As reivindicações dos bancários, que iniciaram campanha salarial há 15 dias, inclui uma pauta específica sobre assédio sexual na categoria. Pela proposta, as denúncias seriam apuradas por meio de uma comissão bipartite, formada por representantes dos sindicatos e das empresas, garantido o sigilo das vítimas. O tema voltou a ser lembrado com o episódio envolvendo o agora ex-presidente da Caixa Pedro Guimarães, acusado de assediar funcionárias.
De aproximadamente 400 mil trabalhadores no setor financeiro em todo o país, quase metade (49%) são mulheres. Na base do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, essa participação sobe para 51%.
A atual convenção coletiva da categoria tem cláusulas de combate à violência de gênero. Isso permite, por exemplo, realocação para outro setor do banco. Além de determinar que as empresas façam comunicados internos sobre modalidades de violência doméstica e familiar contra a mulher.
Canal de denúncia
“Toda denúncia de assédio sexual deverá ser protocolada pelo superior hierárquico do assediador, com cópia para o sindicato para acompanhamento”, afirma a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região, Ivone Silva, uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários. “Temos um canal interno em que recebemos denúncias de casos de assédio, onde o bancário sabe que sua identidade está preservada”, acrescenta.
Em 2019, o sindicato de São Paulo criou um programa (““Basta! Não irão nos calar!”) com o objetivo de dar suporte a vítimas de abuso sexual, assédio moral e sexual, e violência de gênero. Desde sua implementação, o programa atendeu 282 mulheres que sofrem violência de gênero, com 123 medidas protetivas.
Na última terça-feira (28), a UNI Américas (representação local do sindicato global) realizou em Fortaleza a 23ª Conferência Regional de Mulheres. O principal tema foi o combate ao assédio sexual e à violência contra a mulher no locais de trabalho. A UNI Global Union, que reúne 150 entidades no mundo, está em campanha pela ratificação da Convenção 190 e da Resolução 206 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para o combate à violência nos locais de trabalho e doméstica.
Rita Berlofa: “Guimarães foi demitido pelas mulheres”
A secretária da Mulher da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Fernanda Lopes, citou o projeto “Basta!”, que passou a ser adotado por outros sindicatos da categoria. “Trata-se de um projeto inovador e fundamental. Esperamos que essa experiência seja adotada em todo o Brasil.”
Assim, a direção da Contraf-CUT tem 40% de mulheres na direção. “Essa foi uma luta árdua e vitoriosa das bancárias brasileiras. Temos que garantir maior participação das mulheres nas entidades sindicais. É um processo importante de empoderamento, de formação política e de renovação do movimento sindical, porque a contribuição das mulheres e a entrada de sindicalistas jovens é um passo importante para a reinvenção e atualização da organização dos trabalhadores e trabalhadoras”, afirma a secretária-geral do sindicato de São Paulo e vice-presidenta da UNI América Mulheres, Neiva Ribeiro.
Presidenta da UNI Finanças Mundial e secretária de Relações Internacionais da Contraf-CUT, Rita Berlofa foi entrevistada por Talita Galli na TVT. Além do encontro regional, ela comentou a notícia sobre o ex-presidente da Caixa. “Não existe violência maior do que o assédio sexual. Foi bastante impactante saber que o presidente de uma entidade comete essa barbaridade”, declarou. “Apesar de ele ter pedido demissão, nós entendemos que ele foi demitido, sim. Ele foi demitido por nós, mulheres.” Assista aqui e entrevista de Rita à TVT. A UNI defende que o Brasil ratifique uma resolução da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Convenção 190, que trata da violência contra a mulher.
Fonte: Rede Brasil Atual