Curso de medicina, atendimento no SUS será na residência



Curso de medicina, atendimento no SUS será na residência

Governo desiste de estender curso de medicina, mas mantém obrigatoriedade de atendimento no SUS, durante a residência. SindSaúde e presidente do Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte comentam a decisão

O curso de medicina no Brasil não terá mais oito anos, como o governo havia anunciado, no início do mês. A decisão foi divulgada, nesta quarta-feira, após reunião entre os ministros da Educação, Aloizio Mercadante, e da Saúde, Alexandre Padilha. Agora, o curso seguirá com duração de seis anos, mas o período de residência será integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS), sendo o primeiro ano dedicado ao atendimento de atenção básica e emergência da saúde pública.

A proposta anterior, que fazia parte do Programa Mais Médicos, obrigava todos os estudantes a passarem dois anos no atendimento ao SUS para depois se formarem. A nova decisão, que foi orientada por uma comissão de especialistas que estuda o programa, permite que o aluno se forme e, só então, seja obrigado a prestar serviço à saúde pública. Isso acontecerá durante o primeiro ano da residência que ele escolher fazer.

“Durante todo o período de sua formação na especialização, o médico atuará junto à população, dedicando o primeiro ano da residência à atenção básica e urgência e emergência, setores fundamentais para a formação mais humanizada desse profissional. Esse é um ponto central para o governo, aprimorar a formação médica generalista e garantir uma vivência necessária no sistema público de saúde”, disse o ministro Alexandre Padilha.

Repercussão

O diretor SindSaúde e conselheiro nacional de saúde, Renato Barros, afirma que a proposta foi positiva, pois manteve a obrigação do atendimento ao SUS e aparou arestas da decisão anterior, que estavam gerando dificuldade. Ele afirma que o mais importante é o país pare de formar médicos apenas para o mercado. “O Estado precisa resgatar a constituição e assegurar atendimento para todos por meio da regulação da formação dos médicos, mas também dando estrutura para que o atendimento seja feito com qualidade e segurança”, afirma.

Além disso, ele afirma que o governo precisa intervir até na grade curricular do curso, qualificando os profissionais para o atendimento público. O diretor do SindSaúde destaca, ainda, que a obrigatoriedade do atendimento no SUS é legítimo, assim como o serviço militar. “É um retorno daqueles que estão formando com recurso público”, diz.

A presidente do Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Ângela de Assis Maia Moura, concorda com a obrigatoriedade no atendimento público.“Muitos fazem o curso com foco na iniciativa privada, querendo abrir consultórios particulares e, por isso, temos tanta defasagem no atendimento público, principalmente nas periferias”, critica. Ela destaca que o usuário do SUS não se importa se é aluno de medicina, se é residente ou até estrangeiro: ele anseia por atendimento.

Por outro lado, ela destaca que as ações propostas pelo Programa Mais Médicos não serão a solução para a saúde no país. “Se não tiver uma rede estruturada capaz de oferecer exames de alta complexidade, plano de carreira para os profissionais de saúde e uma política salarial, essas medidas não vão resolver”, alerta.

Médicos estrangeiros

Em relação à vinda de médicos estrageiros para preencher as dez mil vagas oferecidas pelo governo no atendimento público, o presidente do SindSaúde se diz favorável. “Concordamos porque esse profissional só virá se as vagas não forem preenchidas por brasileiros. O que não concordamos é com a forma de contratação, que é temporária. Entendemos que deve ser um contrato permanente para o profissional ter tranquilidade para construir sua carreira”, afirma.

Já a presidente do Conselho Municipal não vê com bons olhos a proposta. “Vamos chamar um médico de Cuba, por exemplo, mas não temos o mesmo modelo de saúde desse país”, diz. Além disso, ela critica a grande diferença que se estabelecerá entre o salário desses médicos e o dos profissionais da prefeitura. “Como vão fazer essa diferenciação de salário? É contraditório, pois deveriam fortalecer o que já temos, melhorar o plano de carreira dos nossos profissionais para depois chamar estrangeiros”, afirma.

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