuncia a dirigente.
Veja a íntegra da nota
Voltei a Brumadinho neste sábado
Uma sofrida retrospectiva do outro crime cometido por mineradoras, em Mariana, me veio à memória.
Vi o local do rompimento da barragem em Córrego do Feijão. Como uma mineradora coloca o refeitório, sua área administrativa e enfermaria na beira da barragem? Não consegui compreender como fizeram isso e como nenhum órgão fiscalizador fez nada a respeito. Como depois do que vivemos em Bento Rodrigues (Mariana) não tinha, de novo, nenhum plano de evacuação e nenhuma sirene tocou?
Quando, após o período do impacto inicial em Mariana, continuamos denunciando, questionando, cobrando a punição dos responsáveis fomos chamados de radicais, isolados, ninguém nos ouvia! Ninguém ouvia as vítimas! Éramos acusados de não deixar a Samarco voltar a funcionar e responsabilizados por "gerar desempregos". Éramos acusados de "cuidar mais das vítimas do que dos empregos", éramos poucos a dizer que a Samarco era criminosa em atividades oficiais. Depois das selfies muitos políticos sucumbiram ao poder econômico e político exercido pelas mineradoras.
As mineradoras não tem um plano para a preservação da vida, mas tem um plano de controle após os crimes que cometem:
São elas que controlam as informações sobre desaparecidos e atingidos. O controle lhe é fundamental para construir a ideia de que o impacto é menor do que a realidade e assim também controlar a comoção pública. Fazem parecer um processo natural diante de "um acidente". Não é. Compare os números divulgados a cada dia.
Quem controla a área do rompimento e barragens não rompidas continua sendo a mineradora, mesmo comprovada a sua incapacidade de fazê-lo. O Poder Público vai depender das suas informações para atuar.
Controlam para que a solidariedade não se transforme em algo mais perigoso pra ela. Contam para isso com todo o sistema que orbita em torno dos seus interesses econômicos, com ramificações em vários Poderes do Estado.
Disputam a narrativa do que aconteceu, suas consequências e o futuro. Tem gente especializada e poder econômico para isso. Colocam em campo pessoas que atuam nisso, mesmo quando não se apresentam como representantes da mineradora.
Atuam para isolar, desqualificar e criminalizar lideranças populares, comunitárias, religiosas que não aceitam se corromper e trabalhar a serviço deste sistema.
Operam no Poder Legislativo para impedir que este vote projetos que contrariem os seus interesses. Num Estado minerado brasileiro um deputado apresentou o projeto mais radical de todos sabendo que o mesmo não seria aprovado. Já estava combinado.
Já aprendi: eles não se importam com a vida das pessoas. Por isso as sirenas não tocam, as barragens rompem e eles não calculam o que os rejeitos atingirão e destruirão, não há plano de evacuação nem de atendimento aos atingidos. Quem ampara as pessoas são Poder Público e esta fabulosa rede de solidariedade que se forma sem que ninguém faça um chamado oficial. Foram estas pessoas numa extraordinária rede solidária que vi hoje em Brumadinho ajudando outras pessoas. Abracei pessoas que não conhecia, ouvi o relato de sofrimento de várias famílias. Será uma longa luta!
Fonte: CUT MG