Concessões de usinas: O dilema da Cemig (parte 2)



Concessões de usinas: O dilema da Cemig (parte 2)

Este é o segundo artigo, de uma série de três, sobre a possível venda de ativos da Cemig iniciada na coluna da última sexta-feira (22/07 epode ser lida no portal do Hoje em Dia, clicando em Opinião e depois em Colunas). Na sexta, tratei da briga na Justiça entre a empresa e o Governo Federal pela renovação dos contratos de concessão de três importantes usinas hidrelétricas sob concessão da Cemig: a gigante São Simão, sua maior usina, e mais Miranda e Jaguara. Juntas, essas usinas perfazem 30% da capacidade total de geração da Cemig.

Afirmei que nas ações que correm no Supremo Tribunal Federal, os juízes poderão dar ganho de causa à Cemig, mantendo o regime anterior das concessões por mais 30 anos; ao governo, determinando a devolução das concessões para nova licitação; ou uma decisão híbrida, com a exigência de uma contrapartida da Cemig para a manutenção das usinas.

Neste último caso, a Cemig precisaria de caixa para pagar pela renovação das concessões. Vamos, então, analisar como está a situação financeira da empresa para fazer frente a este possível compromisso ou para adquirir novos ativos que contrabalançassem uma perda das concessões.
Com baixa geração de caixa e endividamento alto, resta à empresa a venda de ativos.

Volto a dizer que uma saída negociada, que vinha sendo tratada no governo Dilma, é improvável agora com o interino Michel Temer, que não abriria diálogo com o governo do petista Fernando Pimentel. Vamos, então, aos números do balanço do primeiro trimestre, que já são velhos, mas são os que temos (voltaremos ao assunto assim que a Cemig publicar seu balanço do segundo trimestre, o que deve acontecer nas próximas semanas).

Desempenho financeiro

Comparados aos números do primeiro trimestre do ano passado, a receita líquida caiu 23,9%, para R$ 4,452 bilhões e o lucro líquido, 99,7%, para inexpressivos R$ 5 milhões. Mas, o que mais interessa é a geração de caixa, ou seja, o dinheiro que a empresa pode movimentar livremente para fazer frente aos seus compromissos. É a geração de caixa (ou Ebitda) que mostra a capacidade de investimento ou de contratação de crédito de uma empresa. Esse também caiu fortemente, em 75,1%, para R$ 643 milhões.

Com a geração de caixa fraca, cai também o limite do dinheiro que os bancos estariam dispostos a emprestar para a empresa para bancar sua necessidade de investimentos. E existe o problema adicional do endividamento da Cemig, que já é muito alto, de R$ 11,9 bilhões (dívida líquida), e que tem parte significativa vencendo no curto prazo (R$ 3,9 bilhões somente neste ano). A dívida já representa 4,4 vezes a geração de caixa da empresa e está, portanto, muito acima do teto determinado pelo estatuto da empresa, de apenas 2 vezes.

Com baixa geração de caixa, endividamento alto e capacidade limitada de tomada de crédito, resta à empresa a venda de ativos para sanear as finanças e prepará-la para um novo salto de investimentos. É este o raciocínio lógico que está por trás da boataria sobre as empresas que seriam vendidas pela Cemig que tomou conta do mercado e alavancou as ações da Cemig na Bovespa nas últimas semanas.

Encerro amanhã essa série de artigos analisando o portfólio de empresas e participações da Cemig que poderiam ser vendidas e a possível estratégia de desinvestimento da empresa.

Por José Antônio Bicalho, colunista do Hoje em Dia, em 25/07/2016

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