Quem nunca ouviu um carro de pamonha passando pela rua? Esse jingle é da pamonha mais famosa de Piracicaba que inspirou muitos pamonheiros pelo país. A fita cassete com a propaganda logo se espalhou para outras cidades de São Paulo, Paraná e Minas Gerais. É a voz de Dirceu que ainda predomina nas propagandas, mesmo que a pamonha não seja de Piracicaba.
Apesar de ser vendida ao longo de todo ano, nessa época há um aumento da procura da pamonha que é uma das comidas típicas das festas juninas. Mas, qual a origem da pamonha?
Origem
“A pamonha tem origem indígena. O seu jeito de fazer, as receitas e sabores foram sendo reelaboradas ao longo da história pelas mãos brancas e negras que vão chegando às terras americanas e se encantam e passam a fazê-la e produzi-la. Com isso ela se fez presente em diversos eventos no Brasil”, explica o historiador Geenes Alves da Silva.
Desde então a pamonha é um quitute consumido em várias regiões do Brasil. E tem para todos os gostos, da tradicional doce e salgada, até as recheadas com queijos, carnes, abobrinha, jiló e um novo sabor mais moderno que é a pamonha de chocolate.
Patos de Minas
A família do historiador Geenes também é de pamonheiros de Patos de Minas (MG), município em que o alimento se tornou patrimônio cultural em 2019. Na cidade com 150 mil habitantes, a tradição da pamonha é forte tanto no campo, quanto na cidade, tendo um papel tanto alimentar, mas também de socialização entre as famílias da região mineira, segundo Silva.
Tradição
Em 2020, só na Ceasa Minas Gerais, a família comercializou mais de 101 mil sacas de milho. Em 2021, em razão da pandemia, foram 62 mil sacas. Os produtores locais pequenos e médios fazem também a venda nos mercadinhos, nas mercearias e também direto com os consumidores do município mineiro.
“A pamonha se tornou uma tradição em Patos de Minas, pela própria força da cultura do milho no município. A cidade foi, ao longo do século XX,- e ainda é - uma potência na produção do cereal. Em decorrência disso, surge a Festa do Milho na década de 1950 e a pamonha acompanha esse processo de evolução e pujança do milho. É um processo que se dá no campo a princípio e com a migração para a cidade, sobretudo em 1970 essa cultura se enraíza nos bairros de Patos de Minas”, afirma Geenes.
Maria Laudiene Pereira é de Patos de Minas e faz pamonha há 26 anos. Ela conta que começou a fazer pamonha por necessidade, mas também era um costume da mãe e do ex-marido que é apaixonado pela iguaria.
“Nós vivemos e sobrevivemos exclusivamente da pamonha. Eu me formei e me preparei para fazer pamonha, então, ela é a única coisa que faço com prazer e paixão é a pamonha. Então é dela que eu tiro o meu sustento, a faculdade do meu filho, tudo na minha vida, os meus sonhos, foi a pamonha que veio me oferecer”, destaca a pamonheira.
Laudiene diz que vende aos sábados em torno de 800 pamonhas e nos feriados chega a vender 1.000. Apesar do fim do relacionamento, ela afirma que a parceria na produção de milho com o ex-marido continua. A agricultora familiar e pamonheira Laudiene faz pamonhas no processo mais tradicional, conservando pequenos detalhes considerados essenciais nesse fazer artesanal. Um deles é ainda no cultivo e na colheita.
“A escolha do milho é muito importante na lavoura, o horário de apanhar, de manhãzinha antes do sol aquecer, para conservar as suas propriedades ele precisa estar fresco e geladinho e ainda com sereno”, detalha.
A partir da colheita, ela corta as pontas das espigas e faz a separação das palhas, depois se tirar o cabelo e começa a ralar o milho.
“Temos uma máquina que nos ajuda nesse processo. Aí sai separada a casca do milho e a polpa. Isso nos facilita, apesar de ser um processo artesanal com o manejo dos braços e mãos, porque é um processo braçal intenso na produção de pamonha com movimentos repetitivos”.
Depois disso, ela tempera o milho. Mas, ela ressalta que para cada tipo de milho é usada uma receita e uma quantidade de tempero medido e segunda ela a palha também ajuda a dar sabor.
Além de Minas Gerais, em São Paulo tem a famosa pamonha de Piracicaba e o prato é muito popular na região centro-oeste, especialmente no estado de Goiás, em mercados, restaurantes, feiras e pamonharias independentes da época do ano. No Nordeste, é doce e feita com leite de coco.
Fonte: Brasil de Fato, por Anelize Moreira