Chico Buarque: Rádio Batuta recupera um tesouro



Chico Buarque: Rádio Batuta recupera um tesouro

O mínimo que se pode dizer da série de gravações antigas de Chico Buarque recuperadas pela Rádio Batuta, projeto do Instituto Moreira Salles, é que se trata de um tesouro. Mesmo ao ouvinte mais atento, é muito provável que vários desses registros tenham passado despercebidos.

Quando não, são repertórios que foram lançados apenas em compactos e ficaram perdidos no tempo, como a primeira gravação de “A Banda”, com acompanhamento de banda mesmo e outros foram censurados e sumiram, como foi o caso de “Apesar de Você”. Essa versão, diferente da que está no LP “Chico Buarque”, de 1978, foi lançada em 1970 e semanas depois proibida pela Censura da ditadura militar. O disquinho virou uma raridade disputada às escondidas a tapas pelos sebos do país.

São 17 gravações feitas principalmente no início da carreira do cantor e compositor, quase todas elas diferentes da maneira como as canções foram lançadas posteriormente em LPs. Dos primórdios, ao mesmo tempo em que se consagrava com “A Banda”, em 1966, no Festival da TV Record, Chico fazia um show com a cantora Odete Lara e o MPB4 na boate Arpège, no Rio de Janeiro. Deste espetáculo foi extraído o compacto simples dos dois artistas, com “Noite dos Meu RefrãoMascarados” de um lado e “” do outro.

Outra que saiu de um compacto, no ano seguinte, foi a linda e lírica “Até Pensei”, em versão diferente da do álbum “Chico Buarque de Hollanda volume 3”, o lado B de “Roda Viva”, outro sucesso dos festivais. Do mesmo ano, aparece “Tem mais Samba”, lado B do compacto que traz “Carolina”.

Uma das melhores curiosidades da série é “Tão bom que foi o Natal”, jingle natalino feito por Chico para ser distribuído aos clientes da imobiliária Clineu Rocha no Natal de 1967. Logo a seguir vem “Bom Tempo”, que rendeu a Chico um segundo lugar na 1ª Bienal do Samba, espremida entre “Lapinha”, de Baden Powell e Paulo César Pinheiro e o belo “Pressentimento”, de Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho.

A canção “Desalento”, imortalizada no álbum “Construção”, de 1971, aparece em uma versão diferente, como lado B da censurada “Apesar de Você”. “Jorge Maravilha”, com o pseudônimo de Julinho de Adelaide, inventado para driblar a censura, aparece ao vivo, ao lado do MPB4.

Tanto Mar, versão lançada em Portugal

A primeira versão para “Tanto Mar” composta em homenagem à Revolução dos Cravos foi lançada com letra diferente apenas em Portugal. A coletânea traz a gravação pela primeira vez para o outro lado do Atlântico.

Outra descoberta é a versão para a parceria “Quadrilha”, ao lado de Francis Hime, feita para o filme “A noiva da cidade”, de Alex Viany e lançada apenas em uma coletânea chamada “Seleção nacional de sucessos”, de 1977.

“Tantas palavras”, de Chico e Dominguinhos, aparece nessa versão da trilha da novela “Sabor de Mel”, de 1983, com letra diferente da que aparece no disco “Chico Buarque”, de 1984.

Outra raridade é a versão para “O que será (À flor da pele)/ O que será (À flor da terra)”, extraída do disco “Abril en Manágua – Concierto de La Paz en Centroamerica”, de 1984, gravado ao vivo em Manágua, Nicarágua, em abril de 1983. Do mesmo álbum aparecem ainda “Não existe pecado ao sul do Equador”, de Chico Buarque e Ruy Guerra) e “Batuquê de praia”, de Petrúcio Maia, com Fagner.

A playlist traz ainda uma outra versão para "Carolina" com Chico acompanhado pelo grupo Época de Ouro, extraída do disco “Há sempre um nome de mulher”, de 1987. A série encerra com o frevo de Carlos Fernando “No dia que o Cristo falou”, cantado por Chico no disco “Asas da América – Frevo”, de 1989.

A despeito de ser um documento histórico de valor incomensurável, a série recuperada pela Rádio Batuta é pra lá de divertida, rica e uma excelente amostra do tamanho do talento de Chico Buarque, que não para de nos surpreender.

Para ouvir CLIQUE AQUI. 

Fonte: Revista Fórum, por Julinho Bittencourt

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