Cinegrafista não morreu em vão



Cinegrafista não morreu em vão

"Ele não pode estar indo embora em vão", disse Arlita Andrade, viúva do cinegrafista Santiado Andrade, da Bandeirantes, morto pela ação dos black blocs. A morte do cinegrafista Santiago marcou a família , comoveu o país e põe lenha no debate sobre os limites para protestar.

Para alguns analistas, a única resposta que a sociedade brasileira pode dar ao quede chama de ação violenta de pseudo manifestantes é a aprovação de leis que criminalizem atos de vandalismo, barbárie e terrorismo. Mas isso não é consenso entre todas as forças políticas do campo democrático.

Alguns defendem regime de urgência na aprovação de leis contra atos de terrorismo já que há pouco tempo para garantir uma Copa de 2014 minimamente segura. Outros acusam o Senado de aplicar golpe contra a liberdade de expressão, já que reivindicaçôes levadas para protestos ainda estão sem resposta.

Leia abaixo carta da filha do cinegrafista morto

"Meu nome é Vanessa Andrade, tenho 29 anos e acabo de perder meu pai.


Quando decidi ser jornalista, aos 16, ele quase caiu duro. Disse que era profissão ingrata, salário baixo e muita ralação. Mas eu expliquei: vou usar seu sobrenome. Ele riu e disse: então pode!

Quando fiz minha primeira tatuagem, aos 15, achei que ele ia surtar. Mas ele olhou e disse: caramba, filha. Quero fazer também. E me deu de presente meu nome no antebraço.

Quando casei, ele ficou tão bêbado, que na hora de eu me despedir pra seguir em lua de mel, ele vomitava e me abraçava ao mesmo tempo.

Me ensinou muitos valores. A gente que vem de família humilde precisa provar duas vezes a que veio. Me deixou a vida toda em escola pública porque preferiu trabalhar mais para me pagar a faculdade. Ali o sonho dele se realizava. E o meu começava.

Esta noite eu passei no hospital me despedindo. Só eu e ele. Deitada em seu ombro, tivemos tempo de conversar sobre muitos assuntos, pedi perdão pelas minhas falhas e prometi seguir de cabeça erguida e cuidar da minha mãe e meus avós. Ele estava quentinho e sereno. Éramos só nós dois, pai e filha, na despedida mais linda que eu poderia ter. E ele também se despediu.

Sei que ele está bem. Claro que está. E eu sou a continuação da vida dele. Um dia meus futuros filhos saberão quem foi Santiago Andrade, o avô deles. Mas eu, somente eu, saberei o orgulho de ter o nome dele na minha identidade.

Obrigada, meu Deus. Porque tive a chance de amar e ser amada. Tive todas as alegrias e tristezas de pai e filha. Eu tive um pai. E ele teve uma filha.

Obrigada a todos. Ele também agradece.

Eu sou Vanessa Andrade, tenho 29 anos e os anjinhos do céu acabam de ganhar um pai."

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