Num dos encontros sobre o meio ambiente mais aguardados pelo planeta dos últimos anos, o presidente Jair Bolsonaro( ex-PSL), mais uma vez nega as acusações divulgadas com inúmeras provas, de que o Brasil não está respeitando o Acordo de Paris, de 2015, onde se comprometeu a lutar pela diminuição de emissões de carbono e preservar as florestas brasileiras.
Na ‘Cúpula de Líderes sobre Clima’, que reúne 40 líderes mundiais e tem como anfitrião o presidente dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden, em fala na quinta-feira (22), Bolsonaro disse que o Brasil está na” vanguarda do enfrentamento do aquecimento global"; que o Brasil é um dos países que menos polui, e que seu governo fortaleceu e duplicou os recursos para os órgãos de fiscalização ambientais, entre outras inverdades.
Bolsonaro ainda prometeu até 2030 acabar com o desmatamento ilegal, e neutralizar as emissões de gás até 2050, mas ambientalistas dizem que o governo não faz nada neste sentido e que a promessa é inviável se continuar o mesmo ritmo de ações do governo.
Há inúmeras denúncias de que o governo brasileiro não está, sequer, utilizando os R$ 2,9 bilhões da verba do Fundo Amazônia, doados pela Noruega e a Alemanha. O governo brasileiro ainda quer mais R$ 1 bilhão para aplicar nas ações de preservação da Amazônia, segundo Salles, que atuou de forma explícita a favor de madeireiros investigados e multados pela Polícia Federal no mês passado. A denúncia é do ex-Superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, demitido do cargo um dia depois de enviar uma notícia-crime contra Ricardo Salles para o Supremo TRIBUNAL Federal (STF).
“Ele estaria atuando e favorecendo os madeireiros e isso foi feito de uma forma muito explícita. Tem vídeo dele apontando para a placa de uma empresa investigada que, segundo ele, ‘estava tudo certinho’ e que, na verdade, em relação a esta empresa, já havia até laudo pericial apontando as ilegalidades cometidas”, disse Saraiva em entrevista ao jornal O Globo.
O secretário de Meio Ambiente da CUT Nacional, Daniel Gaio, enumera cinco questões que comprometem o Brasil, a partir da fala do presidente da República na Cúpula do Clima.
1 – Brasil desmoralizado
O discurso de Bolsonaro desmoraliza ainda mais o país na política ambiental e na diplomacia, setores que sempre fomos protagonistas.
“O discurso negacionista de Bolsonaro deixa o Brasil ainda mais isolado, com o avanço do governo dos EUA assumindo uma posição mais progressista, em relação à proteção ambiental”, diz Daniel, se referindo à decisão de Joe Biden de cortar 50% das emissões de gases causadores do efeito estufa até 2030,entre outras medidas anunciadas pelo presidente norte-americano.
2- Fake news
Para Gaio, os dados apresentados por Bolsonaro são pura “fake news” e não estão de acordo com estudos de pesquisadores de órgãos públicos.
“Bolsonaro proibiu esses pesquisadores de se pronunciarem. Ele apresenta mentiras, descontrói números e dá dados falsos, além de fazer promessas não realizáveis”, diz Gaio.
O jornal Folha de São Paulo questionou o pronunciamento de Bolsonaro na Cúpula e demonstrou que o presidente mentiu, ou, no mínimo, informou erroneamente os dados sobre o meio ambiente no país.
3- Brasil de pires na mão
Para conseguir financiamento internacional, Bolsonaro passa o pires para o resto do mundo, com um discurso negacionista.
“Ele recuou dizendo que o país vai combater o desmatamento, mas a verdade é que a narrativa é a mesma do ministro Salles, que não apresenta dados concretos, de como vai utilizar esses recursos internacionais, e não se compromete de forma real e efetiva com a proteção da floresta e de seus povos originários”, afirma o dirigente da CUT.
4 – Sem diálogo com sociedade civil
Para o secretário de Meio Ambiente da CUT, a prática deste governo em todos espaços é a completa ausência de diálogo com a sociedade civil.
“Não há diálogo sequer com os servidores, nem com a sociedade civil, nem com os povos da Amazônia. O governo nos coloca numa posição tão difícil que é praticamente impossível trabalhar contra o desmatamento”, diz Gaio.
5 – Militarização do combate ao desmatamento
Para Gaio, o desmonte da política pública de Estado tem desacreditado os órgãos que têm capacidade de lutar contra o desmatamento. Os recursos são poucos e mal empregados e estão sendo usados para pagar diária de militar.
“O militar vai para a Amazônia e não sabe o que fazer, é uma militarização das forças de combate ao desmatamento, que conta com o apoio também do vice-presidente, o general Mourão”, critica Gaio.
As perseguições de Bolsonaro e Salles
Bolsonaro, no entanto, tenta esconder do mundo que fiscais, cientistas e delegados da Polícia Federal, que atuam na defesa do meio, vêm sendo perseguidos pelo seu governo, na figura do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, um notório defensor dos madeireiros e do agronegócio.
Bolsonaro e Salles perseguem quem se opõe à destruição do meio ambiente de maneira clara, como no caso do fiscal do Ibama, José Olímpio Augusto Morelli, que em 2012, aplicou uma multa de R$ 10 mil a Bolsonaro quando o então deputado federal pescava irregularmente na Estação Ecológica de Tamoios, entre Angra dos Reis e Paraty, no Rio de Janeiro. Em março de 2019, portanto, três meses após tomar posse na Presidência, o servidor público foi exonerado da chefia do Centro de Operações Aéreas da Diretoria de Proteção Ambiental (Dipro), uma divisão do Ibama.
Uma das perseguições que mais revoltaram os ambientalistas foi a exoneração do ex-presidente do Instituo Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão. O presidente e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, queriam que o cientista revisse os dados do Inpe, de 2019, que revelaram a destruição de 9.762 quilômetros de terra na floresta amazônica – um aumento de 30% em relação ao ano anterior.
O último levantamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), divulgado segunda-feira (19), mostra que o desmatamento da Floresta Amazônica em março deste ano, foi o maior registrado para o mês em 10 anos. Com 810 km² de floresta desmatados, a taxa é 216% superior à registrada em março de 2020.
Após a demissão de Galvão, a revista científica Nature, considerou o cientista brasileiro, um dos dez nomes mais importantes da ciência, por representar resistência ao atual governo do Brasil.
O que está em jogo na Cúpula do Clima
Enquanto, Bolsonaro e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tentam fechar um acordo ambiental com o presidente norte-americano, as tratativas são permeadas de problemas sobre os impactos que esse acordo pode gerar aos biomas brasileiros, em especial, à Amazônia, dizem os integrantes do Grupo Carta de Belém, que a CUT faz parte.
Em texto publicado em seu site, o Grupo ‘Carta de Belém’, alerta que a convocação de uma Cúpula de Líderes para debater a política ambiental global, nesta data, não sinaliza apenas a renovação da credencial estadunidense nessa agenda, mas, principalmente, a consolidação de uma visão que deposita no mercado – em particular, no mercado financeiro – a solução para todas as grandes crises que se acumulam atualmente: econômico-financeira, social, sanitária, do aumento da fome e climática.
Em trecho, o grupo diz que “não é novidade que as abordagens hegemônicas sobre a questão ambiental e climática vêm pavimentando o caminho para transformar a natureza em um ativo financeiro. Há pelo menos dez anos nós, do Grupo Carta de Belém, nos dedicamos a criticar este processo. Agora, no entanto, sentimos que estamos diante de um momento crucial”.
Para Daniel Gaio, o motivo da cúpula do clima é a financeirização da natureza. “Precisamos combater, não apenas o discurso do Bolsonaro, mas a mercantilização da natureza. As negociações internacionais significam o avanço do neoliberalismo ambiental, do chamado capitalismo verde, de soluções financeirizadas do sistema capitalista sobre a natureza”, conclui Gaio.
Fonte: CUT