A imprensa mineira repercutiu os dados divulgados na última semana, pela Cemig, sobre as ligações clandestinas de energia (os chamados “gatos”) e fraudes em medidores de consumo de luz no Estado. Desde agosto de 2016, a empresa vem realizando mutirões para detectar as irregularidades, contabilizando os prejuízos para a estatal em R$ 300 milhões anuais. Segundo a Cemig, o furto de energia aumentou 63% em Belo Horizonte, desde agosto do ano passado.
Quando avaliou os motivos de tantos “gatos” e fraudes, a empresa responsabilizou os consumidores e ainda apontou que o problema tem a ver com a “cultura” das pessoas, uma maneira bem leve para não falar em desonestidade, sem contextualizar as políticas de gestão que, a nosso ver, contribuem para o aumento do furto de energia. Nas políticas da estatal, vale lembrar, está a terceirização predatória, que sempre se intensifica à medida que a Cemig desliga eletricitários do quadro próprio.
A crise econômica e até a desonestidade podem ser duas das razões para as pessoas buscarem os “gatos” e fraudes em medidores, pelo desespero da falta de dinheiro, mas não se pode desprezar a terceirização como um grande potencial para que as ligações clandestinas tenham aumento. Vira e mexe, a imprensa, inclusive a comunicação do Sindieletro, divulga notícias sobre o envolvimento de empreiteiras e funcionários com ligações clandestinas. A Cemig transfere para as empreiteiras seus conhecimentos técnicos e operacionais. Sem o controle da terceirização, tudo é possível, desde fraudes em medidores e ligações clandestinas até roubo de mercadorias da empresa, como já denunciamos por diversas vezes.
Em maio de 2013, por exemplo, publicamos uma matéria sobre o flagrante, em Mário Campos, cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte, da existência de um bairro quase inteiro atendido por rede elétrica clandestina. Em dezenas de chácaras, no bairro Bom Jardim, haviam padrões instalados sem medidores e sem conhecimento da Cemig. A Selt Engenharia era a empreiteira que atendia a área onde foi constatada a rede clandestina. A informação foi a de que o projeto da rede irregular tinha financiamento dos moradores das chácaras. E para onde foi o dinheiro? Para a Cemig é que não chegou recurso algum. E, mais: a empresa apurou? Puniu a Selt? Solicitou investigação policial?
Na mesma época também denunciamos que havia outra rede clandestina em área rural de Esmeraldas. Implantar um sistema assim, com padrões de luz e rede elétrica, só pode ser instalado por uma empresa terceirizada.
Na grande imprensa também se publicam várias denúncias de envolvimento da terceirização em “gatos”. Como a do portal R7, em janeiro deste ano, com a manchete: “Serviço de ligação clandestina de energia era oferecido pela internet em MG”, por supostos “técnicos” de empreiteiras. Tamanha ousadia incluiu anúncio na internet para a instalação de 'gato' em um site de compra e venda, inclusive com o telefone para contato. O 'técnico' responsável, preso, até usava uniforme de uma empreiteira a serviço da Cemig.
Outra matéria do mesmo portal informou que três eletricistas de uma prestadora de serviços da Cemig (Remo), e um trabalhador sem vínculo com empreiteira, foram presos por realizar “gatos” em uma peixaria, no bairro Bonfim, em BH. A Polícia Civil apurou que os presos já realizavam ligações clandestinas há um ano.
Quem paga os prejuízos é o povo
Além do prejuízo anual de R$ 300 milhões para a Cemig, os “gatos” e fraudes em relógios de energia impedem que a conta de luz seja 5% mais barata para os consumidores. Quem paga os prejuízos é o povo, pois na política das tarifas de energia as perdas com as irregularidades são rateadas com os clientes, com tarifas mais caras.