Duas semanas depois de ter sinalizado que reassumiria o controle das operações no Almoxarifado Jatobá, a Cemig fez exatamente o contrário. Todos os trabalhadores do quadro próprio que ainda auxiliavam no despacho de material no Centro de Distribuição de Materiais foram transferidos na última segunda-feira, 17, para a Cidade Industrial.
“Onde está o diálogo prometido pela nova gestão? Foi um bota-fora, nem o Sindieletro e nem os trabalhadores foram informados com antecedência da decisão”, protestou Ronei Cardoso da Cunha, coordenador da Regional Metalúrgica.
Para o Sindieletro, a medida descabida, imposta justamente quando surgem denúncias de desvios de medidores da Cemig e fraudes no transporte de materiais, comprova que o discurso da direção da empresa é um, mas a prática é outra. Na reunião realizada com a empresa no dia 30 de julho, o Sindicato cobrou que a Cemig revertesse o monopólio do Jatobá. O presidente, Mauro Borges, comprometeu-se a promover a retomada do controle do setor estratégico da estatal.
Desde que a Cemig terceirizou as atividades de logística e o almoxarifado do Jatobá, em 2014, para a Emtel (Empresa de Transportes Apoteose Ltda), o Sindieletro relata irregularidades graves na prestação do serviço. Este ano o Sindicato já noticiou que um medidor desviado do Centro de Distribuição foi encontrado no bairro Padre Eustáquio, em Belo Horizonte, e outro em Brumadinho, numa rede clandestina, em área atendida pela Selt/Remo. A última denúncia aponta que 25 medidores foram encontrados em Betim, sem registro na Cemig, instalados de forma clandestina. Houve também denúncias de fraude em notas fiscais para circulação de mercadoria e constrangimento no acesso de trabalhadores próprios para garantir a contratação de transporte pela Emtel.
O superintendente de Suprimentos, Material, Logística e Serviços da Cemig (MS), Ânderson Neves Cortez, e a gerência de Relações Sindicais foram procuradas para explicar por que a empresa decidiu, de forma arbitrária, realizar as transferências. As ligações e e-mails da reportagem do Chave Geral foram retornadas pelo gerente da MS/LA, José Flávio. Ele afirmou que a medida foi adotada para que a empreiteira possa “operar de acordo com o contrato, sem entra e sai de gente na unidade”. Em relação ao risco de desvio de material e irregularidades, José Flávio disse que fiscais visitam o almoxarifado, mas confirma que não restou ninguém do quadro próprio no despacho no Jatobá.
Com a informação de que o contrato entre a Cemig e a Emtel proíbe a permanência de trabalhadores do quadro próprio no Jatobá, o Sindieletro pediu para ter acesso ao documento, mas não foi atendido. Para o Sindicato, é uma cláusula absurda que, se confirmada, comprovaria a relação descabida entre a empreiteira e estatal na época da assinatura do contrato (2014) e mantida pela atual direção da Cemig.
O Sindieletro pergunta: por que a Cemig não revê o contrato com a Emtel, evitando o monopólio do controle e transporte de materiais pela empreiteira? Para o Sindieletro, é estranho que, enquanto eletricitários da estatal são barrados no Jatobá, trabalhadores da Emtel dirigem veículo da Cemig.
O Sindieletro não aceitará passivamente essa manobra que coloca em risco o patrimônio da Cemig. O Sindicato cobra medidas para reverter a entrega definitiva dos almoxarifados, permitindo que empreiteiras atuem como raposas tomando conta dos galinheiros.