Mais um tucano aparece na lista dos nomes citados nas investigações da Operação Lava Jato. Dessa vez, Antonio Anastasia (PSDB), atual senador e ex-governador de Minas Gerais, braço direito de Aécio Neves, ex governador de Minas Gerais, presidente do PSDB e senador, é suspeito de envolvimento no esquema de corrupção organizado pelo doleiro Alberto Youssef.
O primeiro tucano foi acusado no depoimento de Paulo Roberto Costa em 2014, foi o ex-senador e então presidente do PSDB, Sérgio Guerra, já falecido, que recebeu R$ 10 milhões para abafar CPI que apurava contratos da estatal. No entanto, a imprensa ainda faz vistas grossas para casos que envolvam políticos do PSDB e quando divulga, não propaga com a mesma intensidade de quando se trata do PT.
No domingo (11), o programa Fantástico, da TV Globo, usou oito minutos e meio para noticiar a prisão do vereador Adalberto Alexandre Domingues (PRTB), presidente afastado da Câmara Municipal de Ribas do Rio Pardo, cidade do Mato Grosso do Sul. A acusação do Ministério Público Estadual sul-matogrossense é sobre desvio de verbas em diárias e contratos com fornecedores.
Mesmo se tratando de noticiário regional sem repercussão nacional, a matéria seria bem-vinda por se tratar de dinheiro público, não fosse a estranheza de ser levada ao ar com atraso de 46 dias após os acontecimentos, uma eternidade para a televisão. A reportagem nem tem o valor de denúncia para autoridades apurarem, se limitando a narrar o ocorrido, pois já está tudo sendo apurado pelos promotores.
Se o Fantástico quisesse fazer uma matéria sobre corrupção da semana, o assunto do momento e de dimensão nacional é o envolvimento do nome do senador Antonio Anastasia (PSDB) na Operação Lava Jato. Segundo depoimento do policial federal afastado Jayme Alves de Oliveira Filho, também chamado de "Careca", ele fazia entrega de dinheiro a mando do doleiro Alberto Youssef e uma das entregas em Belo Horizonte feita em 2010 teria como destinatário Anastásia, no valor de R$ 1 milhão.
Este depoimento também não é propriamente novo. Foi realizado no dia 18 de novembro de 2014 e, diferente de outros depoimentos onde foram citados nomes de petistas, ficou este tempo todo sem ser publicado como "vazamento". Jayme "Careca" cita três políticos como destinatários de dinheiro que ele transportou para o esquema: Anastasia, do PSDB, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Luiz Argolo (SD-BA). Os dois primeiros têm, digamos, uma espécie de "fórum privilegiado" na mídia tradicional que os poupa de notícias desgastantes até o limite do possível.
O telejornal da TV Globo de maior audiência só noticiou o envolvimento do nome de Anastasia após o jornal Folha de S. Paulo noticiar. E mesmo assim foi uma matéria sob medida para reduzir danos ao tucano, dando generoso espaço para narrar a nota oficial emitida à imprensa pelo senador tucano e para ouvir o advogado de defesa do senador. Nenhum repórter teve a "curiosidade" de buscar identificar a casa citada pelo depoente, saber quem é o dono do imóvel, quem o habita e outras apurações óbvias que qualquer jornalismo com a estrutura que a TV Globo tem faria se o político alvo da delação fosse um petista. Nenhum político tucano foi importunado por repórteres com perguntas incômodas.
Neste contexto, a matéria que até ontem não servia para o Fantástico, com um vereador de uma cidade com 23 mil habitantes, eleito com 445 votos, foi retirada da prateleira e levada ao ar, tirando de evidência o ex-governador tucano de Minas, eleito senador com mais de 5 milhões de votos. Se alguém ainda tinha dúvidas quanto à parcialidade política da TV Globo, a própria escolha da pauta não deixa esta dúvida persistir.
Aliás, sobre parcialidade, o jornalista e colunista da Folha de S. Paulo Janio de Freitas escreveu uma nota sobre Anastasia, o braço direito de Aécio Neves:
Diferenças
Há um lado positivo no aparecimento de Antonio Anastasia entre os citados pelo ex-entregador de dinheiro ilegal a mando de Alberto Youssef. Não pela pessoa de Anastasia. Condutor da parte administrativa dos governos mineiros de Aécio Neves, enquanto Andrea Neves controlava a parte política e publicitária, Anastasia se tornou sucessor natural do chefe. Seria o ministro da Casa Civil se Aécio derrotasse Dilma, e elegeu-se senador. Sempre pelo PSDB.
A inclusão de Anastasia na Lava Jato fez a imprensa e a TV afinal pensarem um pouco na inconveniência de encampar e amplificar denúncias feitas por gente desqualificada e sem prova, sem sequer indício. E, na Lava Jato, sem que haja notícia das indispensáveis investigações para comprovar ou desmentir o delator premiado. Os vazamentos têm bastado para a imprensa e a TV.
Mas Anastasia e a concomitante acusação ao deputado peemedebista Eduardo Cunha já tiveram tratamento diferente. É o efeito tucano.