Cerca de 55 pessoas acompanharam presencialmente o segundo encontro do curso de Formação Carlos Marighella. A manhã começou com a mística de Carlos Felipe, do Alma Tambor e idealizador do Sarau Preto. “Vocês tão vendo aquela casa pequenina lá no alto da colina que eu mandei fazer? É lá que malandro mora, otário não tem moradia...”, ele canta. Carlos Felipe cita o talento de tantos poetas negros que não são reconhecidos, porém produzem conteúdo de alta qualidade e merecem seu espaço. Ao passar por relatos de sua vida pessoal, inicia a manhã com uma reflexão sobre a necessidade de se reconhecer negro e de estudar a realidade brasileira.
Logo depois, o nosso coordenador-geral, Emerson Andrada, abriu a aula relembrando que “a história, ao longo do tempo, sempre foi utilizada para garantir os privilégios daqueles que eram donos do poder. É a partir da história que se conta de que forma se construiu o mundo que existe. É a partir da história que criam versões sobre as vantagens das pessoas que estão no poder. É preciso ter uma história para justificar o racismo, o machismo, a LGBTfobia. É preciso ter referência para a perpetuação do poder. Porém, quando nos apropriamos da nossa história, damos o primeiro passo para escrever, a partir dali, algo diferente”.
Ele continua: “Nosso passado consolidou uma série de privilégios de uma elite dominante que hoje se revela ultraliberal. No entanto, nosso passado nos ajuda a compreender de que forma nosso povo sobreviveu até hoje, e de que forma vamos virar a página para construir uma história do povo”.
Aula II: História das lutas populares, sindicais e socialistas: dos quilombos ao sindicalismo da CUT
O professor convidado foi o historiador, ex-assessor de formação da CUT nacional e militante do Movimento Brasil Popular Paulo Henrique Lima. Paulo iniciou sua fala desconstruindo um mito: “Há um conjunto de mitos que são difundidos, divulgados cotidianamente, sobre o que é o povo brasileiro. O primeiro mito que queremos desfazer hoje: que o povo brasileiro é um povo pacífico. É um mito difundido para tentar pacificar o povo brasileiro e de uma forma subordinada, para manter uma dominação”, explicou.
Paulo seguia explicando as lutas populares no Brasil desde a colonização até os dias de hoje. A linha temporal seguiu o histórico das conquistas europeias e a expansão ultramarina, passando pelas conquistas nas américas, nos territórios ao longo da costa africana e no continente asiático. Abordando temas como o colonialismo e o capitalismo na Europa, Paulo abordou os confrontos entre os povos originários e os europeus – no nosso caso, os portugueses. Daí, surge o conceito de escravismo colonial.
De onde veio a concepção da escravidão? Como afetou os meios de produção? O debate do racismo moderno passa pela constituição de família, explica Paulo. Ele cita Jacob Gorender, historiador, escritor e cientista social: “O processo de humanização do escravizado e da escravizada é a partir do crime. Antes disso, ele é só mais uma engrenagem dentro do escravismo colonial”.
Linha do tempo abordada na aula II (1530 – 2023):
| 1530: A partir dos confrontos entre povos originários e europeus colonialistas, surgiram as lutas populares.
| Lutas populares no período colonial: Confederação dos Tamoios, Guerras bárbaras – Criação dos quilombos – Séc. XVI. (A ideia era fugir da escravidão e constituir os quilombos, fugindo para o interior, geralmente. O Quilombo dos Palmares teve mais de um século de existência; foi destruído a partir da ação dos bandeirantes.)
| Movimentos políticos (séc. XVIII): Rebelião de Vila Rica (contra a superexploração mineral), Inconfidência mineira, Revolta dos Alfaiates.
| Independência: fim do estado colonial, porém com manutenção da escravidão e plantation; lógica de acumulação de capital, estabilização da burguesia colonial e da monarquia.
| Lutas pela república e abolição: Confederação do equador, Revolução Farroupilha, Revolta dos Malês, Balaiada, Praieira, etc.
| 1850: Fim do tráfico transatlântico e implementação da lei de terras; Abolição gradual (com as leis do Sexagenário e Ventre livre) – Criação de grupos de abolicionismo radical (Caifazes, por Luiz Gama).
| 1888: Abolição da escravidão.
| 1889 – 1930: República – Várias revoltas de messianismo popular, banditismo social (cangaço), tenentismo e 1ªs greves operárias (do porto, por estivadores; contra a escravidão, pelos jangadeiros).
| 1917: Primeira greve geral do país; Semana de Arte Moderna, surgimento do Partido Comunista.
| Década de 30: Industrialização.
| 1930 – 1964: Era Vargas – Lutas estudantis, boom das universidades (para atender à industrialização do Brasil), lutas camponesas e lutas operárias.
| 1964 – 1985: Golpe militar e ditadura.
| 1988: Ressurgimento das lutas operárias
| 1990: Instauração do sindicalismo cutista
|1990 – 2023: Sindicalismo moderno
“Precisamos nos preparar para, caso esses interesses confrontados queiram golpear novamente a democracia, nós tenhamos a capacidade de resistir”, finaliza o historiador Paulo Henrique Lima. O diretor de Formação, Geovan Aguiar, encerrou a atividade dialogando sobre a importância de estarmos unidos para as lutas que enfrentaremos nesse próximo período. Geovan trouxe uma reflexão sobre a organização e a unidade de nossos inimigos, concluindo que esse é o momento no qual precisamos superar as divergências para enfrentarmos o antagonismo que representa o governo Zema em Minas Gerais.
Ao fim de mais um rico encontro, recebemos mais intervenções de Carlos Felipe e da rapper W7. Em breve, divulgaremos os vídeos!
Assista à aula completa:
Nosso próximo encontro é no dia 6.5.23, para a aula sobre Trabalho de base e construção da luta sindical, com o economista, educador popular e assessor técnico do Dieese Thomaz Jensen. Até lá!