CUT lança guia de negociação para garantir direitos dos trabalhadores em home office



CUT lança guia de negociação para garantir direitos dos trabalhadores em home office

Cartilha que será lançada na próxima sexta-feira (16) tem diretrizes para orientar sindicatos em negociações e acordos coletivos. Objetivo é preservar qualidade de vida, saúde e direitos dos trabalhadores
 
A necessidade de isolamento e distanciamento social para conter o avanço do coronavírus tornou o teletrabalho, também chamado de home office, realidade para milhares de trabalhadores e trabalhadoras. Em um primeiro momento, para muitos pareceu ser uma forma interessante de exercer suas funções profissionais, mas com o tempo surgiram alguns problemas para os trabalhadores, como a falta de controle de limite para jornada de trabalho e a falta de equipamentos adequados.

O tema, que já era motivo de preocupação para o movimento sindical, se tornou urgente. A CUT, junto com sindicatos e com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), realizou um seminário no ano passado, que apontou caminhos para a regulação desta forma de relação de trabalho e originou uma cartilha para subsidiar as entidades em negociações e acordo coletivos.

“É o resultado do um esforço coletivo da CUT, do Dieese com participação do Escritório LBS Advogados a partir da sistematização de fontes como a própria legislação, as notas técnicas do MPT [Ministério Público do Trabalho], estudos acadêmicos, convenções e acordos coletivos de trabalho”, explica o secretário de Relações do Trabalho da CUT, Ari Aloraldo Nascimento.

Além do seminário, foram feitas diversas atividades para um estudo maior sobre o tema tendo como base as reais necessidades dos trabalhadores que chegavam – e chegam – por meio dos  sindicatos. Experiências de categorias como a dos bancários no ano passado - a categoria incluiu as condições de trabalho como pauta permamente nas negoiciações com os bancos - e experiências internacionais também serviram de base para a elanoração da cartilha.  

Luta no Congresso Nacional

Outra função da cartilha será travar uma luta no legislativo para que sejam criadas leis que regulem o teletrabalho. “A partir da cartilha, queremos tentar colocar um freio de arrumação nesse processo. Entendemos que, para alguns pontos desse processo, o Congresso precisa elaborar projetos que protejam os trabalhadores, garantindo um mínimo de segurança, saúde e qualidade tanto do trabalho quanto de vida”, diz o dirigente.

Os problemas

Para muitas empresas, o teletrabalho se tornou um investimento lucrativo, já que elas deixaram de ter custos operacionais, economizando com energia elétrica, materiais de escritório, bem como equipamentos e manutenção decorrente do uso deles.

Para muitos trabalhadores, após o primeiro momento - de sensação de mais liberdade e uma ilusão de maior conforto – começaram a aparecer mais custos, menos liberdade dentro de casa, dificuldades por falta de equipamentos adequados e outra sensação – a de invasão da vida pessoal -, afinal, como efeito do teletrabalho, o funcionário pode se sentir na obrigação de resolver problemas além da jornada.

O aumento do stress foi um dos problemas observados pelos sindicatos. A saúde mental dos trabalhadores ficou afetada com o trabalho em casa pelo conjunto desses fatores. Além disso, é comum o trabalhador dispor ou reservar um cômodo de sua casa para servir de extensão da empresa.

“Não deixa de ser uma invasão à casa do trabalhador”, pontua Ari Aloraldo. E, para além disso, uma vez que as empresas se apoderaram desses espaços, começaram a cortar direitos dos trabalhadores como vale-transporte e tickets alimentação e refeição, completa o dirigente.

“Esses direitos foram suprimidos porque as empresas começaram a fazer uma leitura pequena do processo, no sentido de considerar que se o trabalhador está em casa, não é necessário fornecer os tickets, por exemplo.  Mas, do nosso lado, começamos a colocar tudo isso na ponta do lápis e vimos que muitas empresas passaram a economizar e até lucrar”, explica o dirigente.

A falta de equipamentos adequados e consequente uso dos próprios recursos também foram demandas levantadas pelos sindicatos. São os casos em que os trabalhadores usam o próprio celular, o próprio computador, e ainda por cima, além da energia elétrica, bancam os pacotes de dados de internet para poderem trabalhar. E não recebem nenhuma compensação por isso.

Também há relatos de aumento do assédio moral aos trabalhadores. “Quando o trabalho não é presencial fica mais difícil detectar. O espírito que se tem no coletivo, a valorização do trabalho também desaparece. Quando você não está no seu ambiente, acaba se tornando um trabalhador invisível. É tratado muitas vezes, como uma máquina”, diz Ari.

Direito à desconexão e a questão dos custos

As diretrizes que farão parte da cartilha são relacionadas a vários outros pontos levantados pelos sindicatos.

Um deles é o direito à desconexão do trabalho. Com o teletrabalho, trabalhadores têm enfrentado a ampliação do tempo de trabalho, para além da jornada contratada ao longo do dia e, em diversas vezes, para os finais de semana e dias de folga.

Outro diz respeito aos custos do trabalho (energia, internet, mobiliário, equipamentos etc.). A cartilha vai apontar que estes custos sejam responsabilidade do empregador.

“Quando o trabalho é realizado dentro estabelecimento empresarial é obrigação da empresa disponibilizar as condições de trabalho. Não é porque o espaço mudou que há razão para isto ser alterado”, diz Ari Aloraldo.

A cartilha também terá pontos relativos à garantia de igualdade de direitos negociados nas convenções e acordos coletivos para quem estiver em teletrabalho e para quem estiver em trabalho presencial.

Lançamento

A apresentação da cartilha acontece nesta sexta-feira (16), à partir das 9h, nas redes sociais da CUT (Facebook e Youtube), durante o Seminário sobre Reforma Administrativa, com participação dos Coletivos Jurídicos da CUT, Direção Nacional da CUT e estaduais, além de dirigentes de sindicatos e confederações filiadas.

Fonte: CUT, por Andre Accarini

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