Um incêndio no início da noite da quinta-feira (29) atingiu o galpão da Cinemateca Brasileira e parte do maior acervo de imagens em movimento da América do Sul foi consumida pelas chamas. O Corpo de Bombeiros recebeu chamado por volta das 18h e enviou 11 viaturas até o local.
"A possibilidade de autocombustão das películas em nitrato de celulose, e o consequente risco de incêndio frequentemente recebem mais atenção da mídia e do público. A instituição enfrentou quatro incêndios em seus 74 anos, sendo o último em 2016, com a destruição de cerca de 500 obras. O risco de um novo incêndio é real", alertaram os trabalhadores da instituição em abril deste ano.
O acervo é constituído por 250 mil rolos de filmes, alguns compostos por nitrato de celulose, que podem entrar em autocombustão caso não sejam mantidas as condições de refrigeração. Esse alerta vem sendo feito pelos trabalhadores da instituição desde 2020, mas nenhuma medida foi tomada pela Secretaria de Cultura do governo de Jair Bolsonaro (sem partido).
“Não há corpo técnico contratado, o acervo segue desacompanhado e não há qualquer informação sobre suas condições. Por esse motivo, lançamos um alerta acerca dos riscos que correm o acervo, os equipamentos, as bases de dados e a edificação da instituição”, diz a carta endereçada ao atual secretário especial de Cultura, Mario Frias. Não houve resposta.
Integrantes do movimento S.O.S Cinemateca também foram à manifestação da Avenida Paulista no último sábado (24) para alertar sobre os riscos, cada vez mais iminentes, de incêndio.
Enquanto as chamas consumiam o acervo, que contém entre outros itens a biblioteca de Glauber Rocha, grande parte do acervo da Embrafilme e o Acervo Paulo Emílio Salles Gomes, o secretário especial de Cultura, Mario Frias e André Porciuncula, número dois da secretaria, estavam na Itália para a Conferência dos Ministros da Cultura do G20, assim como o Ministro do Turismo, Gilson Machado, a quem a secretaria é ligada hierarquicamente, segundo informou a coluna Painel do jornal Folha de S. Paulo.
Em nota enviada à imprensa na noite da quinta-feira (29), a Secretaria Especial de Cultura diz que "lamenta profundamente e acompanha de perto o incêndio que atinge um galpão da Cinemateca Brasileira, em São Paulo (SP)". A secretaria afirma ainda que "todo o sistema de climatização do espaço passou por manutenção há cerca de um mês".
"A Secretaria já solicitou apoio à Polícia Federal para investigação das causas do incêndio e só após o seu controle total pelo Corpo de Bombeiros que atua no local poderá determinar o impacto e as ações necessárias para uma eventual recuperação do acervo e, também, do espaço físico. Por fim, o governo federal, por meio da secretaria, reafirma o seu compromisso com o espaço e com a manutenção de sua história", diz o texto.
Fonte: Brasil de Fato